Repórter de Cotidiano / vfernandes@redegazeta.com.br
Publicado em 17 de setembro de 2021 às 05:58
Foram 5 horas de cerco policial à casa do advogado Hugo Miguel Nunes, 37 anos, em Fradinhos, Vitória, na noite desta quinta-feira (16). A Polícia Civil tentava cumprir um mandado de prisão em aberto por tráfico de drogas. Como ele conseguiu fugir, já é considerado foragido. Hugo era responsável pela defesa da advogada Márcia Borlini Marim Sanches, presa por ameaçar testemunhas um dia antes.
A polícia chegou a casa do advogado por volta das 18 horas. Informações obtidas pelo repórter Caíque Verli, da TV Gazeta, são de que viaturas cercaram a casa e drones ajudaram a monitorar a região. Membros da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil no Espírito Santo (OAB-ES) acompanharam a ação. Apesar das muitas tentativas, a família não permitia a entrada na casa.
Policiais informaram aos familiares do advogado que permaneceriam no local até as 6 horas desta sexta-feira (17), quando, por lei, poderiam entrar na residência do advogado e efetuar a prisão. Mas, às 23 horas, a família autorizou a entrada do delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) de Guarapari, que conduzia a ação, da equipe de policiais que o acompanhava, e dos representantes da OAB-ES. Foi quando constataram que o advogado tinha fugido.
"Acreditamos que ele tenha voltado a morar com a família, mas ao ser confrontado pela imprensa e tomado ciência de que a sua condição de foragido seria divulgada, ele empreendeu fuga de novo. Tentamos impedir, mas só chegamos ao local no início da noite, quando seria questionável a entrada na residência e a família obstaculizou o trabalho policial até as 23h, tempo para que ele chegasse a um local mais distante sem ser perseguido", explicou o delegado.
Guilherme Eugênio Rodrigues ponderou ainda que, se a polícia tivesse entrado na casa por volta das 18 horas e constatado que Hugo não estava no local, teria iniciado uma diligência para impedir a fuga. Lembrou, ainda, que este tipo de prisão, por se tratar de um advogado, depende da presença de representantes da OAB-ES, e ainda exigia muita atenção, já que Hugo possui armas. "Fato apontado pela investigação e confirmado por seus familiares", explicou.
Na tarde desta quarta-feira (15), Hugo concedeu entrevista para A Gazeta sobre a situação da Márcia. E na tarde desta quinta-feira (16), ao ser novamente procurado pela reportagem, o advogado informou que tinha renunciado à defesa da advogada. Informou, ainda, que não queria se manifestar sobre o mandado de prisão que existia contra ele.
O processo a que Hugo responde, por tráfico de drogas, tramita na Justiça de Minas Gerais. A maior parte das investigações está em segredo de Justiça, mas A Gazeta conseguiu apurar que elas foram iniciadas a partir de uma apreensão de drogas ocorrida em uma cidade do interior de Minas Gerais cujo destino era o Espírito Santo.
A apuração que se seguiu mostrou relações de criminosos levando informações para presídios capixabas, envolvendo ainda a participação de advogados. A prisão preventiva de Hugo foi solicitada e concedida. Fato semelhante ao que foi identificado, posteriormente, na Operação Armistício, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Espírito Santo.
No andamento processual, que consta no site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), há informação de que Hugo entrou com uma solicitação de revogação da prisão preventiva, pedido negado pelo juiz Maurílio Cardoso Naves. Na decisão é dito que o processo refere-se a uma “investigação policial relacionada à existência de organização criminosa voltada para o tráfico de drogas.” Ele já havia pedido um habeas corpus contra a prisão preventiva, que também havia sido negado.
É informado na decisão judicial que Hugo e outros advogados foram apontados em investigação policial como responsáveis pela comunicação de dois presos recolhidos em unidade de segurança máxima do Espírito Santo com o público externo.
Maurílio Cardoso Naves
Juiz de direito em MGA tipificação penal constante no mandado de prisão é a Lei: 11343, art. 33, tráfico de drogas. No documento é dito: “O(a) Dr(a) Juiz(a), que assina o presente mandado de prisão, da Vara e Comarca que constam na presente ordem, manda a qualquer oficial de Justiça de sua jurisdição ou qualquer autoridade policial competente e seus agentes, a quem for apresentado, que prenda e recolha a qualquer unidade prisional, à ordem e disposição deste juízo, a pessoa indicada e qualificada na presente ordem”.
Em outubro do ano passado foi realizada uma ação conjunta da Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) e da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). A operação visava cumprir quatro mandados de prisão preventiva e seis mandados de busca e apreensão contra advogados suspeitos de ligação com organizações criminosas que atuam no tráfico de drogas nos dois Estados.
Entre eles estava Hugo Nunes. “Ele não foi preso por não ter sido localizado”, explicou o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) Guarapari.
A ação foi uma junção da Operação Vade Mecum, da Delegacia Especializada de Narcóticos (Denarc) Guarapari, e da Operação Marcos 4:22, da 4ª Delegacia de Polícia Civil de Muriaé, em Minas Gerais. Atuaram cerca de 30 policiais, entre equipes da PCMG, da Denarc Guarapari, da Superintendência de Polícia Regional Metropolitana (SPRM) e da Superintendência de Polícia Especializada (SPE).
Na tarde desta quinta-feira (15), ao ser procurado pela reportagem, o advogado Hugo Nunes informou haver renunciado à defesa de Márcia e que não mais se manifestaria sobre o processo.
Em relação ao mandado de prisão que existe contra ele, disse preferir não se manifestar. “Estou sob muita pressão. Já está tudo resolvido, caso contrário, eu seria preso. Só tentei ajudar e estou sendo perseguido”, disse.
Em entrevista concedida nesta quarta-feira (14), Hugo disse haver uma perseguição contra advogados no Espírito Santo. “O que acontece no Espírito Santo é uma verdadeira perseguição aos advogados, porque o Judiciário capixaba está utilizando da prisão preventiva como punição aos advogados, antecipando pena condenatória”, explicou.
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