
A Copa do Mundo de Clubes, nos Estados Unidos, é a atração esportiva do momento. E as marcas de apostas on-line estão aproveitando essa onda de atenção para ganharem ainda mais visibilidade global: reportagem da Folha de S.Paulo contabilizou que nove times dos 32 participantes carregam na camisa uma bet como patrocinadora principal.
Como se vê, não é fácil para um torcedor escapar desse canto da sereia dos novos tempos, capaz de unir a paixão por futebol com a promessa de dinheiro fácil.
O que está em jogo com a disseminação dessas casas de apostas digitais, das quais até os maiores craques da bola atuam como influenciadores, vai muito além do futebol. Nem se fala aqui dos esquemas de fraudes já revelados, para beneficiar parentes de jogadores. O que causa mais apreensão é quem está do lado mais frágil dessa relação comercial, o apostador que aos poucos é tragado para o vício em jogos, comprometendo a própria vida pessoal e profissional.
A reportagem deste jornal mostrou que a ludopatia tem feito vítimas no Espírito Santo. De janeiro de 2024 a abril de 2025, foram quatro afastamentos por auxílio-doença no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), três deles por jogo patológico e um por mania em jogos e apostas. Importante ressaltar que essas condições são reconhecidas pela Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Pode parecer pouco, e minimizar esses casos vai ter um preço alto mais à frente. No Brasil, o número é mais expressivo, com o INSS concedendo, de junho de 2023 a abril de 2025, 276 auxílios-doença nessas categorias. Antes disso, a média anual era de 11 casos. O apelo da publicidade, em todos os lugares possíveis, podem agravar esse que já é considerado um problema de saúde pública.
Taxar mais, proibir, criar mecanismos limitadores... as vozes contrárias às bets têm seus argumentos e suas propostas, mas não parecem mais potentes do que o lobby da jogatina do Brasil. Há uma lista de bets autorizadas no país desde o ano passado, e elas precisam cumprir uma série de requisitos para operar por aqui.
Mas o drama de quem não consegue sair dessa roleta sem fim precisa mobilizar a sociedade a exigir, ao menos, mais contrapartidas que garantam a segurança financeira dos apostadores. Definitivamente, o país não pode continuar pagando para ver até onde as pessoas conseguem se controlar.
LEIA MAIS EDITORIAIS
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.