Poder público deve dar o exemplo para exigir o distanciamento social

Quando a lei que impera é a do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", seja qual for a esfera pública, fica mais difícil conseguir o engajamento da sociedade

Publicado em 22/04/2020 às 06h00
Atualizado em 22/04/2020 às 06h00
Público na Farmácia Cidadã do Governo Estado na Avenida Luciano das Neves, em Vila Velha. No interior do prédio os usuários esperavam sentados distantes um do outro por causa do coronavírus.
Público na Farmácia Cidadã do Governo Estado na Avenida Luciano das Neves, em Vila Velha. Crédito: Carlos Alberto Silva

O distanciamento social continua na ordem do dia, com governantes mantendo com seriedade determinações mais drásticas para controlar o contágio do novo coronavírus. O comércio permanece fechado, e até mesmo os serviços essenciais que têm permissão para atuar, como os estabelecimentos do setor supermercadista, estão com regras mais rígidas para o funcionamento, com a limitação de entrada de clientes. Com tantas restrições, era de se esperar que os atendimentos que envolvem o serviço público também seguissem as recomendações preconizadas pelas autoridades, mas o que tem sido testemunhado em todo o país e no Espírito Santo é um descuido quase sistêmico.

As longas filas nas agências da Farmácia Cidadã são exemplos dessa falta de organização, sem que haja qualquer controle do distanciamento exigido para garantir a segurança dos usuários. Os locais costumam ser frequentados por idosos e pacientes crônicos, em busca de medicação. Acentua-se o perigo para a saúde já fragilizada. Em março, quando o governo estadual começou a impor as medidas restritivas em função da pandemia, foi anunciado que o atendimento seria feito exclusivamente por agendamento. Alguma coisa deu errado, e é preciso investigar em qual fase do processo há falhas.

A corrida pelo auxílio emergencial de R$ 600, que vai garantir a sobrevivência de quem ficou sem renda com a paralisação da atividade econômica, também tem provocado aglomerações. Em municípios do Norte do Estado, como Linhares e São Mateus, filas colossais foram registradas na semana passada. As autoridades ainda pecam, sem conseguir oferecer uma estratégia que faça o dinheiro chegar ao bolso do trabalhador sem colocar a sua saúde em risco.

O transporte público também tem sido uma dor de cabeça, mesmo que, oficialmente, a redução da frota tenha acompanhado a redução da demanda. O governo estadual prorrogou até 17 de maio as medidas de proteção no Sistema Transcol, como a retirada de ônibus com ar-condicionado de circulação, mas sem mencionar a limitação no número de passageiros. Ao menos, garantiu que será feita a distribuição de um milhão de máscaras aos usuários. A superlotação, que é um problema crônico no sistema de transporte, com a pandemia passou a colocar a saúde dos usuários em risco, mesmo com as devidas medidas de higienização.

A cautela que está sendo exigida da iniciativa privada deve ter espelho no poder público. O exemplo deve vir sempre de cima, de quem detém o poder decisório. Quando a lei que impera é a do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", seja qual for a esfera pública, fica mais difícil conseguir o engajamento da sociedade para essa batalha. O compromisso com o distanciamento social deve ser de todos.

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