> >
Quarentena? Lockdown? Distanciamento social? Saiba a diferença

Quarentena? Lockdown? Distanciamento social? Saiba a diferença

A médica infectologista Rubia Miossi explica três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado e bloqueio total

Publicado em 9 de abril de 2020 às 16:22

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Distanciamento social
Distanciamento social. (Pexels)

Com o aumento dos casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, e diante da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sentido da autonomia dos Estados e municípios para adotar medidas de isolamento social, surge a dúvida do que exatamente este isolamento significa e de quais seriam as diferenças entre os termos que vêm sendo utilizados, como "quarentena", "lockdown" e "distanciamento social".

Para explicá-los, a médica infectologista Rubia Miossi fala em três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado e bloqueio total, ou lockdown em inglês, que vem sendo chamado popularmente de quarentena.

Quarentena, Lockdown,Distanciamento social, Saiba a diferença

  • Distanciamento social seletivo: ficam em casa os grupos sociais com maior risco de adoecimento grave, com maior risco de morte, bem como as pessoas que tiveram exames positivos para a Covid-19. Estas pessoas ficam em isolamento domiciliar por 14 dias, caso não precisem ser internadas.

Idosos estão no grupo de risco para o contágio da Covid-19
Idosos estão no grupo de risco para o contágio da Covid-19. (Pixabay)

O QUE O DISTANCIAMENTO SELETIVO EXIGE

  • 01

    Testes

    Para que aconteça o distanciamento seletivo, a especialista afirma que é preciso haver número de testes suficientes para verificar o máximo de pessoas com sintomas. "Sabemos que ainda não temos essa disponibilidade", disse.

  • 02

    Casas adequadas

    Outro aspecto a ser considerado é que a casa onde estas pessoas estejam seja adequada, por exemplo com quartos separados. "Não é a realidade social brasileira, já que há muitas residências pequenas com muitas pessoas. A situação brasileira complica a aplicação deste tipo de distanciamento, que também já foi chamado de isolamento vertical. O nome mais adequado é distanciamento social seletivo", recomendou.

  • 03

    Seguir à risca

    Também é necessário que as pessoas sigam à risca. "As pessoas têm muita dificuldade de cumprir isso, então acaba sendo um mecanismo muito frágil para controlar a doença. O Reino Unido, por exemplo, adotou por um tempo e não deu certo, explodiu o número de casos", relatou.

  • Distanciamento social ampliado: é o que vem sendo feito no Espírito Santo. A recomendação é que todas as pessoas fiquem em casa, não só quem tenha testado positivo para a doença. Só saem de casa quem precisa trabalhar nas áreas consideradas essenciais.

Áreas consideradas essenciais deixam às casas para trabalho presencial durante distanciamento ampliado
Áreas consideradas essenciais deixam às casas para trabalho presencial durante distanciamento ampliado. (Pixabay)

 O QUE O DISTANCIAMENTO AMPLIADO EXIGE

  • 01

    Cumprimento total

    Também pressupõe o cumprimento. "Este método é mais efetivo, já que reduz a circulação de pessoas e consequentemente o contato e o contágio. O distanciamento social ampliado diminui a velocidade da propagação da doença. O maior problema desta modalidade é o fator econômico, que vem sendo tão debatido", explicou.

  • Bloqueio total ou lockdown: consiste em fechar tudo, inclusive serviços essenciais, mantendo abertos apenas farmácias, supermercados e hospitais. Há, neste caso, necessidade de autorização, muitas vezes por parte das autoridades policiais, para sair de casa. "É como em um toque de recolher. Já é bem mais extremo, para quando o número de casos está descontrolado e o sistema de saúde já não dá conta. Serve para tentar parar a evolução da pandemia", afirmou.

Farmácias populares podem entregar em domicílio, decide TRF
Farmácias se mantêm abertas durante lockdown. (Elza Fiúza | Agência Brasil)

"NÃO É EFETIVO EM CURTO PRAZO"

Apesar de mais extremo, o bloqueio total não se apresenta como melhor opção em curto prazo, segundo a especialista Rubia Miossi. Além da situação econômica, que é bastante atingida, os primeiros resultados do lockdown aparecem a partir da terceira semana de aplicação. "As pessoas adoecem e acabam contaminando quem está com elas no domicílio", relatou.

A proposta de bloqueio funcionaria adequadamente caso partisse de um distanciamento ampliado em que o número de casos confirmados da Covid-19 já tivesse esgotado o sistema de saúde. "Neste caso o bloqueio funcionaria, porque as pessoas já estariam em casa mesmo", ressaltou a médica.

A IMPORTÂNCIA DAS DIVERSAS ÁREAS

De acordo com Miossi, o mais importante é saber que nenhum dos três conceitos precisa seguir a sequência para ser aplicado. Existem lugares que, por exemplo, não necessitam de lockdown, que tenham sistema de saúde muito bem equipado "Acredito que nenhum país tenha essa condição, acabou que todos acabaram correndo atrás do prejuízo depois", opinou.

Na visão da médica, não é apenas uma autoridade que define a medida mais eficaz a ser tomada, mas devem ser levadas em consideração as várias áreas de conhecimento. "Não é uma decisão que o governador toma sozinho, ele deve ser assessorado por experts de várias áreas. Só conseguimos entrar na fase atual sem esgotamento do sistema porque temos feito o distanciamento ampliado há três semanas. É agora que vamos ver mais casos graves e o sistema de saúde vai começar a se esgotar", disse.

Para ela, o distanciamento ampliado ainda é o método necessário e a sociedade precisa estar consciente de que não daria certo aplicar o distanciamento seletivo por enquanto. "A não ser nos municípios em que menos de 50% das vagas ocupadas. Mais do que isso já não dá. Este é o momento de cumprir as medidas orientadas pelos agentes de saúde, não importando a opinião pessoal de cada um. Devem ser ouvidos os especialistas, devemos obedecer, mesmo discordando", pontuou por fim.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais