Papai Noel dos deputados é mais generoso que o da população

Se o benefício já era constrangedor antes, o 13° do tíquete-alimentação vem para fechar o ano com ainda mais desfaçatez. A população capixaba é quem paga esse presente

Publicado em 18/12/2023 às 01h00
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Sede da Assembleia Legislativa do ES. Crédito: Carlos Alberto Silva

Há muita controvérsia quando se canta que "Papai Noel não se esquece de ninguém", mas em alguns casos o bom velhinho parece se lembrar demais de alguns privilegiados. No mesmo ano em que os deputados estaduais, por unanimidade, engordaram os próprios vencimentos com um vale-alimentação de R$ 1,8 mil, eles também terão direito a um décimo terceiro do benefício, com o mesmo valor.

Quando foi aprovado, em abril, o tíquete já era pago mensalmente aos servidores da Casa e foi estendido aos parlamentares. Afinal, um salário de R$ 31.238,19 brutos não parecia suficiente. Se, na ocasião, ficou determinado que cada deputado deveria fazer a solicitação do benefício para recebê-lo, uma resolução aprovada recentemente pelo plenário determinou que o auxílio deve ser pago aos parlamentares da mesma forma que é feito ao servidores, ou seja, automaticamente. Quem não quiser receber, pode recusar.

Foram dois presentes em um, já que foi a mesma resolução que determinou o 13º para deputados e servidores. Estes, inclusive, já iriam receber um abono de R$ 1 mil.

Tudo bem justificado pelo presidente da Casa, Marcelo Santos, em entrevista à colunista Letícia Gonçalves: "Nós alcançamos uma economia de R$ 2,2 milhões, fruto da nossa gestão, e eu fiz uma bonificação aos servidores".

Ora, uma economia que não tem impacto algum para o contribuinte, visto que o dinheiro foi redirecionado com benefícios. Pior ainda, com os próprios parlamentares, com seus salários bem superiores aos dos pobres mortais. Um tíquete de R$ 1,8 mil é bem mais que a previsão do salário mínimo de 2024, que pode chegar a pouco mais de R$ 1,4 mil. Os deputados precisam se conectar com a realidade.

A aprovação do tíquete para os deputados foi duramente criticada na época, pela forma sorrateira como se deu, como se a atividade parlamentar não devesse ser cercada de transparência. A população, razão maior da existência da Assembleia Legislativa, foi tratada como figuração, quando os seus interesses devem ser os protagonistas. 

Se o benefício já era constrangedor antes, o 13º do tíquete-alimentação vem para fechar o ano com ainda mais desfaçatez. A população capixaba é quem paga esse presente.

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