A gota d'água que representa o extravaso volta a cair a cada novo crime brutal. Mais de mil mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil em 2025, e os casos mais recentes em diversas partes do país vieram como um rolo compressor: não que antes a situação não estivesse grave o suficiente para as mulheres brasileiras, mas não dá mais para continuar passando de todos os limites a cada nova morte brutal sem algum tipo de reação organizada.
As manifestações que ocorreram em mais de 20 capitais do país, Vitória entre elas, neste domingo (7) foram um grito de socorro, mas sobretudo sinalizaram que a indignação represada precisa ganhar novas formas de ação. Contudo, por mais que elas tenham chamado a atenção, ficou a sensação de que o barulho poderia ter sido mais estridente, com mais volune. Ora, o fim da violência de gênero é uma pauta civilizatória e humanitária, daquelas que deveriam ser tratadas como irrevogáveis. Uma agenda que deveria estar acima de partidos e ideologias, mas ainda não consegue unir o país.
Chegamos a um ponto que não bastam leis mais duras, embora também sejam necessárias. No ano passado, a pena para feminicídio subiu para 40 anos, a maior prevista no Código Penal. Há quase 20 anos, a Lei Maria da Penha foi sancionada e promoveu avanços na proteção de mulheres vítimas de violência. Há dez anos, a Lei do Feminicídio também foi uma conquista legislativa para dar o devido peso aos crimes de gênero.
Ganhamos mais armas como sociedade, mas não conseguimos vencer a guerra.
A falta do engajamento masculino é sentida, faz falta. Pelas imagens das manifestações deste domingo, inclusive em Vitória, ficou perceptível a pouca participação deles. E a adesão deveria ser total, os homens que se indignam com esse cenário de violência sistêmica contra as mulheres podem fazer a diferença, eles têm um papel importante em várias frentes. A começar, se portando como homens que levantam a voz contra as microviolências, quando na presença de amigos, filhos, pais ou outros que propaguem o machismo em suas diferentes formas.
Neste fim de semana, em Vila Velha, um personal trainer do Rio de Janeiro foi preso por descumprir a medida protetiva pedida pela ex, uma policial penal que se mudou para o Espírito Santo para fugir dele. Chegou ao ponto de enviar a ela um vídeo com ameaças. Um caso que representa bem como se dá a escalada de violência até o último ato, o feminicídio, que felizmente não se concretizou desta vez. Como mudar a conduta desses homens que se enxergam como donos das mulheres?
Não haverá retrocesso da violência contra a mulher sem o envolvimento masculino, tudo depende de uma mudança de mentalidade que passa por cada menino, adolescente ou homem. Cultura se transforma de dentro para fora, com educação e exemplo. O machismo é estrutural, precisa ser demolido pelos próprios homens. Eles precisam aparecer, não como super-heróis, mas como cidadãos aliados da causa feminina. E o que elas querem é ter direitos iguais, inclusive o de viver.
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