Morte de jovem no Sambão deixa a marca da banalidade da violência

Em um dos vídeos gravados no Sambão, visualiza-se a estarrecedora rapidez com que uma briga generalizada descamba para a decisão de atirar contra a cabeça de uma pessoa. Um movimento que é o ápice da violência e muda tudo

Publicado em 03/02/2023 às 00h45
Sambão
Homicídio por arma de fogo ocorrido no Sambão do Povo. Crédito: Vitor Jubini

"Tá lá o corpo estendido no chão". Em qualquer interpretação possível para o demasiadamente brasileiro samba "De frente pro crime", de Aldir Blanc e João Bosco,  a indiferença diante da violência está sempre presente. Em Vitória, em plenos preparativos para o desfile das escolas de samba, a morte brutal do jovem Pedro Henrique Crizanto, de 20 anos, assassinado no meio da multidão com um tiro na cabeça, não passou indiferente aos olhos dos presentes, mas deixou a marca da banalidade da violência.

O crime ocorreu na noite de quarta-feira (1º), durante os ensaios técnicos das escolas de samba do Carnaval de Vitória. O jovem, que era o filho mais velho da vereadora de Vila Velha, Patrícia Crizanto (PSB), encontrou-se no meio de uma confusão generalizada iniciada nos camarotes. Há cenas gravadas por pessoas no local que mostram, inclusive, um homem pedindo que alguém chamasse a polícia. Não deu tempo que houvesse alguma intervenção, e  Pedro acabou morto com um tiro na cabeça.

A Guarda Municipal de Vitória e a Polícia Militar faziam patrulhamento, a primeira no Sambão e a segunda nos arredores, mas poderiam estar de forma mais ostensiva no local.

A morte chocante é um dos episódios mais tristes testemunhados no Sambão do Povo, desde a sua inauguração nos anos 80. Em uma pesquisa nos arquivos de A Gazeta, há o registro do assassinato de um mestre de bateria da Escola de Samba Originais do Contorno, de Santo Antônio, em fevereiro de 1989. A vítima havia acabado de desfilar e foi morto em um bar na Avenida Santo Antônio, nas imediações da passarela do samba capixaba.

O carnaval, sobretudo para as comunidades, é a oportunidade de extravasar, de mostrar com orgulho as belezas produzidas coletivamente. O samba é o motor de tudo. É lamentável que um homicídio brutal tire o brilho de uma noite que era para ser só de alegria, o ensaio para a grande noite.

E infelizmente tem se tornado cada vez mais comum que locais destinados ao lazer se transformem em ambientes de terror, como no último sábado, quando um homem fez disparos dentro do banheiro de um restaurante em um shopping de Vila Velha. Felizmente, não houve vítimas.

Há armas demais disponíveis, adquiridas de forma legal ou não por pessoas que não estão preparadas para portá-las.  Um maior controle tornou-se uma urgência diante da escalada de violência, com a solução de conflitos levadas às últimas consequências quando se tem uma arma disponível. O Ministério da Justiça e Segurança Pública abriu prazo de 60 dias para que proprietários  registrem  armas de uso permitido ou restrito no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), gerenciado pela Polícia Federal, sob o risco de serem consideradas ilegais. Outro desafio é o de desarmar os criminosos.

Em um dos vídeos gravados no Sambão, visualiza-se a estarrecedora rapidez com que uma briga generalizada descamba para a decisão de atirar contra a cabeça de uma pessoa.  Um movimento que é o ápice da violência e  muda tudo: faz uma mãe e um pai chorarem a perda de um filho, assusta as pessoas que estavam ali para celebrar a vida e entristece o carnaval. A morte não pode continuar sendo banalizada, o silêncio não pode continuar servindo de amém.

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