Até quando vamos precisar da palavra "reconstrução" quando chove?

A repetição do caos das chuvas no ES já deixou de ser um alerta: é a confirmação de que algo precisa ser feito, urgentemente

Publicado em 03/03/2020 às 05h00
Atualizado em 03/03/2020 às 05h02
Escolas e veículos que transportam estudantes ficaram destruídos em Vargem Alta durante as chuvas de janeiro. Crédito: Fernando Madeira
Escolas e veículos que transportam estudantes ficaram destruídos em Vargem Alta durante as chuvas de janeiro. Crédito: Fernando Madeira

As águas de março em 2020 estão trazendo com a enxurrada os traumas dos meses anteriores, principalmente no Sul do Estado. Em Vargem Alta, a situação da Escola Municipal Alzira Gomes é o símbolo da impotência: ainda se recuperava dos danos causados pela chuva do início do ano quando o temporal deste fim de semana destruiu tudo novamente.

A escola ainda passava por reformas e havia acabado de adquirir mobiliário novo, para dar início às aulas. Prejuízo em dobro, com a trágica perspectiva de não ser um assunto encerrado. Por isso mesmo, a própria permanência desta unidade neste local deveria ser revista. Do que adianta investir em reformas e na compra de móveis quando se sabe que é questão de tempo para que tudo se perca novamente?

Um déjà vu assustador também sentido por moradores de cidades como Iconha e Alfredo Chaves, onde pontes que haviam sido reconstruídas em caráter emergencial novamente ruíram. As marcas das enchentes de janeiro ainda se fazem presentes, literalmente, em prédios e casas das cidades. Formam-se, assim, novas feridas sobre aquelas que ainda não haviam sido cicatrizadas.

A recorrência tem inúmeras razões, não há um único culpado. Enquanto a força da natureza segue indomável, a inércia estatal também tem suas responsabilidades. Como em Cariacica, um dos municípios que mais sofreram com as chuvas de domingo (1º) e segunda-feira (2). Por lá, regiões que nunca sofreram com alagamentos ficaram completamente submersas. Mas em muitas localidades as cenas foram apenas de repetição de outras tempestades.

“Entra ano e sai ano, é a mesma coisa. Tem uma galeria aqui embaixo, entope toda vez, um bolsão que recebe água de todos os morros, e não tem solução para o nosso problema. É a segunda vez que eu perco meu salão”, lamentou a empresária Karina Huguinin à TV Gazeta, diante dos prejuízos em seu salão de beleza, em Campo Grande.

Se faltam obras para conter as águas e ações mais enérgicas, como a retirada de moradores de áreas de risco, há também a contribuição da própria população para que tragédias assim tenham uma recorrência cada vez mais impressionante.

Como ressaltou o colunista Leonel Ximenes, é um caos anunciado quando rios e canais que cortam as cidades se transformam em depósito de lixo. Somente em Vila Velha, em dois dias, foram retiradas por equipes de limpeza 36 toneladas de materiais descartados dos canais do município. Até geladeira e sofá foram encontrados.

Os centros urbanos ocuparam os leitos dos rios indiscriminadamente, tornando quase impossível um recuo a esta altura. Mas não é, com planejamento e empenho é possível começar buscar soluções para minimizar o impacto das águas. A repetição do caos e das catástrofes naturais já deixou de ser um alerta: é a confirmação de que algo precisa ser feito, urgentemente, para que “reconstruir” deixe de ser o verbo mais repetido quando chove.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.