A "Covid-19 eleitoral" no ES expõe o contágio do mau exemplo

Está difícil encontrar alguém na campanha eleitoral que consiga dar o exemplo durante a pandemia. Na eleição do bom senso, parece não haver vencedores

Publicado em 03/11/2020 às 05h00
Urna eletrônica ao fundo com itens necessários para votar em 2020: documento com foto, álcool em gel, caneta e máscara.
Kit eleições 2020: documento, álcool em gel, caneta e máscara. Crédito: Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE

Tem sido exaustivo exigir compostura do presidente da República desde o início da pandemia, porque o negacionismo de Jair Bolsonaro não encontrou limites, nem mesmo quando assumiu publicamente ter sido contaminado pelo novo coronavírus. As críticas ao presidente no auge da crise sanitária foram justíssimas, por ser totalmente contraproducente um país estar em guerra contra uma doença que mata em escala exponencial enquanto a liderança máxima dessa batalha se envolve em aglomerações com apoiadores e desdenha do uso da máscara em nome de certa liberdade individual que ignora o bem comum.

Pois bem, Bolsonaro está atravessando o ano de 2020 sendo acusado, com razão, de ser um mau exemplo. Mas a campanha eleitoral tem feito o papel de reforço negativo de tudo o que foi preconizado como elementar para a segurança sanitária. No Espírito Santo, candidatos dos mais distintos partidos e colorações ideológicas têm ignorado solenemente a pandemia, ainda longe de ser superada, desde as convenções, em setembro. No auge da campanha, comícios com milhares de apoiadores, sem distanciamento social e, para piorar, colocando em voga uma máscara transparente com forte apelo estético, mas com confiabilidade contestada por especialistas.

Não vale nem a pena citar os nomes de candidatos e de políticos que,  desde a semana passada, estão divulgando em sequência terem testado positivo para a doença. Isso porque o resultado positivo não redime os que estão saudáveis e também têm se exposto ao risco, basta conferir os vídeos e as fotos divulgados pela maioria, como material oficial.

As atividades das campanhas municipais em terras capixabas tornaram-se verdadeiros "covidários", neologismo que já caiu no gosto popular para definir espaços nos quais a irresponsabilidade das pessoas é propícia à disseminação do vírus. A irresponsabilidade, nesses casos, recai sobre pessoas que almejam cargos eletivos nos quais serão modelos de comportamento para os munícipes. Mas já estão queimando a largada.

Os candidatos a prefeito ou a vereador precisam se lembrar que, caso passem pelo crivo popular neste mês de novembro, assumirão seus postos com a pandemia ainda nos calcanhares, isso em uma perspectiva otimista. Como serão capazes de liderar medidas duras, dando esse exemplo nas campanhas? O Espírito Santo conseguiu frear o contágio nos últimos meses, mas o relaxamento que tem sido testemunhado em todos os setores sociais traz consigo um risco de recrudescimento que não pode ser desconsiderado, acima de tudo por quem ficará responsável pela administração municipal.

Lamenta-se que o governo estadual, mesmo com a imposição por decreto da proibição de comícios e passeatas, tenha feito vista grossa para as movimentações eleitorais tão arriscadas não só para os candidatos, mas para os eleitores e apoiadores no entorno deles. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) deve cumprir seu papel fiscalizador e penalizar quem descumpre uma regra tão óbvia em um ano eleitoral tão atípico. Está difícil encontrar alguém que consiga dar o exemplo. Na eleição do bom senso, parece não haver vencedores. 

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