Publicado em 15 de julho de 2021 às 15:31
A Samarco, mineradora controlada pela Vale e pela BHP Billinton e que está em processo de recuperação judicial desde abril, fechou um acordo para renegociar R$ 130 milhões em dívidas com o governo federal. Como A Gazeta mostrou, a empresa vem travando uma disputa com credores que ameaça o pagamento de indenizações e até o plano de retomada total das operações.>
O termo prevê mais prazo para pagamento e desconto de até 70% sobre o débito. O valor final a ser pago ainda está em fase de definição. Outros R$ 130 milhões serão colocados em garantia para evitar eventuais autuações do governo que possam comprometer a atividade da companhia. >
Inicialmente, o estoque de produtos da Samarco (minério de ferro e pelotas) será usado como garantidor da operação. Depois, haverá uma substituição gradual por depósitos judiciais. >
O acordo, conduzido pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), é uma forma de o governo federal buscar a recuperação, mesmo que parcial, dos recursos devidos pela companhia. >
>
Segundo comunicado da Samarco enviado à reportagem, a empresa está hoje com 26% da capacidade produtiva, e a expectativa é atingir sua plena capacidade apenas em 2030. As operações da mina em Mariana foram retomadas em dezembro de 2020. >
Os valores renegociados são uma pequena parcela do débito total da Samarco inscrito em dívida ativa, que chega a aproximadamente R$ 5 bilhões, segundo a PGFN. >
No entanto, o restante do volume, que ficou fora do acordo, não tem risco de autuação do governo no curto prazo porque já está protegido por decisões judiciais, garantias e outros parcelamentos. >
Na prática, a companhia fez o acordo para mitigar riscos especificamente na parcela da dívida que seria passível de autuação do governo ou pedido de penhora e execução fiscal. Com a transação, ela também garante a emissão da certidão negativa de débitos, o que dá segurança jurídica para suas atividades. >
As negociações, iniciadas no fim de 2020, culminaram na assinatura do acordo na terça-feira (13). Pelo termo, a Samarco receberá até 70% de desconto, com a condição de que seja preservado o principal (valor original) da dívida. >
Para a fatia restante que precisará ser paga, o governo ofereceu à companhia um parcelamento de dez anos. >
Como contrapartida, para facilitar a recuperação do restante dos débitos, a PGFN estabeleceu que, se a Samarco vier a distribuir lucro aos donos, ela será obrigada a ampliar os depósitos judiciais usados como garantia dos débitos. O objetivo é evitar que a empresa abra mão de recursos antes de honrar dívidas com a União. >
"Sem a transação, a Samarco dificilmente conseguiria regularidade fiscal para operar com tranquilidade. Funcionaria aos trancos e barrancos ou haveria um litígio exacerbado, o que já aconteceu muito com mineradoras, petroleiras e diversas outras empresas", disse o coordenador-geral de estratégias de recuperação de créditos da PGFN, João Henrique Grognet. >
Segundo a PGFN, se necessário, novas negociações poderão ser feitas para ampliar os valores renegociados e colocados em garantia. >
A Samarco informou que a renegociação é um passo importante no processo de recuperação após cinco anos com atividades paralisadas. A empresa diz que não há relação direta entre o acordo e o plano de reparação de danos causados pelo desabamento da barragem, que segue em execução. >
As tratativas são resultado de duas normas aprovadas pelo Congresso: a nova Lei de Falências, sancionada em janeiro deste ano, e a chamada Lei do Contribuinte Legal, em vigor desde abril do ano passado e que regulamentou a transação tributária --mecanismo de renegociação de dívidas voltado a devedores em situação financeira crítica. >
O pedido de recuperação judicial da Samarco foi feito em abril, cinco anos após a tragédia de Mariana. Na ocasião, a empresa alegou que o recurso era necessário para evitar que ações judiciais movidas por credores inviabilizassem suas operações. >
A companhia argumenta que essa foi a maneira encontrada para manter sua função social e os empregos, além de garantir a continuidade da reparação e compensação de danos relativos ao rompimento da barragem em Mariana. >
A Samarco é alvo de críticas pela condução desse processo de reparação, que foi delegado a uma fundação especialmente criada para esse fim, chamada de Renova. >
Em março, o Ministério Público de Minas pediu à Justiça multa diária de R$ 1 milhão à fundação por atrasos na entrega de novas residências para os desabrigados, que a Renova alega terem sido provocados por restrições impostas pela pandemia. >
A Procuradoria já chegou a pedir a extinção da Renova por "problemas de governança da entidade, traduzidos em desvio de finalidade e ineficiência".>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta