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Coronavírus pode distorcer dados sobre desemprego

Coronavírus pode distorcer dados sobre desemprego

Na coleta de dados para medir o desemprego, os entrevistados são questionados se procuraram emprego nos últimos 30 dias

Publicado em 19 de março de 2020 às 20:31

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 O isolamento domiciliar para enfrentar a pandemia de coronavírus deve distorcer os dados sobre o mercado de trabalho brasileiro, alertam especialistas. Com menos gente em busca de uma vaga, a tendência é que a taxa de desemprego caia mesmo que novas vagas não seja criadas.

O número de pessoas procurando emprego cairá fortemente devido ao isolamento obrigatório. (Agência Brasil)

Nesta quinta (19), o IBGE anunciou a suspensão das entrevistas presenciais para Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar) Contínua, que mede o desemprego. A coleta de informações passará a ser feita por telefone, o que também deve impactar o resultado.

Na coleta de dados para medir o desemprego, os entrevistados são questionados se procuraram emprego nos últimos 30 dias e se estavam disponíveis para assumir a vaga na semana de referência. A taxa de desemprego se baseia naqueles que responderam positivamente.

"O número de pessoas procurando emprego cairá fortemente devido ao isolamento obrigatório. Portanto, tecnicamente não estarão desempregadas", escreveu em uma rede social o economista Octavio de Barros. "Assim, não descarto que o desemprego possa cair nas estatísticas, o que seria um contrassenso."

DESEMPREGO DESENCORAJADO

O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, diz que, tecnicamente, será um "desemprego desencorajado": a pessoa sai do mercado por não acreditar que vai encontrar um posto de trabalho - ou, nesse caso, também por não poder de casa por conta do isolamento.

O IBGE afirma que este contingente será transferido para as categorias população fora da força de trabalho, aqueles que não buscam emprego, ou na força de trabalho potencial, que gostariam de trabalhar mas não procuraram emprego ou não estavam disponíveis para ocupar uma vaga na semana.

A ex-presidente do IBGE Wasmália Bivar explica que, mesmo com uma eventual redução do desemprego, o efeito do coronavírus sobre o mercado de trabalho estará retratado no crescimento do contingente dessas duas categorias.

Ela ressalta, porém, que antes da questão sobre a taxa de desemprego, a pesquisa deve sofrer impactos do modelo de coleta por telefone, nunca utilizado pelo IBGE para pesquisar o desemprego. Segundo ela, a mudança repentina pode provocar perdas na amostra, isto é, dificuldade para se chegar a todos os entrevistados necessários.

O IBGE alterou também o modelo de coleta de informações para a pesquisa sobre inflação, substituindo as visitas a pontos de venda por busca de preços na internet. As mudanças nas pesquisas foram feitas para evitar o contágio dos entrevistadores em meio à pandemia.

O Censo Demográfico, que seria iniciado no dia 1º de agosto, foi adiado para 2021. Realizada a cada dez anos, a pesquisa visita todos os domicílios do país para compor um retrato da população brasileira. Um concurso para a contratação de 208 mil temporários foi cancelado.

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Bivar diz que institutos de estatística de todo o mundo estão tomando medidas semelhantes, para atender às necessidades de isolamento social para conter o espalhamento do coronavírus. "Todas as pesquisas vão ser muito complicadas", diz ela. "Mas é uma realidade que está acontecendo no mundo todo."

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