Publicado em 15 de setembro de 2023 às 09:17
SÃO PAULO - As ações do Grupo Casas Bahia, que mudou de nome nesta semana em meio a uma tentativa de reestruturação da empresa, tombaram na Bolsa quinta-feira (14), após a companhia levantar cerca de R$ 623 milhões com uma oferta de novas ações (follow-on).>
Segundo fato relevante da companhia, a oferta foi precificada a R$ 0,80 por ação, o que representa um desconto de quase 28% em relação ao preço do papel fechamento do pregão da última quarta-feira (13), quando estava valendo R$ 1,11.>
Após o anúncio do valor da oferta, a ação chegou a despencar mais de 30% na Bolsa, tocando um valor menor do que o precificado na oferta, mas depois fechou em queda de 18,92%, a R$ 0,90. No ano, o papel recua 62,5%.>
Analistas já esperavam uma reação negativa do mercado à notícia da oferta. Em relatório a clientes, a Guide Investimentos estimou que o preço das ações na Bolsa deveria convergir para o preço da oferta.>
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Além dos R$ 623 milhões com a oferta, o Grupo Casas Bahia disse nesta quinta que aprovou a emissão de quatro bônus para cada cinco novas ações adquiridas no follow-on. Ou seja, o investidor que comprou os papéis poderá comprar essa quantidade de bônus pelo valor fixo de R$ 0,80 cada, se quiser.>
"Caso a totalidade dos 622.919.426 bônus de subscrição seja emitida e exercida, o montante total captado pela companhia por meio da oferta" será de R$ 1,12 bilhão no total, afirmou a empresa.>
Na ocasião do anúncio do follow-on na semana passada, porém, a expectativa de valor levantado com a oferta era de R$ 981 milhões — sem considerar os bônus de subscrição —, levando em conta a cotação da ação na época, a R$ 1,26.>
A empresa, que enfrenta sérios problemas de endividamento, disse que os recursos líquidos captados serão utilizados para melhorar sua estrutura de capital.>
As novas ações e os bônus começarão a ser negociados a partir de 18 de setembro. Os bancos UBS, Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Santander foram os coordenadores da oferta de novas ações.>
Conforme dados da Economatica, o mercado já vinha apostando em peso na forte queda das ações da companhia.>
Na última quarta-feira, o volume de ações alugadas da empresa renovou recorde, atingindo o maior patamar desde que a companhia trocou o código do papel negociado na Bolsa, em 2021, de VVAR3 para VIIA3 (haverá nova mudança a partir de 20 de setembro, para BHIA3).>
No mercado financeiro, investidores que apostam na queda de uma ação alugam o papel por um tempo, acreditando que ele vai se desvalorizar nesse período.>
Esse investidor, chamado de "tomador", vende no mercado as ações que alugou e, se sua previsão se confirmar e o preço delas cair, eles as recompram mais barato para devolvê-las a quem as havia alugado e lucram com a diferença de preço.>
Para valer a pena, o lucro do "tomador" com essa venda por um preço maior e recompra por um preço menor precisa superar a taxa que ele paga pelo aluguel dos papéis.>
Quanto maior o tombo no preço esperado pelo "tomador", mais propenso ele fica a pagar uma taxa mais alta.>
No caso da Via, em uma semana suas ações passaram da terceira posição para a primeira entre aquelas com maior porcentagem de aluguel, mesmo com uma taxa elevadíssima, segundo dados da Economatica compilados pelo TC Matrix.>
Na semana passada, de todas as empresas com capital negociado em Bolsa, a Via tinha a maior taxa média de aluguel entre os principais contratos negociados, a 72,8% ao ano, enquanto a Mobly, que está em segundo lugar, tem taxa de 64,8%, seguida por Marfrig em terceiro, a 48%. Nesta semana, essa taxa média da Via subiu para perto de 100%.>
"Para compensar o aluguel com essa taxa, a ação tem que cair muito. Ou seja, o mercado está desconfiado da situação financeira da empresa e está apostando em uma forte queda do papel", diz o analista-chefe do TC Matrix, Carlos André Vieira.>
A agência de classificação de risco S&P Global comunicou nesta semana que rebaixou a nota de crédito da 20ª emissão dos CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) do Grupo Casas Bahia, de brAA- para brA- .>
Após o rebaixamento, a empresa abriu, na última quarta-feira (13), prazo até 19 de setembro de desistência aos acionistas que tenham realizado pedido de subscrição prioritária na oferta primária de ações.>
Procurada pela reportagem, a empresa disse que não pode se manifestar por estar em período de silêncio.>
Além da situação macroeconômica que penaliza as varejistas no geral, com os juros ainda em nível elevado e o alto endividamento das famílias inibindo o consumo, a Via está em uma posição mais delicada, segundo analistas.>
Phil Soares
Chefe de análise de ações da ÓramaO analista Lucas Rietjens, da Guide Investimentos, também ressalta que a Via vem reportando índices de cobertura de juros abaixo de 1, o que indica que o resultado operacional da empresa não tem sido suficiente para pagar os juros da dívida.>
De maio a junho deste ano, a Via registrou lucro operacional ajustado — antes dos descontos com juros, impostos, depreciação e amortização — de R$ 469 milhões. Enquanto isso, a companha reportou R$ 882 milhões apenas com despesas financeiras.>
Com relação ao endividamento total, no segundo trimestre, a Via reportou em sua apresentação de resultados R$ 3,7 bilhões de endividamento bruto, além de R$ 1,5 bilhão com risco sacado, que é uma operação que antecipa os recebíveis dos fornecedores com a intermediação de instituições financeiras.>
Mas nas notas explicativas do balanço a empresa demonstra R$ 8,7 bilhões de empréstimos e financiamentos, sendo R$ 5 bilhões de repasse para instituições financeiras referentes a operações com crediário.>
Crediário é uma opção que a empresa oferece de parcelamento de compra sem a necessidade de o cliente utilizar cartão de crédito. Para sustentar a operação, a companhia toma empréstimo junto a instituições financeiras. Segundo o balanço da Via, esse financiamento aconteceu com uma taxa média de 17,56% ao ano em 30 de junho de 2023.>
Além disso, ainda nas notas explicativas, a companhia reporta R$ 3,7 bilhões em passivo com arrendamento mercantil, que seria um contrato de locação de um ativo por um período determinado.>
No balanço patrimonial da companhia, até o dia 30 de junho deste ano, consta um total de passivo circulante, ou seja, as obrigações de curto prazo, de R$ 17,8 bilhões. Já o total de ativos circulantes, ou seja, bens e direitos que podem se transformar em dinheiro no curto prazo, somam R$ 14,1 bilhões.>
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