O relacionamento secreto com a mulher de um traficante foi descoberto e o traído decretou a morte do casal. Ela conseguiu escapar da emboscada, mas o amante, Fernando Monteiro Telles, também integrante do tráfico de drogas, foi executado de forma brutal: espancado, decapitado e queimado.
Nove pessoas foram denunciadas pelo crime, incluindo uma das lideranças da facção criminosa Primeiro Comando de Vitória (PCV), Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, que autorizou a morte.
Nesta segunda-feira (13) teve início o júri popular do grupo, cuja expectativa é de que termine na sexta-feira (17) ou no final de semana. O primeiro dia foi dedicado a ouvir cinco das 27 testemunhas que foram convocadas, sendo quatro delas em sigilo.
Entre elas estava a mulher que se envolveu com a vítima. Seu nome não está sendo divulgado por ela não ter sido acusada pelo crime. Prestou depoimento por videoconferência e confirmou o caso extraconjugal por quase um ano.
Por várias vezes ela tentou pôr fim ao relacionamento com Ícaro Santana Soares, o traído, mas ele não aceitava sua decisão. Quando foi ameaçada, fugiu. E foi o que a manteve viva.
A mãe da vítima também testemunhou, sob forte emoção. Revelou que o impacto foi maior pela maneira como o filho foi morto, com tanta violência.
A expectativa é de que esta terça-feira (14) seja dedicada ao depoimento de mais duas testemunhas do Ministério Público do Espírito Santo (MPES): um policial civil e o delegado Rodrigo Sandi Mori, que investigou a morte.
Para além das traições, emboscadas e da violência que permeiam o caso, ele chama a atenção também por outras características. O crime aconteceu em Vitória, mas o corpo foi descartado na Serra.
O relato de tudo o que aconteceu foi descrito em pelo menos três cartas entregues a lideranças criminosas no presídio, se transformando em algumas das principais provas.
E após o crime, praticado sem tiros para não “queimar a favela”, os criminosos foram beber e assistir a um jogo de futebol.
Amor bandido, traições e morte
A vítima era dona de uma boca de fumo considerada rentável e tinha sido encarregada de cuidar dos negócios de Ícaro Santana Soares, que havia sido preso. Deveria repassar os lucros para a mulher dele, mas acabou tendo um relacionamento amoroso com ela por pelo menos oito meses.
Quando o assunto começou a circular no grupo criminoso, Fernando Telles decidiu procurar a liderança do PCV, Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, para apresentar a sua versão. Levou cópias de mensagens do whatsapp e negou o envolvimento com a mulher de Ícaro. Afirmou que estava envolvido com a amiga dela, que era mulher de outro traficante.
Pressionada pelo marido, a amiga decidiu revelar a sua versão. Gravou a conversa que teve com o casal envolvido na traição, onde tudo era revelado. O áudio foi entregue a Marujo.
Em paralelo, o traído determinou a morte do casal, no presídio de Guarapari, onde estava detido. A informação é de que a ordem teria sido levada pelo advogado Frank William de Moraes Leal Horácio. O objetivo era que a mulher caísse em uma emboscada, fosse pega e morta, mas ela fugiu.
Já Fernando Telles, a vítima, acreditou que poderia reverter sua situação e decidiu ir ao encontro das lideranças no Bairro da Penha, em Vitória. No final da tarde do dia 28 de março de 2019 ele subiu o morro para conversar com Marujo.
Lá foi espancado, teve a cabeça cortada e foi enrolado no tecido impermeável de uma piscina. Posteriormente seu corpo foi transferido para o seu carro e abandonado às margens da Rodovia Audifax Barcelos, na Serra, onde foi incendiado.
Em uma carta de Marujo a outras lideranças do PCV, à época presas na Penitenciária de Segurança Máxima 2, ele relata que ficou revoltado com as tentativas da vítima de enganá-lo. “Ele já assinou a própria sepultura”.
Após o crime, em outra carta, contou que mataram a vítima sem nenhum tiro para não “queimar a favela”. Disse que o bairro ficou tranquilo e que depois foram beber. “Como nada tivesse acontecido depois disso até bebemos e secamos o Vasco jogando (sic)”.
Quem está sendo julgado
Segundo o Ministério Público, nove pessoas foram denunciadas como responsáveis pelo crime. São elas:
- Ícaro Santana Soares
- Isac Nunes de Aguiar
- Igor de Jesus Alves da Cruz
- Filipe Santana Pereira
- Bruno Alexandre da Silva Cruz
- Deivison Borges dos Santos
- Edmaycon Guss Ferreira
- Frank William de Moraes Leal Horácio
- Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo
As defesas
A advogada Paloma Gasiglia faz a defesa de Igor de Jesus Alves da Cruz. Ela destaca que segue confiante de que a justiça será feita. “Temos convicção de que as provas vão traduzir a inocência do Igor”, assinala.
A defesa de Frank William é realizada por Hugo Miguel Nunes, que informou que não se manifesta sobre o júri.
Os advogados dos demais réus não foram localizados, mas o espaço segue aberto às suas manifestações.
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