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Sentença revela trabalho "hostil e violento" em casa terapêutica do ES

Justiça do Trabalho apontou adoecimento grave de cuidadora e condenou o governo do ES e Invisa a pagarem indenização de R$ 168 mil

Vitória
Publicado em 13/10/2025 às 03h30
Tribunal Justiça
Crédito: Arte - Camilly Napoleão com Adobe Firefly

Uma cuidadora que atuava em uma residência terapêutica do governo do Espírito Santo conquistou indenização de R$ 168 mil. Na sentença da Justiça do trabalho foi afirmado que ela foi exposta, diariamente, a um “ambiente de trabalho hostil, violento e psicologicamente desgastante, com risco à integridade física”.

Diante da situação a que foi submetida, a funcionária pediu demissão, descreve o texto judicial. O nome dela não está sendo divulgado em decorrência de sua condição de saúde, por ainda estar em tratamento, não poder retornar à função exercida, sob pena de agravamento da doença.

Os fatos ocorreram em uma unidade localizada na Região Metropolitana, administrada pelo Instituto Vida e Saúde (Invisa), que foi condenado, junto com o Estado do Espírito Santo.

De acordo com a sentença da 15ª Vara do Trabalho de Vitória, a demissão foi tornada nula e revertida para rescisão indireta (a empresa a demitiu). A ela foi concedido ainda:

  • Aviso prévio indenizado proporcional 
  • Saldo de salário
  • 13º salário proporcional de 2023 
  • Férias proporcionais + 1/3 
  • Indenização de 40% sobre os depósitos do FGTS 
  • Indenização do seguro-desemprego, em valor a ser apurado
  • Horas extras decorrentes da extrapolação da jornada e da supressão do intervalo intrajornada
  • Indenização por danos morais no valor de R$ 40 mil
  • Indenização por danos materiais em parcela de R$ 80 mil
  • Autorização para saque do FGTS
  • Justiça gratuita, além de juros e correção monetária dos valores

Por nota, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) informou que “foi intimada e está analisando a decisão para, dentro do prazo legal, definir quais procedimentos irá tomar.”

A coluna tentou contato, sem sucesso, com as três advogadas da Invisa mencionadas no processo. O espaço segue aberto à manifestação.

“Ambiente adoecedor”

O advogado que representa a cuidadora, Bruno Milhorato Barbosa, relata que ela trabalhou na residência, destinada a pacientes com doença mental, entre os anos de 2014 e 2023, quando seu estado de saúde se agravou e decidiu pedir demissão.

“São pessoas simples que vão trabalhar nestas casas terapêuticas, sem estarem preparadas para a dimensão do que iriam enfrentar. A minha cliente foi adoecendo aos poucos até não suportar”, conta.

Na sentença, é informado que houve “conduta omissiva da empregadora” por não oferecer um ambiente de trabalho seguro e saudável”. E acrescenta que a situação “gerou angústia, medo e sofrimento que culminaram no desenvolvimento de grave patologia psiquiátrica” na cuidadora.

Uma das testemunhas relatou à Justiça que o ambiente era inseguro, com agressões frequentes entre internos e também contra os cuidadores.

“A minha cliente e a testemunha chegaram a relatar um episódio de um homicídio envolvendo internos de uma residência. Ela presenciou casos de automutilação, brigas entre os internos, situações em que eles derrubavam a mesa onde elas almoçavam. Era preciso esconder as facas da casa”, relata o advogado.

Barbosa avalia que a sentença segue a tendência das decisões que vem sendo adotadas pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST). “O juiz foi claro ao afirmar a necessidade de fiscalização desses ambientes e que o Estado precisa ser mais ativo”, pontua.

Ele representa ainda outras três funcionárias; uma acabou morrendo durante a tramitação do processo. Outra apresenta as mesmas queixas da cuidadora.

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