Publicado em 21 de junho de 2023 às 10:07
SÃO PAULO - Indicado pelo presidente Lula (PT) para ocupar a vaga de Ricardo Lewandowski no STF (Supremo Tribunal Federal), o advogado Cristiano Zanin será sabatinado nesta quarta-feira (21) por um Senado sem histórico recente de rejeições.>
A última vez que a Casa rejeitou um nome à corte foi em 1894, quando barrou cinco escolhidos pelo então presidente marechal Floriano Peixoto.>
Quem mais se aproximou disso desde 1989 foi Francisco Resek, aprovado por 45 votos a 16, apenas 4 a mais do que os 41 necessários. Indicado por Fernando Collor em 1992, Resek já havia integrado o STF no início dos anos 80 e deixou o tribunal para assumir um ministério do governo.>
Zanin será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em seguida, basta maioria absoluta entre os votos dos 81 senadores para que a nomeação seja ratificada pelo plenário.>
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Nos primeiros anos após a aprovação da Constituição de 1988, o patamar de votos recebidos no plenário do Senado por indicados ao STF costumava ser de até 50. A partir de 1997, com a escolha de Nelson Jobim, que conseguiu 60 votos a 3, os placares passaram a ter uma margem mais ampla.>
O maior número de votos desde 1989 foi alcançado pelo ministro Luiz Fux, com 68 a 2. Escolhido por Dilma Rousseff em 2011, o magistrado integrava o STJ (Superior Tribunal de Justiça).>
Já o ministro André Mendonça, segundo indicado de Jair Bolsonaro (PL), foi o que recebeu o maior número de votos contrários, sendo aprovado por 47 a 32.>
Levantamento feito pela Folha Dde S.Paulo com base em dados do Supremo e do Senado desde 1989 mostra que a etapa de aprovação na Casa aconteceu 14 dias após a indicação em metade dos casos.>
Somados os tempos de todas as etapas para repor um ministro, a vaga no STF foi preenchida, em metade dos casos, 66 dias depois.>
A sabatina mais recente, porém, ilustra uma exceção. Mendonça foi submetido aos questionamentos dos senadores 142 dias após ser escolhido, em 1º de dezembro de 2021.>
A razão para a demora inédita foi a resistência do presidente da CCJ, o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que tem a prerrogativa de pautar o processo.>
A etapa só foi agendada após pressão de senadores, evangélicos e membros do STF, que seguia desfalcado.>
Aliados de Alcolumbre diziam que ele só pautaria a sabatina de Mendonça se houvesse certeza da reprovação. Segundo eles, o senador estaria descontente com o descumprimento pelo governo Jair Bolsonaro de promessas sobre emendas parlamentares, além de preferir o procurador-geral da República, Augusto Aras, para a corte.>
Antes de Mendonça, a sabatina mais demorada tinha sido a de Teori Zavascki, 37 dias após ser escolhido por Dilma, em 2011. Zavascki foi a definição mais rápida da ex-presidente, dez dias depois da aposentadoria de Cezar Peluso, algo incomum para a petista, que definiu seus demais nomes em mais de 90 dias.>
Os ministros Rosa Weber, atual presidente da corte, e Edson Fachin, também escolhas de Dilma, tiveram as sabatinas agendadas depois de 29 e 28 dias das indicações, respectivamente. O ministro Luiz Fux foi a exceção, sabatinado 8 dias após a escolha.>
Tanto Dilma quanto Bolsonaro enfrentaram dificuldades na articulação política com o Congresso em seus governos. A petista sofreu impeachment em agosto de 2016, enquanto o ex-presidente precisou buscar apoio junto ao centrão para afastar a mesma ameaça.>
Já as sabatinas mais rápidas foram as de Menezes Direito, indicado em 2007, no segundo mandato de Lula, e Mauricío Corrêa, em 1994, escolhido por Itamar Franco, submetidos aos questionamentos um dia após a definição presidencial.>
O cientista político Jeferson Mariano Silva, professor da Unifesp e pesquisador de pós-doutorado da USP, onde integra o Jude (Grupo de Pesquisa Judiciário e Democracia), afirma que tanto os placares mais apertados de aprovação quanto intervalos maiores estão associados a escolhas por perfis mais próximos às preferências do presidente do que dos senadores.>
"O fato de nenhuma indicação ter sido rejeitada não significa que esse risco não existe, mas que ele é meticulosamente controlado. Os processos de nomeação mais conturbados tendem a ser justamente aqueles em que o presidente faz menos concessões ao Senado.">
Além do caso de Mendonça e Fachin, ele também cita os de Dias Toffoli, no segundo mandato de Lula, e de Gilmar Mendes, sob FHC, como outros exemplos de perfis mais presidenciais que sofreram resistência no Senado.>
Como oposto, ele cita a escolha de Kassio Nunes Marques, um perfil de preferência dos senadores. O professor Álvaro Jorge, da FGV Direito Rio, autor do livro "Supremo Interesse", acrescenta que, apesar de aprovado, o magistrado enfrentou uma sabatina de quase dez horas na Casa.>
Para o especialista, o prazo de três semanas da sabatina de Zanin é o ideal para que os senadores possam levantar informações e levantar questionamentos.>
No caso do advogado, a expectativa é que ele seja questionado sobre a amizade com o presidente Lula.>
"Do ponto de vista republicano, é ruim que você indique alguém que tenha essa proximidade. Os argumentos que podem ser levantados: será que isso é uma troca de favores? Será que está fazendo isso como premiação ou por entender que ele é essencial para a Suprema corte?", diz Jorge.>
Ele também considera que o fato de o escolhido de Lula ser um homem branco também pesa, tendo em vista a necessidade de ter pluralidade de experiências no STF.>
Para Silva (USP), embora seja identificado como uma escolha pessoal do petista, Zanin ganhou simpatia da classe política por sua atuação contra o populismo penal.>
"Se não fosse por sua ligação tão próxima com o presidente Lula, Zanin seria, do ponto de vista dos senadores, uma indicação perfeita", afirma.>
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