Publicado em 19 de junho de 2020 às 09:31
Demitido após 14 meses à frente do Ministério da Educação, Abraham Weintraub deixou como marca a ruptura de diálogo do governo federal com professores, estudantes, redes de ensino e universidades, segundo avaliação de entidades educacionais. >
Ainda que não tenha conseguido avançar ou concluir nenhum dos projetos anunciados para a educação, as entidades avaliam que Weintraub teve a atuação esperada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao colocar em pauta no MEC uma agenda ideológica.>
"Sem nunca ter trabalhado com educação, Weintraub não estava no ministério por acaso, mas para cumprir um papel político, replicar o posicionamento ideológico do governo. Ele não olhou para as questões educacionais, mas cumpriu o papel que esperavam dele, transmitir uma mensagem política", disse o educador Mozart Neves Ramos, do Instituto de Estudos Avançados da USP.>
Desde que assumiu o ministério, Weintraub atacou universidades e institutos federais, criticou pesquisadores, estudantes e professores. Mas ações concretas não avançaram, como a tentativa de mudar a forma de escolha dos reitores e o programa Future-se para alterar o financiamento do ensino superior.>
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"As ações dele não andaram porque a sociedade se organizou e reagiu, mas acredito que ele tenha alcançado o seu objetivo de transformar o MEC em um instrumento de ideologia. Ele desmoralizou as universidades públicas, ofendeu estudantes, retirou bolsa e recurso de pesquisas", disse Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).>
Reitores de universidades e institutos federais disseram que, mais do que os ataques e ofensas, a inação do ministro para buscar soluções para os problemas do ensino superior é que prejudicou o desenvolvimento nos últimos meses.>
"Temos questões urgentes que precisam ser resolvidas, como o orçamento para o próximo ano, e só esperamos que o próximo ministro entenda o papel e importância da rede federal de ensino. A gente não via isso com o Weintraub, que nunca defendeu nosso orçamento ou projetos para o nosso desenvolvimento", disse Jadir José Pela, presidente do Conselho de Reitores dos Institutos Federais (Conif).>
Apesar dos embates mais evidentes com as universidades, as entidades destacaram que a ausência de projetos para a educação básica também deixa marcas. Weintraub, por exemplo, não conseguiu a aprovação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), descontinuou ações para o Novo Ensino Médio, do programa para a expansão de escolas em tempo integral e construção de creches.>
"Esperamos que agora seja possível retomar os programas parados e voltar a discutir ações para a educação básica. Estamos em um momento bastante complicado para o ensino no país e não podemos perder tempo com questões ideológicas", disse Luiz Miguel Garcia, presidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais de educação).>
Presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, disse que a saída de Weintraub ocorre em um dos momentos mais críticos da educação brasileira, que emergencialmente precisa de um novo modelo de ensino por causa da pandemia e está em situação financeira próxima ao colapso.>
"Weintraub não deixou legado nenhum, marca nenhuma. Mas a inação em um momento como o que vivemos significa ainda mais destruição, mais prejuízo", disse.>
Abraham Weintraub
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