Publicado em 11 de julho de 2022 às 15:03
ARTUR RODRIGUES>
Assassinado por um bolsonarista no último sábado em Foz do Iguaçu (PR), o guarda municipal Marcelo de Arruda, 50, nasceu na favela e começou a trabalhar como engraxate. O interesse político e pelas questões sociais nasceram daí.>
Desde cedo, porém, soube conviver com as diferenças e tinha amigos das mais variadas ideologias. Como ex-militar e guarda, convivia e se dava bem com muitas pessoas mais à direita, incluindo bolsonaristas.>
Segundo amigos e familiares, o guarda jamais teria iniciado uma briga como fez o bolsonarista que invadiu sua festa e o matou — o homem foi baleado e segue internado.>
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Marcelo deixa a esposa Pâmela, um bebê de 40 dias, uma menina de 6 anos e dois filhos mais velhos de um primeiro casamento.>
"Eu conheço o Marcelo há muito tempo e ele nunca perguntou em quem eu votava", diz Francisco Vedur, 65, agente patrimonial na cidade e colega de trabalho de Marcelo.>
Quem conhecia Marcelo no dia a dia diz que ele fugia muito do estereótipo de agentes de segurança. Inclusive, era bastante discreto ao portar a arma e não era do tipo que vivia grudado nela.>
"Ele tinha duas paixões: a guarda e a política", diz Alexandra Moisés de Arruda, 49, mãe de dois dos quatro filhos de Marcelo. Na atuação na guarda, uma coisa não dissociava da outra.>
O engajamento poderia passar tanto por levar quem estivesse precisando com a viatura até um hospital ou ao se juntar com colegas de trabalho para ajudar meninos que moravam em uma favela.>
"Desde que eu conheci o Marcelo, sempre foi assim", diz.>
A política surgiu cedo na vida do rapaz, então com 20 e poucos anos, por meio das questões sindicato. "A política estava na veia do Marcelo desde sempre", completa Alexandra.>
Marcelo foi criado na favela dos Bancários, em Foz do Iguaçu. A família só começou a sair de lá quando o irmão mais velho arrumou um emprego em Itaipu e, aos poucos, foi melhorando as condições da família.>
"Ele começou a trabalhar como engraxate, como todos nós. Como sempre passava um moço vendendo picolé e ele gostava muito, eu coloquei esse apelido nele", diz o irmão mais velho, Luiz Donizete Arruda, 54, hoje aposentado.>
Familiares dizem que Marcelo tinha uma personalidade inquieta e vivia sempre fazendo descobertas. Um dos livros que gostava muito era as Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, lembra um dos sobrinhos dele, Thiago de Arruda, 32.>
"Meu pai era uma pessoa que depois de velho sempre estava querendo aprender alguma coisa e passar para a gente", diz o filho mais velho, Eduardo Miranda de Arruda, 26.>
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