Publicado em 29 de maio de 2020 às 11:50
O jornalista Gilberto Dimenstein morreu nesta sexta-feira (29), aos 63 anos, vítima de um câncer de pâncreas, com metástase no fígado. >
Criador do site Catraca Livre, Dimenstein foi jornalista premiado e escreveu no jornal Folha de S.Paulo por 28 anos, de 1985 a 2013 -foi diretor da sucursal em Brasília, correspondente em Nova York, colunista e membro do conselho editorial de 1992 a 2013.>
Também passou pela CBN, Jornal do Brasil, O Globo, Correio Braziliense, Última Hora, Veja e Revista Visão antes de se dedicar ao jornalismo de causas sociais.>
Durante o tratamento contra o câncer Dimenstein definiu a clareza maior da morte como "uma dádiva". "Não é o fim, mas um começo", disse em relato à Folha de S.Paulo sobre o diagnóstico da doença, recebido no ano passado.>
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O texto com a visão otimista sobre a doença e a nova forma de viver a vida viralizou. Dimenstein desceu do trem de alta velocidade de onde via uma linda paisagem borrada para escutar bem-te-vis e curtir o neto.>
Em dezembro, o jornalista disse estar vivendo o momento mais feliz de sua vida. "Câncer é algo que não desejo para ninguém, mas desejo para todos a profundidade que você ganha ao se deparar com o limite da vida.">
O jornalista nasceu em São Paulo, em 28 de agosto de 1956. Filho de um pernambucano e de uma paraense, tem família judaica. Formou-se em jornalismo na Faculdade Cásper Líbero.>
Dimenstein foi acadêmico visitante do programa de Direitos Humanos da Universidade de Columbia (EUA), entre 1995 e 1998, e fez parte de incubadora de projetos de Harvard (EUA), entre 2011 e 2013.>
Gilberto Dimenstein
JornalistaAo fazer um balanço de sua vida, Dimenstein avaliou ter feito o bem por praticar um jornalismo de empoderamento. Ele dedicou a carreira a buscar, promover, fomentar, levantar recursos e dar visibilidade a projetos de inovação e de inclusão.>
O Catraca Livre, que seleciona atrações culturais desde 2009, tornou-se vitrine para soluções na área de mobilidade, lazer, educação, saúde e empreendedorismo. "Queremos ajudar as cidades a serem mais educadas, acolhedoras e criativas", afirma o portal ao apresentar-se.>
O site foi eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle em 2012 e apontado pela Universidade de Oxford, BBC e Financial Times como uma das mais importantes inovações digitais de impacto social no mundo em 2013.>
O Catraca Livre também venceu o Prêmio de Veículos de Comunicação (2017), Prêmio Jovem Brasileiro (2015 e 2016), E-award (2014) e Digitalks (2015).>
Dimenstein também se dedicou a projetos educacionais. Criou o programa bairro-escola, desenvolvido por meio do Projeto Aprendiz e replicado pelo mundo com ajuda da Unicef e Unesco. O projeto de formação profissional foi considerado referência mundial e "um exemplo de inovação comunitária" pela Escola de Negócios de Harvard.>
Dimenstein era presidente do conselho da Orquestra Sinfônica de Heliópolis, em São Paulo, e membro do conselho consultivo do Museu do Amanhã, no Rio.>
Sobre o projeto em Heliópolis, que educa 1.300 crianças e jovens na maior favela de São Paulo, Dimenstein escreveu recentemente: "A música que ajuda a combater meu câncer é tocada pela Orquestra Sinfônica Heliópolis. Não só pela sua excelência, mas especialmente porque sou voluntário do projeto. E vejo o milagre da educação -o que me faz mais conectado à vida".>
O jornalista foi ainda um dos criadores da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). O envolvimento com o tema veio a partir do livro "Meninas da Noite - A Prostituição de Meninas Escravas no Brasil", escrito entre 1991 e 1992, quando Dimenstein recebeu uma bolsa de estudos da MacArthur Foundation para apurar sobre prostituição de crianças na Amazônia.>
Gilberto Dimenstein
JornalistaEm suas colunas, na Folha de S.Paulo, defendeu o uso do transporte público, divulgou iniciativas sociais e deu opiniões controversas, como penas alternativas à cadeia para infratores que não oferecem risco à vida.>
Nos últimos meses, vinha dedicando suas postagens em redes sociais a críticas ao governo Jair Bolsonaro e à defesa da democracia.>
Antes de rumar ao jornalismo independente e comunitário, em sua última coluna no jornal, em dezembro de 2013, Dimenstein afirmou que deixava a Folha de S.Paulo, paradoxalmente, por causa da "liberdade de experimentação" propiciada pelo veículo.>
"Mas a Folha (e aqui personalizo na figura de Otavio Frias Filho) sempre me estimulou a ousar, trocando o seguro pelo incerto, cultivando meu vício irrecuperável pela adrenalina do inusitado", escreveu.>
Na carreira de jornalista, Dimenstein recebeu diversos prêmios, inclusive o Prêmio Esso de 1988, na categoria principal, com a reportagem "A lista da fisiologia", que escreveu na Folha de S.Paulo, sobre políticos intermediários de repasses para programas sociais, em esquema de tráfico de influência entre Executivo e Legislativo.>
No ano seguinte, venceu o Prêmio Esso, na categoria Informação Política, com a reportagem "O grande golpe".>
Seu livro "O Cidadão de Papel", sobre diretos da criança, venceu o Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro de não-ficção em 1993.>
O jornalista colecionou ainda Prêmios Líbero Badaró de Imprensa, um Prêmio Comunique-se, na categoria Jornalista de Cultura - Mídia Livre (2012), um Prêmio Nacional de Direitos Humanos junto com D. Paulo de Evaristo Arns (1995), um Prêmio Criança e Paz, da Unicef (1993), e Menção Honrosa do Prêmio Maria Moors Cabot, da Faculdade de Jornalismo de Columbia, em Nova York (1990).>
Também se destacou na Folha de S.Paulo com série de reportagens, de 1987, para mostrar que o então presidente José Sarney liberou recursos para as bases eleitorais de deputados dispostos a apoiar o mandato de cinco anos. Em 1999, revelou que a Fundação Visconde de Cabo Frio, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, pagava funcionários em dólar, com depósitos em Londres.>
Dimenstein é autor de diversos livros, como "A República dos Padrinhos: Chantagem e Corrupção em Brasília" (1988); "As armadilhas do poder - Bastidores da imprensa" (1990); "A Guerra dos Meninos - Assassinatos de Menores no Brasil" (1995); "A Democracia em Pedaços" (1996); "O Aprendiz do Futuro" (1997); "O Mistério das Bolas de Gude" (2006); "Fomos Maus Alunos" (2009) e "Mundo de REP" (2002).>
É coautor de "A Aventura da Reportagem" (1990), com Ricardo Kotscho; "A História Real - Trama de uma Sucessão" (1994), com Josias de Souza; "O Brasil na Ponta da Língua" (2002), com Pasquale Cipro Neto; "Prazer em Conhecer" (2008), com Miguel Nicolelis e Drauzio Varella; "É Rindo que se Aprende" (2011), com Marcelo Tas, entre outros.>
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