Publicado em 25 de junho de 2020 às 19:50
Com perfil conciliador e técnico, Carlos Decotelli chega para comandar o Ministério da Educação como uma vitória de militares, na tentativa de buscar interlocução com os demais Poderes e a sociedade civil após a saída tumultuada de Abraham Weintraubsaída tumultuada de Abraham Weintraub. >
O ex-ministro deixou o cargo após uma série de desgastes com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso, onde se tornou desafeto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).>
Não à toa, Decotelli, o primeiro negro ministro do governo de Jair Bolsonaro, adotou tom conciliador nas primeiras palavras após ter a indicação confirmada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele afirma que foi procurado por Bolsonaro hoje de manhã, e que até ontem (24) estava dando aulas. "Fui pego de surpresa", contou.>
"É o tom que eu sei fazer, vim para fazer o que eu sei fazer. O que eu sei fazer é sala de aula, é conversa, é gestão, é ajuste, é muito diálogo e construção de projetos a serem entregues para a educação. A minha prioridade será trabalho, trabalho, trabalho com gestão integrada", disse em entrevista à CNN Brasil.>
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Pessoas da área de educação avaliam que a nomeação de Decotelli, o terceiro ministro da Educação do governo Bolsonaro, pode significar um distensionamento nas relações e uma reconstrução de pontes derrubadas por Weintraub e pelo antecessor, Ricardo Vélez.>
Sua escolha tem sido interpretada em Brasília como uma tentativa de diminuir a influência do escritor Olavo de Carvalho na pista.>
"O fato de ter participado do governo de transição direciona seu posicionamento de alinhamento com a linha ideológica do governo como um todo [sem olavismo]", afirma Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.>
À CNN, Dacotelli disse que o presidente Jair Bolsonaro não pediu a ele uma gestão "ideológica". O novo chefe do MEC também defendeu o diálogo com o Congresso.>
"Não houve nenhuma demanda, nenhuma fala sobre questão ideológica, até porque eu não tenho nenhuma competência ideológica. A minha formação é na área de gestão e finanças", afirmou o novo ministro. "Eu sou um gestor de finanças e administração. O presidente falou: aplique a ciência, aplique a integração, para podermos entregar a melhor política pública para a educação no Brasil. Não tenho competência para fazer adequação ideológica.">
Ele também declarou que pretende fazer uma gestão com diálogo não só com o Congresso, mas com universidades e entidades de classe ligadas ao setor da educação - o que marcaria uma mudança de tom em relação ao seu antecessor, que teve uma relação ruim com estes atores.>
"Eu tenho este hábito, esta tendência de sempre estar falando de maneira didática, pedagógica, conversando, dialogando, ampliando para a gestão pública as metodologias aplicadas em sala: ouvir, ponderar, analisar, respeitar e prosseguir", declarou.>
Após passar para a reserva da Marinha, ele seguiu carreira na educação, sempre nos campos de administração e finanças. Passou parte de sua formação no exterior, realizando seu pós-doutorado na Alemanha e o doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina.>
O novo ministro foi professor da área de finanças na Fundação Dom Cabral e na FGV (Fundação Getúlio Vargas), além de ter lecionado e ter sido criador do curso de pós-graduação em finanças da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio Grande do Sul.>
Na direção do FNDE, entre fevereiro e agosto de 2019, teve uma posição apagada e criticada por setores da sociedade civil ligados à educação. O fundo é responsável pela maioria das ações e programas relacionados à educação básica do país. No entanto, durante sua gestão, teve dificuldades até para levar adiante licitações para abastecer as atividades.>
Decotelli chega ao MEC sob o aval da cúpula militar, em uma sugestão dos almirantes do governo. O almirante Flavio Rocha (Secretário de Assuntos Estrategicos) teve papel essencial na aproximação do novo ministro com o presidente.>
Decotelli é considerado próximo do próprio Bolsonaro. Integrantes do governo ressaltam sua lealdade em todos os momentos, mesmo quando afastado da presidência do FNDE e quando o governo sofreu baixas consideráveis, como a saída do ex-ministro Sérgio Moro (Justiça).>
Ele deixou o FNDE no ano passado para dar a lugar a Rodrigo Sérgio Dias, indicado pelo chamado "centrão" na Câmara e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), como fatura política pela aprovação da reforma da Previdência. Dias, porém, acabou sendo exonerado no fim de 2019.>
Ao precisar ceder seu cargo no FNDE, Decotelli ganhou a promessa de uma secretaria no próprio MEC - a Semesp (Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação), que lida com o direito à educação de pessoas com deficiências, população do campo e indígenas, por exemplo. Descontente com a situação, sem alarde, ele acabou deixando o MEC.>
Segundo o novo ministro, quando chefiou o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), entre fevereiro e agosto de 2019, aplicou "gestão integrada e bom relacionamento com as entidades da educação brasileira". "É isso que foi pedido: que o que foi feito no FNDE no ano passado se estenda para a gestão do MEC", afirmou.>
O novo ministro não deu detalhes sobre sua saída do FNDE, em agosto do ano passado. Disse apenas que recebeu a exigência de fazer "uma mudança operacional, uma reestruturação de equipe", e que nessa "reestruturação" voltou a ser professor universitário. Naquele momento, o ministro era Abraham Weintraub.>
O ministro da Educação também não especificou medidas que pretende tomar ao assumir o cargo. Segundo ele, o grande desafio será planejar o restante do ano e a retomada de atividades da educação no período de pandemia de Covid-19.>
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