Publicado em 18 de junho de 2020 às 15:43
O governo nomeou, nesta quinta-feira (18), o médico Hélio Angotti Neto para o cargo de secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, área voltada ao monitoramento do resultado de estudos clínicos e inclusão de novos medicamentos no SUS. Ele é formado em medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). >
Desde o início do último ano, Angotti ocupava o cargo de diretor do Departamento de Gestão de Educação em Saúde na Secretaria de Gestão do Trabalho na Saúde, chefiada por Mayra Pinheiro, de quem é braço direito.>
Nos últimos dias, a equipe de Pinheiro tem assumido a defesa da ampliação da oferta de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios indicados para malária, usados também no tratamento da Covid-19. Ainda não há, porém, evidências científicas de eficácia.>
Formado em medicina pela Ufes e especialista em oftalmologia pela Universidade de São Paulo (USP), Angotti é autor de livros sobre medicina, filosofia e bioética. Nas obras, costuma se posicionar contra o aborto.>
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A maioria dos livros é publicado pela Monergismo, editora que, em seu site, afirma ter como objetivo publicar obras acadêmicas e populares que "exaltam o poder e glória de Deus".>
Nas redes sociais, o novo secretário se descreve como "cristão, pai de família, médico, gestor, escritor e pesquisador".>
Também costuma fazer referências frequentes a Olavo de Carvalho e replicar postagens de outros membros "olavistas" no governo, como o assessor especial da Presidência da República Filipe Martins.>
A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União desta quinta (18), e assinada pelo ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto.>
A publicação ocorre pouco mais de uma semana após o bilionário Carlos Wizard, que havia sido convidado para o cargo, afirmar que deixaria o Ministério da Saúde, onde já despachava como consultor.>
Wizard virou alvo de críticas após afirmar que a pasta pretendia mudar os critérios para contagem de mortes por Covid-19. Sem apresentar provas, ele disse desconfiar que os números estavam inflados - especialistas, porém, apontam subnotificação.>
Três dias antes de ser nomeado para o cargo, Angotti participou de uma coletiva de imprensa do Ministério da Saúde para anunciar a ampliação da oferta de cloroquina e hidroxicloroquina também para grávidas e crianças com sintomas de Covid-19.>
O anúncio foi feito no mesmo dia em que a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA) revogou o uso emergencial do medicamento. Ao comunicar a decisão, a agência alegou que, com base em novos dados, avaliava que não era mais razoável acreditar que a cloroquina e a hidroxicloroquina poderiam ser eficazes no tratamento da doença.>
Angotti afirmou que a decisão da FDA seria analisada pela pasta, mas que a análise da agência levava em conta apenas o uso para pacientes em estado grave.>
As orientações atuais do ministério, no entanto, valem tanto para pacientes com sintomas leves, moderados ou graves, de acordo com os últimos documentos publicados.>
Na coletiva, Angotti defendeu a ampliação, afirmando que o cenário "muda muito rápido" e que a pasta tem visto "indícios cada vez mais fortes" de benefícios dos medicamentos para uso precoce. O ministério não apresentou quais seriam essas referências.>
Em nota divulgada após o anúncio da ampliação, a Sociedade Brasileira de Pediatria reforçou a recomendação de que médicos não indiquem o medicamento a crianças fora de estudos clínicos devido a possíveis riscos.>
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