Publicado em 10 de junho de 2020 às 08:58
A Polícia Federal realiza na manhã desta quarta-feira (10) uma operação com o objetivo de apurar fraudes na compra de respiradores pulmonares pelo governo do Pará. O governador paraense, Helder Barbalho (MDB), é um dos alvos. A polícia cumpre 23 mandados de busca e apreensão em sete Estados, entre eles o Espírito Santo. >
Além do Pará e do Espírito Santo, a operação também é realizada em Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal, após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O inquérito corre sob sigilo.>
O relator do caso, ministro Francisco Falcão, autorizou ainda o bloqueio de R$ 25 milhões do governador do Pará e de outros sete envolvidos. >
Helder Barbalho é o segundo governador alvo de operação da PF sobre contratos relacionados ao combate ao coronavírus. O primeiro foi Wilson Witzel, do Rio de Janeiro. >
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As buscas estão sendo realizadas no Palácio dos Despachos, sede do governo do Pará, secretarias de Saúde, Fazenda e Casa Civil, além de residências dos investigados e empresas. >
A compra dos respiradores custou aos cofres públicos R$ 50,4 milhões. Dentre os suspeitos estão servidores públicos estaduais e sócios de uma empresa investigada.>
De acordo com a PF, os crimes sob investigação são de fraude à licitação, previsto na Lei nº 8.666/93; falsidade documental e ideológica; corrupção ativa e passiva; prevaricação, todos previstos no Código Penal; e lavagem de dinheiro, da Lei nº 9.613/98. >
A operação foi batizada de Para Bellum, do latim e que significa "preparar-se para a guerra", uma referência ao combate que a PF tem realizado contra o desvio de recursos públicos destinado ao combate ao coronavírus.>
Em nota divulgada nesta manhã, a Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que há suspeita de que os equipamentos foram comprados com superfaturamento de 86,6%. >
A empresa fornecedora recebeu o pagamento antecipado, com base em decreto assinado pelo governador do Pará, que autorizou a medida em contratações emergenciais ligadas ao combate ao coronavírus. A Procuradoria afirma que não havia previsão legal para isso.>
Os investigadores reuniram indícios de ter ocorrido uma montagem, posterior ao pagamento, de ter sido forjado um procedimento de dispensa de licitação para dar aparência de legalidade à aquisição dos respiradores.>
Ainda de acordo com a PGR, há indícios de que Barbalho tenha relação próxima com o empresário responsável pela concretização do negócio. As apurações mostram, segundo a Procuradoria, que o governo sabia da divergência dos produtos comprados e da carga de ventiladores pulmonares inadequados para o tratamento da Covid-19.>
Caso o governador seja responsabilizado, cabe ao STJ determinar a prisão do governador, cargo que conta com foro privilegiado. >
As assembleias legislativas são responsáveis pelo rito do impeachment. Em fevereiro, deputados estaduais aliados de Bolsonaro chegaram a protocolar um pedido de impeachment do governador do Rio, Wilson Witzel na Alerj, também alvo de operação semelhante.>
Em nota, Barbalho declarou que o governo do Estado, "em nome do respeito ao princípio federativo e do zelo pelo erário público", reafirma "seu compromisso de sempre apoiar a Polícia Federal no cumprimento de seu papel em sua esfera de ação".>
Disse ainda que os recursos pagos na entrada da compra dos respiradores foram ressarcidos aos cofres públicos. Além disso, o governo estadual entrou na Justiça com pedido de indenização por danos morais coletivos.>
No fim de maio, a Operação Placebo diz ter reunido provas indicando que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), está no topo de uma organização que fraudou o orçamento até das caixas dágua de hospitais de campanha no Rio. >
Dados da investigação, enviados pelo Ministério Público Federal no Rio ao STJ afirmam que Witzel "tinha o comando" das ações para, supostamente, lesar a gestão das unidades de saúde.>
Para isso, seria auxiliado por sua mulher, Helena Witzel, e pelo ex-secretário de Estado da Saúde Edmar Santos, que delegou algumas atribuições a subordinados sob investigação.>
Segundo o inquérito, que tramita em sigilo, houve ilegalidades no processo de contratação da organização social Iabas para administrar os hospitais provisórios. Para isso, diz a investigação, foram fraudados os valores dos orçamentos de diversos itens do atendimento a vítimas da Covid-19.>
Em 26 de maio, a Polícia Federal cumpriu ordens de busca e apreensão em endereços de Witzel, incluindo os palácios das Laranjeiras e da Guanabara, da mulher dele e de servidores da Saúde no estado.>
"Afirmam [os investigadores] que as provas coletadas até este momento indicam que, no núcleo do Poder Executivo do estado do Rio, foi criada uma estrutura hierárquica, devidamente escalonada a partir do governador, que propiciou as contratações sobre as quais pesam fortes indícios de fraudes", prosseguiu o ministro.>
Em seguida, ele acrescenta: "Para tanto, Wilson Witzel mantinha o comando das ações [auxiliado por Helena Witzel]".>
Na decisão, Gonçalves afirmou que o compartilhamento de provas provenientes da Justiça Federal no Rio demonstrou "vínculo bastante estreito e suspeito entre a primeira dama do Rio" e as empresas de Mário Peixoto, empresário beneficiado com contratos no governo fluminense.>
Ele cita contrato de prestação de serviços entre o escritório de advocacia de Helena Witzel e a DPAD Serviços e Diagnóstico, bem como comprovante de transferência de renda entre as duas empresas.>
No email de Alexandre Duarte, apontado como operador de Peixoto, a polícia também encontrou um comprovante de pagamento à esposa de Witzel, afirma o ministro.>
Gonçalves afirmou que as ações são necessárias em busca de provas e ressaltou a dificuldade de investigar pessoas que conhecem o funcionamento da Justiça.>
O governador Wilson Witzel, no caso, é ex-juiz de carreira e deixou a profissão para se candidatar ao Executivo fluminense.>
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