Publicado em 27 de maio de 2020 às 13:16
O ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pediu nesta quarta-feira (27) ao Ministério Púbico Federal que investigue o suposto vazamento de ação da Polícia Federal no Rio de Janeiro contra o governador Wilson Witzel (PSC). >
Segundo o magistrado, caso seja confirmado o vazamento, seria necessário responsabilizar penalmente o autor da conduta ilícita, como forma de não prejudicar a integridade das instituições.>
As suspeitas de vazamento foram levantadas na terça-feira (26) após a deflagração da operação. Na noite anterior, em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) disse ter conhecimento de que investigações contra governadores estavam em andamento, por conta dos gastos para combater a Covid-19, e que em breve operações seriam lançadas.>
Na entrevista, Zambelli diz ainda que as operações já estavam na "agulha", mas só ocorreram após a demissão do ex-ministro da Justiça Sergio Moro.>
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A deputada negou que tivesse informações prévias sobre operações da Polícia Federal contra governos estaduais, como a lançada na terça no Rio.>
Em suas redes sociais, Zambelli foi cobrada pela parlamentar Talíria Petrone (PSOL-RJ) sobre ter falado em entrevista sobre a ocorrência de "operações" nos próximos meses.>
"Se eu tivesse informações privilegiadas e relações promíscuas com a PF, a operação de hoje seria chamada de "Estrume" e não "Placebo". Está aí sua explicação, defensora de maconheiro", respondeu a deputada.>
Com um pouco mais de cuidado, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também deu a entender que poderia ter conhecimento prévio de novas ações da Polícia Federal. Na noite desta segunda-feira (25), o parlamentar divulgou o vídeo de uma ação de busca e apreensão em Fortaleza, quando sugeriu que outras poderiam acontecer.>
"Os que achavam que se aproveitariam da pandemia para roubar e ficar impunes se enganaram. E acredito que tenha muito mais operação para vir aí. O que vocês acham?", postou Eduardo Bolsonaro, em suas redes sociais.>
Em nota, a Federação Nacional de Policiais Federais (Fenapef) defendeu a apuração de eventual vazamento da ação pela deputada e fez associação à entidade ligada aos delegados federais.>
"É conhecido e notório o vínculo da parlamentar com a Associação de Delegados, desde quando era líder do movimento Nas Ruas. Esse laço se demonstra pela participação de Zambelli em eventos, vídeos e homenagens. A Fenapef defende a apuração, com responsabilidade e profundidade, sobre a possibilidade de que esse vínculo possa ter sido utilizado para a obtenção de alguma informação privilegiada", afirmou a federação em nota.>
Em resposta, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) afirmou "repudiar veementemente a irresponsável nota" da federação.>
"A ADPF, independentemente da apuração, irá imediatamente tomar as medidas judiciais cabíveis para que os dirigentes da Fenapef provem as insinuações que fizeram ou respondam pelas leviandades lançadas publicamente e entendam que divergências classistas não estão acima da ética, da moral, tampouco do nome e da credibilidade da Polícia Federal", diz a nota que também pede a apuração do suposto vazamento.>
Questionada sobre a entrevista de Zambelli, a Polícia Federal disse que não comenta declarações de parlamentares.>
A ação contra o governador do Rio foi chamada de Placebo. De acordo com as investigações, Witzel estaria no topo de uma organização que fraudou o orçamento até das caixas d'água de hospitais de campanha no Rio.>
Dados da investigação, enviados pelo Ministério Público Federal no Rio ao STJ , afirmam que Witzel "tinha o comando" das ações para, supostamente, lesar a gestão das unidades de saúde.>
Para isso, seria auxiliado por sua mulher, Helena Witzel, e pelo ex-secretário de Estado da Saúde Edmar Santos, que delegou algumas atribuições a subordinados sob investigação.>
Segundo o inquérito, que tramita em sigilo, houve ilegalidades no processo de contratação da organização social Iabas para administrar os hospitais provisórios. Para isso, diz a investigação, foram fraudados os valores dos orçamentos de diversos itens do atendimento a vítimas da Covid-19.>
A PF cumpriu 11 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e São Paulo para apurar supostas fraudes. Agentes foram ao Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, e à antiga casa de Witzel no Grajaú, zona norte do Rio de Janeiro.>
Após a ação, Witzel negou que tenha cometido irregularidades e usou as declarações da deputada Carla Zambelli para afirmar que a ação foi política.>
"Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos", disse o governador, em nota.>
"Quero manifestar minha absoluta indignação com um ato de violência que hoje o Estado democrático de Direito sofreu. A narrativa que construída e foi levada ao ministro Benedito é absolutamente fantasiosa. Não vão conseguir colocar em mim o rótulo da corrupção", completou.>
"Não há absolutamente nenhuma participação ou autoria minha em nenhum tipo de irregularidade nas questões que envolvem as denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal. Estranha-me e indigna-me sobremaneira o fato absolutamente claro de que deputados bolsonaristas tenham anunciado em redes sociais nos últimos dias uma operação da Polícia Federal direcionada a mim, o que demonstra limpidamente que houve vazamento, com a construção de uma narrativa que jamais se confirmará. A interferência anunciada pelo presidente da república está devidamente oficializada. Estou à disposição da Justiça, meus sigilos abertos e estou tranquilo sobre o desdobramento dos fatos. Sigo em alinhamento com a Justiça para que se apure rapidamente os fatos. Não abandonarei meus princípios e muito menos o Estado do Rio de Janeiro".>
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