Publicado em 27 de maio de 2020 às 10:05
Comprovantes de pagamento para o escritório da primeira-dama do Rio, Helena Witzel, estão entre os elementos de prova que embasaram a ordem de busca e apreensão na residência oficial do governador Wilson Witzel.>
No pedido de operação na casa do governador e no escritório de sua esposa, o Ministério Público Federal afirma haver vínculo estreito e suspeito entre a primeira-dama e as empresas de Mário Peixoto, fornecedoras do Estado.>
Peixoto foi preso há dez dias pela Polícia Federal, no âmbito das investigações da Lava Jato sobre atos durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Mas, segundo a PF, a organização criminosa alvo da apuração manteve sua atuação nas contratações emergenciais voltadas para o combate à pandemia de Covid-19.>
Agentes da PF cumpriram 17 mandados de busca e apreensão nesta terça (26), expedidos pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).>
>
Os responsáveis pela Operação Placebo dizem ter reunido provas indicando que Witzel está no topo de uma organização que fraudou o orçamento até das caixas d'água de hospitais de campanha no Rio.>
Dados da investigação, enviados pelo Ministério Público Federal no Rio ao STJ, afirmam que Witzel "tinha o comando" das ações para, supostamente, lesar a gestão das unidades de saúde.>
Para isso, seria auxiliado por sua mulher e pelo ex-secretário da Saúde Edmar Santos, que delegou atribuições a subordinados sob investigação.>
Além da busca de evidências, Benedito Gonçalves destacou a necessidade de os investigadores terem acesso ao sigilo fiscal e telemático (de mensagens) dos alvos da apuração.>
O inquérito no STJ foi aberto no último dia 13, com base em provas obtidas em duas investigações conduzidas no Rio pela Procuradoria da República e o Ministério Público estadual. Os mandados foram solicitados pela PGR (Procuradoria-Geral da República).>
Gonçalves ressaltou a dificuldade de investigar pessoas que conhecem o funcionamento da Justiça. Witzel é ex-juiz de carreira e deixou a profissão para se candidatar ao Executivo fluminense.>
"Estamos tratando de supostos ilícitos cometidos por alguns investigados com conhecimento jurídico, cuja obtenção de prova torna-se bastante difícil. Assim, a medida cautelar se mostra imprescindível em razão da necessidade de assegurar a preservação de elementos comprobatórios de materialidade e autoria delitiva", escreveu. >
Witzel afirmou que não cometeu irregularidades e apontou interferência de Bolsonaro na investigação por meio da Polícia Federal. A primeira-dama também negou ter cometido ilegalidades. >
"Afirmam [os investigadores] que as provas coletadas até este momento indicam que, no núcleo do Poder Executivo do estado do Rio, foi criada uma estrutura hierárquica, devidamente escalonada a partir do governador, que propiciou as contratações sobre as quais pesam fortes indícios de fraudes", afirmou o ministro do STJ. >
Há, segundo a PGR, suspeita de fraude na contratação da organização social do Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) para a montagem e gestão de hospital de campanha para pacientes infectados pelo coronavírus. O contrato foi avaliado em R$ 835 milhões, depois reduzido para R$ 770 milhões. >
"Informam [os investigadores] que foram apresentados orçamentos fraudados para montagem e desmontagem de tendas, instalação de caixas d'água, geradores de energia e pisos para a formação da estrutura dos hospitais de campanha, tudo com o conhecimento do [então] secretário de Saúde", disse Gonçalves. "Provas policiais dão conta que os demais orçamentos foram apresentados ao estado para escamotear a fraude na contratação, aparentando uma legalidade inexistente." >
A suspeita sobre o hospital de campanha surgiu num depoimento dado por Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde, preso sob suspeita de irregularidades nas compras de respiradores. >
Ele mencionou o governador ao falar sobre a contratação do Iabas e o caso foi enviado para a PGR. O teor das declarações é mantido sob sigilo. >
Em outra frente de investigação, o MPF detectou que Helena Witzel firmou contrato com a empresa DPAD Serviços Diagnósticos, ligada, segundo a Procuradoria, ao empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito deflagrada há duas semanas. >
O contrato previa o pagamento de 36 parcelas mensais de R$ 15 mil por serviços advocatícios. Os pagamentos se iniciaram em agosto de 2019, segundo comprovantes obtidos pela investigação. Há a suspeita de que o repasse seja uma propina paga ao governador, por meio de um contrato fraudulento. >
Peixoto, cuja família tem uma empresa de mão de obra terceirizada, era alvo de investigação havia três anos, suspeito de pagar propina a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE). >
O empresário se vinculou a Witzel durante a campanha eleitoral, quando contratou como advogado para a empresa de sua família Lucas Tristão, à época coordenador da candidatura do ex-juiz. >
É atribuída a Peixoto a nomeação de cargos no Detran, na Cedae, no Inea e na Loterj, entre outros órgãos da administração estadual. A empresa de sua família, a Atrio Rio, já firmou R$ 81 milhões em contratos com a gestão Witzel, boa parte sem licitação. >
A primeira-dama afirmou, em nota, que seu escritório "prestou serviços para a empresa apontada pelo MPF, tendo recebido honorários, emitido nota fiscal e declarado regularmente os valores na declaração de imposto de renda". >
"A diligência nada encontrou que pudesse comprovar alegações de seus requerentes. A advogada Helena Witzel reitera seu respeito às instituições, mas lamenta que a operação tenha sido imbuída de indisfarçada motivação política", diz a nota. >
O advogado Alexandre Lopes, que defende Peixoto, afirmou que não há relação ilícita entre o empresário e Witzel. >
"Qualquer acusação neste sentido é absolutamente descabida e irreal. Questões políticas não se misturam com questões jurídicas. Investigações policiais devem ter como norte a imparcialidade", disse. "Nenhuma empresa vinculada a Mário Peixoto contratou com o Governo do Estado, na área de saúde, durante a epidemia de Covid-19." >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta