Publicado em 29 de agosto de 2022 às 19:27
SÃO PAULO E BRASÍLIA - A resposta tímida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ofensiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre o tema corrupção durante o debate de domingo (28) provocou apreensão no comando da campanha do petista.>
Integrantes da equipe avaliam que Lula perdeu o timing ao ser questionado sobre corrupção na Petrobras pelo chefe do Executivo, seu principal adversário na corrida eleitoral. Militantes do partido cobraram nas redes uma reação mais enfática do ex-presidente.>
Apesar disso, a cúpula da campanha resiste à mudança na estratégia definida até o momento - de não dar enfoque ao tema.>
Nas palavras de um integrante da cúpula petista, Lula não pretende levar o debate "ao pântano" que, na opinião dele, seria uma zona de conforto para Bolsonaro. A campanha, dizem aliados, segue pautada por temas da economia.>
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A ideia, segundo interlocutores de Lula, é fazer com que o tema seja abordado em peças divulgadas nas redes sociais e durante entrevistas concedidas pelo ex-presidente - e, a princípio, não levar o assunto ao horário eleitoral em rádio e TV.>
"Só interessa a quem não tem propostas ficar falando do passado", diz o advogado Cristiano Zanin, que integra a coordenação jurídica da campanha. Segundo ele, o tema já foi exaustivamente tratado pelo ex-presidente.>
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a cúpula da campanha avalia que Lula errou na primeira resposta sobre corrupção - após pergunta feita por Bolsonaro. Ele foi orientado a não atacar o chefe do Executivo, mas acabou sendo passivo demais no embate com o presidente, avaliam.>
A ideia era que ele repetisse a fórmula usada em sabatina do Jornal Nacional, na semana passada, em que chegou a admitir corrupção na Petrobras, mas ao longo da entrevista mirou o presidente ao tratar de suspeitas de desvios na gestão atual.>
A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), no entanto, afirmou nesta segunda-feira (29) que achou "satisfatória" a resposta que Lula deu ao ser questionado sobre corrupção no debate organizado por Folha de S.Paulo, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura.>
"Ele falou sobre os seus processos, falou o que aconteceu, que foi perseguido para não ser presidente da República. Acho que foi bem satisfatório.">
Ela disse ainda que a postura mais ofensiva de Bolsonaro "não surpreendeu" e que Lula não foi ao debate para "ficar se confrontando" com o chefe do Executivo. "O que foi colocado no debate ele respondeu no tempo certo, na hora certa, sem fazer esse confronto que era o que nós não queríamos.">
Apesar disso, a campanha passou a reavaliar a participação de Lula nos próximos debates presidenciais, com exceção do promovido pela TV Globo, que marca o encerramento do primeiro turno das eleições.>
A intenção, dizem aliados, é condicionar a presença do ex-presidente aos demais debates à definição de regras que permitam contra-ataques.>
Segundo relatos, o próprio petista se queixou do formato do debate de domingo afirmando que ele não permitia respostas imediatas quando atacado.>
Gleisi disse que a campanha irá "avaliar convite a convite" dos próximos debates. "Não há problema em participar. Obviamente que a gente quer discutir um pouco o formato, o desse debate é muito engessado" afirmou a petista, para quem o líder nas pesquisas "fica sempre sendo o alvo" e "muitas vezes não consegue falar".>
Segundo Gleisi, no entanto, a campanha avaliou "de forma positiva" a participação do ex-presidente no debate.>
"O propósito era o presidente falar para o povo brasileiro sobre o seu legado, os seus feitos, falar sobre as propostas que nós temos e ele conseguiu falar isso. Abordou vários temas, foi respeitoso, foi tranquilo e era esse o propósito desse debate.">
Uma pesquisa qualitativa sobre o desempenho de Lula no Jornal Nacional apontou como positiva sua atuação, especialmente no discurso sobre o que fez e fará.>
A intenção original era que o ex-presidente mantivesse o mesmo tom no debate de domingo, desde que Bolsonaro não fosse tão incisivo. O objetivo era que Lula soasse equilibrado, porque pesquisas indicam que o eleitor, sobretudo de classe média, rechaça postura agressiva.>
Na tentativa de ser ponderado, porém, o petista acabou sendo passivo demais.>
Uma ala também defende que, caso Lula compareça aos próximos debates, ele redobre o treinamento, principalmente no que diz respeito ao tema corrupção, que será constantemente repisado por Bolsonaro.>
Uma corrente sugere que Lula se debruce sobre o caso apelidado de "rachadinha" no Rio de Janeiro, além da evolução dos patrimônios de membros da família de Bolsonaro.>
A avaliação é que, conforme a campanha avança, o ex-presidente fica com cada vez menos margem para errar. E, embora a avaliação majoritária da campanha tenha sido de que Lula ficou no empate neste domingo, ele precisa investir em avançar entre eleitores.>
Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que atua na coordenação da campanha, o debate foi um "jogo para jogar mais na defesa". "As partidas para jogar mais no ataque serão mais perto da data da eleição", diz.>
De acordo com aliados, Lula foi ao debate a contragosto porque tendia a concordar com uma ala da coordenação da campanha que defendia que ele não fosse, porque, como líder das pesquisas, seria alvo de ataques. O ex-presidente parecia cansado também.>
Uma outra preocupação entre aliados do ex-presidente é a rouquidão de Lula. Eles ponderam qual imagem que se pode passar, porque o petista está fazendo esforço e isso pode parecer agressividade no discurso.>
Integrantes da cúpula do PT afirmam que Lula está bem de saúde. O excesso de rouquidão na voz, dizem, tem a ver com os eventos de campanha e com um refluxo gástrico adquirido pelo ex-presidente. O petista tem tomado bastante água, feito tratamento caseiro com mel e exercícios com fonoaudiólogo.>
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