Publicado em 31 de outubro de 2022 às 13:42
SÃO PAULO - Desde 1989, quando foram realizadas as primeiras eleições após a ditadura militar (1964-1985), o candidato à Presidência derrotado sempre se manifestou logo após o resultado oficial. Naquele ano, o político em tal situação era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito neste domingo (30) pela terceira vez.>
Atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL) quebrou essa tradição ao ir dormir sem reconhecer a vitória do oponente, confirmada pelo TSE (Tribunal Superior Tribunal). Às 22h06, as luzes do Palácio da Alvorada foram apagadas sem pronunciamentos a apoiadores ou visitas de aliados — o presidente se isolou e não quis receber ministros, apenas seu candidato a vice-presidente, Walter Braga Netto (PL).>
A atitude está em linha com a postura adotada por Bolsonaro ao longo de seu mandato, durante o qual levantou dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral. As acusações recaem inclusive sobre as eleições de 2018, quando venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno por mais de dez pontos percentuais.>
No dia do primeiro turno deste ano, ele foi questionado repetidas vezes se reconheceria o resultado, mas não respondeu. "Com eleições limpas, sem problema nenhum, que vença o melhor", disse, antes de votar.>
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A última tentativa de levantar suspeitas sobre as eleições foi com um relatório de supostas fraudes que teriam sido cometidas por rádios no Nordeste. O documento, que apresenta fragilidades, alegava ter havido desigualdade na veiculação das inserções de propaganda das campanhas dos dois candidatos.>
Em 1989, Lula se manifestou dois dias após a votação, quando 96,69% das urnas haviam sido apuradas — naquele pleito, o sistema era de votação em papel, o que implica em maior tempo para a contagem.>
Antes, quando as pesquisas de boca de urna do Datafolha indicavam vitória de Fernando Collor de Mello, o petista disse estar preparado para vitória ou derrota. A pesquisa do instituto indicava empate dentro da margem de erro, então de três pontos percentuais.>
Na época, Collor também decidiu manter silêncio até a divulgação do TSE — até as 23h30 do dia das eleições, resultados extra — oficiais colocavam Lula na frente. Naquele ano, as eleições foram tumultuadas. Em nota publicada na imprensa dois dias depois do pleito, o PT denunciou, enquanto aguardava os resultados oficiais, o que via como "procedimentos imorais e ilícitos" usados contra Lula.>
No dia seguinte, ele falou à Folha: "Do ponto de vista do resultado quantitativo das eleições, acho que meu adversário ganhou, e isto tem que ser respeitado", afirmou. "Sou oposição intransigente.">
Desde então, os candidatos derrotados cumprimentam o opositor. Em 2014, mesmo com o posterior pedido de "auditoria especial" dos resultados levado a cabo pelo PSDB, Aécio Neves ligou no mesmo dia da votação para Dilma Rousseff (PT) para cumprimentá-la pela vitória.>
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