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É economista-chefe do Banestes e professor da UVV

Tarifaço nos EUA abala café capixaba e nos lembra das lições de 1929

O crack da bolsa de valores de Nova York já nos alertava sobre a necessidade de diversificar nossa economia. Mas, saltamos para 2025, percebendo que o destino de dependência ainda se mantém

  • Antônio Marcus Machado É economista-chefe do Banestes e professor da UVV
Publicado em 31/07/2025 às 10h57

Em 28 de outubro de 1929, o mundo viu os mercados tremerem com o crack da bolsa de valores de Nova York, um evento implacável que impactou diversas economias, incluindo a do Brasil. Naquela época, o café era o principal produto de exportação brasileiro, representando mais de 50% do total e cerca de 70% do cafezinho comercializado globalmente. Os Estados Unidos eram o principal comprador, absorvendo quase 80% dessa produção.

Saltamos para 2025 e, embora os percentuais tenham mudado, o destino se mantém. O Brasil continua sendo o maior fornecedor de café para os EUA, detendo 33,3% desse mercado, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), e 38% da produção global. Exatamente esse setor, crucial para nossa economia, foi duramente atingido pelo recente "tarifaço".

No Espírito Santo, o café representa cerca de 60% das exportações, gerando aproximadamente R$ 10 bilhões em receita em 2024. Com as novas tarifas, as economias capixaba e brasileira na totalidade são preocupantemente abaladas.

Cafeicultura une gerações e gera renda para famílias brasileiras
Cafeicultura une gerações e gera renda para famílias brasileiras. Crédito: José Gomercindo / ANPr

Felizmente, a celulose e o munério foram incluídos na lista de exceções. As rochas ornamentais, que representam 56% das exportações brasileiras para os EUA, também foram isentas em parte, com destaque para o quartzito, que ganhou popularidade entre os norte-americanos.

Mesmo com essas exceções, no entanto, o impacto é generalizado: direta ou indiretamente, todos foram afetados. Essa situação tende a provocar perda de empregos e renda, além de uma queda na atividade econômica, o que se traduzirá em redução do nosso PIB. As contas públicas, até então exemplares, sofrerão abalos conjunturais.

Assim como em 1929, fica a lição de que precisamos urgentemente diversificar nossas exportações, tanto em termos de destinos quanto de produtos. É fundamental agregar valor à indústria extrativa e de semielaborados, buscando maior competitividade. Contudo, o que se observa é um forte crescimento na exportação de terras-raras e matérias-primas (raw material), justamente os setores atingidos pelo "raio" de um novo crack.

A sensação é de que não estamos felizes por termos ganhado, mas por termos perdido menos. Essa mentalidade precisa mudar. É imperativo que paremos de transferir para outros a responsabilidade por nossas falhas ou omissões, evitando afrontar parceiros comerciais e líderes de outras nações. Apenas com a democracia, a diplomacia e as negociações comerciais republicanas como pilares inabaláveis, construiremos um futuro melhor para o Brasil.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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