Em 28 de outubro de 1929, o mundo viu os mercados tremerem com o crack da bolsa de valores de Nova York, um evento implacável que impactou diversas economias, incluindo a do Brasil. Naquela época, o café era o principal produto de exportação brasileiro, representando mais de 50% do total e cerca de 70% do cafezinho comercializado globalmente. Os Estados Unidos eram o principal comprador, absorvendo quase 80% dessa produção.
Saltamos para 2025 e, embora os percentuais tenham mudado, o destino se mantém. O Brasil continua sendo o maior fornecedor de café para os EUA, detendo 33,3% desse mercado, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), e 38% da produção global. Exatamente esse setor, crucial para nossa economia, foi duramente atingido pelo recente "tarifaço".
No Espírito Santo, o café representa cerca de 60% das exportações, gerando aproximadamente R$ 10 bilhões em receita em 2024. Com as novas tarifas, as economias capixaba e brasileira na totalidade são preocupantemente abaladas.
Felizmente, a celulose e o munério foram incluídos na lista de exceções. As rochas ornamentais, que representam 56% das exportações brasileiras para os EUA, também foram isentas em parte, com destaque para o quartzito, que ganhou popularidade entre os norte-americanos.
Mesmo com essas exceções, no entanto, o impacto é generalizado: direta ou indiretamente, todos foram afetados. Essa situação tende a provocar perda de empregos e renda, além de uma queda na atividade econômica, o que se traduzirá em redução do nosso PIB. As contas públicas, até então exemplares, sofrerão abalos conjunturais.
Assim como em 1929, fica a lição de que precisamos urgentemente diversificar nossas exportações, tanto em termos de destinos quanto de produtos. É fundamental agregar valor à indústria extrativa e de semielaborados, buscando maior competitividade. Contudo, o que se observa é um forte crescimento na exportação de terras-raras e matérias-primas (raw material), justamente os setores atingidos pelo "raio" de um novo crack.
A sensação é de que não estamos felizes por termos ganhado, mas por termos perdido menos. Essa mentalidade precisa mudar. É imperativo que paremos de transferir para outros a responsabilidade por nossas falhas ou omissões, evitando afrontar parceiros comerciais e líderes de outras nações. Apenas com a democracia, a diplomacia e as negociações comerciais republicanas como pilares inabaláveis, construiremos um futuro melhor para o Brasil.
LEIA MAIS SOBRE O TARIFAÇO
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.