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Rota de ferrovia desativada no ES pode dar lugar a projetos que desafogam o tráfego

Rota de ferrovia desativada no ES pode dar lugar a projetos que desafogam o tráfego

Recursos obtidos com a devolução do trecho capixaba da FCA à União deverão ser revertidos em expansão e melhoria do sistema ferroviário

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 18:22

 Trecho da FCA, que está desativada do Espírito Santo, em deterioração
Trecho da FCA, que está desativada do Espírito Santo, em deterioração Crédito: FERNANDO MADEIRA

Estratégica para o transporte de cargas, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) corta sete Estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, inclusive o Espírito Santo. No território capixaba, porém, um trecho de 250 quilômetros, que atravessa 11 municípios, está desativado.

A malha inativa será devolvida à União. O processo faz parte da renovação antecipada da concessão federal da FCA, administrada pela empresa VLI Logística, e promete redefinir o papel da ferrovia na economia capixaba.

“Em 1996, o governo federal concedeu a malha da então Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), subdividindo-a em vários lotes que foram assumidos por diferentes empresas privadas. No caso da malha capixaba, coube à FCA operar, manter e investir no trecho. Com o tempo, a empresa concluiu que a operação do segmento não era economicamente viável e, por isso, desistiu de sua exploração”, explica o subsecretário de Estado de Desenvolvimento Regional, Celso Guerra.

Segundo Guerra, a ferrovia já se encontra, na prática, desativada há muitos anos. A devolução do trecho está em andamento e deve ser concluída até o início de 2026. Pela devolução, a concessionária pagará multa, que será revertida em expansão e melhorias no sistema ferroviário ainda ativo.

O subsecretário diz que o governo do Estado está empenhado na viabilização de dois projetos ferroviários estratégicos para o Espírito Santo. Um deles seria a solução para acesso às cargas do agronegócio brasileiro, especialmente ao noroeste mineiro e regiões de Goiás e Mato Grosso — produtores de grãos, principalmente soja e milho, em alta demanda pelo mercado asiático.

O projeto envolve obras para aumentar a eficiência da FCA, especialmente no trecho de acesso ao noroeste mineiro, e a requalificação do ramal de Piraquê-Açu, que liga a linha tronco da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) ao complexo portuário do Parklog ES.

Com um investimento estimado de cerca de R$ 2,5 bilhões, a expectativa é que, resolvidos os gargalos, o volume de cargas movimentadas pelos portos capixabas possa crescer em até 30 milhões de toneladas, o que representa um incremento de aproximadamente 25% em relação à movimentação atual.

O segundo projeto é a implementação da EF 118 via concessão, que substituirá a funcionalidade do trecho atual da FCA e conectará a linha tronco da EFVM, em Santa Leopoldina, até São João da Barra (RJ), e futuramente até Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A ferrovia integrará o Espírito Santo à malha nacional, oferecendo acesso aos mercados do Centro-Sul do Brasil de forma mais eficiente em custos e sustentabilidade do que o transporte rodoviário.

Segundo o subsecretário, há estudos para implantação de bitola mista no caso da EF 118, com trilhos inicialmente para bitola métrica, mas com dormentes preparados para receber um terceiro trilho, em bitola larga (1,60m), o que favorece a incorporação de vagões com maior capacidade e carga conteinerizada.

“A decisão sobre os projetos, forma e viabilidade é do governo federal e, em última instância, precisa ser pensada a integração entre malhas e o apetite dos investidores que serão atraídos para o processo de concessão desta nova ferrovia”, acrescenta Guerra.

Abandono e indefinições

Os municípios cortados pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) lidam com os efeitos do abandono e da indefinição. Em Viana, Cariacica, Vila Velha, Domingos Martins, Marechal Floriano, Cachoeiro de Itapemirim, Vargem Alta, Muqui, Atílio Vivácqua, Mimoso do Sul e Alfredo Chaves, as prefeituras aguardam a formalização da devolução e a definição sobre quem ficará responsável pela gestão dos trechos.

Em Vila Velha, onde o traçado de 1,7 km atravessa bairros densamente povoados, o espaço está inativo e cercado de incertezas. “Até o momento, o município não recebeu qualquer apoio técnico ou financeiro da União, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ou do governo do Estado. Estamos à disposição para colaborar na reestruturação urbanística e ambiental necessária para o futuro uso do trecho”, informa a prefeitura.

Antiga estação ferroviária Leopoldina, da FCA, em Vila Velha
Antiga estação ferroviária Leopoldina, da FCA, em Vila Velha Crédito: FERNANDO MADEIRA

Na Região Serrana, municípios como Marechal Floriano e Domingos Martins apostam no turismo ferroviário como alternativa de reaproveitamento. O projeto Trem das Montanhas Capixabas, apoiado pelo governo do Estado, prevê a reativação de parte do percurso histórico entre Viana e Alfredo Chaves. “Nosso objetivo é transformar a antiga FCA num eixo de cultura, turismo e mobilidade sustentável”, defende o secretário de Turismo de Marechal Floriano, Enildo Cardoso.

Em Alfredo Chaves, o prefeito Hugo Luiz relata que a falta de manutenção já comprometeu trechos inteiros. “Há dormentes deteriorados e vegetação sobre os trilhos. Estamos em tratativas com o Ministério dos Transportes para buscar soluções conjuntas”, diz.

Em cidades como Cachoeiro de Itapemirim e Vargem Alta, o impacto econômico é mais direto. O escoamento de cargas industriais e agrícolas depende hoje, quase exclusivamente, das rodovias, elevando custos e pressionando a infraestrutura viária. Além das perdas logísticas, o abandono da via férrea gera passivos ambientais e urbanísticos, como ocupações irregulares e furtos de materiais.

Apesar do cenário adverso, gestores municipais veem na futura devolução uma oportunidade de requalificação urbana e integração regional. Projetos de ciclovias, avenidas-parque e corredores turísticos estão sendo estudados em diversos municípios, mas todos dependem da definição jurídica e da liberação formal do leito ferroviário.

A Sedes reconhece que o desafio vai além da recuperação física da ferrovia. Envolve um novo modelo de integração entre Estado, União e municípios, com foco em sustentabilidade e competitividade. “A logística é a grande aposta do Espírito Santo para o enfrentamento da reforma tributária e para reposicionar o Estado como corredor eficiente de exportações brasileiras”, conclui Celso Guerra. 

Situação dos trechos da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) no Espírito Santo:

  • Vila Velha: prefeitura estuda integrar o traçado ao transporte público e a projetos turísticos ligados ao Porto de Capuaba.
  • Cariacica: prefeitura defende a implantação de um novo sistema de transporte de passageiros, como VLT ou BRT. 
  • Viana: prefeitura estuda transformar o corredor ferroviário em avenida, ciclovia e rota turística.
  • Domingos Martins: prefeitura participa do projeto Trem das Montanhas Capixabas, que pretende reativar o transporte turístico entre as cidades serranas.
  • Marechal Floriano: prefeitura defende a retomada do trem turístico, com apoio do governo do Estado.
  • Alfredo Chaves: prefeitura informa que as estações de Matilde e Ibitiruí estão sendo revitalizadas para uso cultural e turístico.
  • Vargem Alta: prefeitura busca formalizar a devolução e pretende transformar o traçado em corredor turístico e educativo.
  • Cachoeiro de Itapemirim: prefeitura participa das discussões para uso turístico e cultural coordenadas pelo governo do Estado.
  • Muqui: prefeitura informa que  busca preservar o patrimônio ferroviário.
  • Atílio Vivácqua: prefeitura tenta preservar áreas próximas às estações de ocupações irregulares e furtos de estrutura.
  • Mimoso do Sul: prefeitura afirma que parte dos trilhos foi furtada e áreas urbanas foram revitalizadas.

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