Consumidor que não tinham hábito de comprar pela internet utilizaram a modalidade durante a pandemia
Consumidor que não tinham hábito de comprar pela internet utilizaram a modalidade durante a pandemia. Crédito: Pixabay

Lojas virtuais e consultorias on-line ampliam mercado na pandemia

Pandemia acelerou o processo que já estava em andamento de adesão de mais empresas ao comércio eletrônico e outros canais digitais

Publicado em 03/12/2020 às 00h00
  • Simone Azevedo

    Reportagem especial para o Anuário ES

Diante dos efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus, até mesmo os setores da economia que já atuam com a criatividade precisaram se reinventar para recuperar as perdas no pós-pandemia. Isso porque os segmentos de economia criativa, turismo, serviços e comércios estão entre os mais impactados pela crise, segundo mapeamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Observar as necessidades de consumo e de comportamento geradas por essa nova realidade para se adequar é uma preocupação ainda maior para as pequenas e microempresas, que foram as mais afetadas pela pandemia. De acordo com a Pesquisa de Impactos da Pandemia nos pequenos negócios, realizada pelo Sebrae e FGV, no início da pandemia, apenas 27% dos negócios tinham conseguido realizar mudanças para continuar funcionando. Mais para o fim de 2020 esse número representava 64%.

“Quem conseguiu se adequar às mudanças vai levar essas iniciativas como uma experiência positiva, mas nem todos os setores conseguiram. O turismo, por exemplo, está entre os mais afetados pela pandemia, uma vez que a circulação de pessoas sofreu reduções. A reinvenção, nesse setor, vai muito além do uso das redes sociais adotadas por 72% das micro e pequenas empresas capixabas durante este período. Exigirá que os negócios promovam ajustes e adaptações na sua oferta de produtos e serviços”, explica o gerente de competitividade e produtividade do Sebrae-ES, Luiz Felipe Sardinha.

O presidente da Federação das Associações de Microempresas, Empresas de Pequeno Porte e Empreendedores Individuais do Estado (Femicro), José Vargas, explica que a prioridade da entidade está em capacitar as empresas para a adaptação à nova realidade.

José Vargas

Presidente da Femicro

"Trabalhar do modo tradicional de antes da pandemia não será mais possível. O uso das tecnologias tem sido fundamental na readaptação. O e-commerce, por exemplo, é responsável pela sobrevivência de várias empresas de comércio e serviços"

E foi por meio da tecnologia que a Femicro pode auxiliar mais de 240 micro e pequenos negócios a se manterem próximos dos clientes durante o período de isolamento social. “Criamos a plataforma www.comprenoes. com.br, em parceria com o Instituto Sindimicro, Aderes e o Sebrae-ES, na qual pequenos empreendedores de qualquer ramo do Estado cadastram, gratuitamente, seus produtos e serviços. Tem salão de beleza, floricultura, alimentação. É bem diversificado. Então, o cliente acessa, navega e encontra o que deseja. A plataforma funciona como uma ponte que conecta e aproxima os empreendedores capixabas do público consumidor”, explica Vargas.

Na avaliação do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio), José Lino Sepulcri, a pandemia acelerou um processo, que já estava em andamento, de adesão das empresas ao comércio eletrônico.

“É uma tendência mundial e é um movimento benéfico. Para as empresas que ainda não pretendiam fazer essa adesão, foi a única saída para continuar operando. E, dessa forma, clientes que nunca fizeram compras pela internet provavelmente tiveram sua primeira experiência e talvez transformem isso em hábito. De março a julho de 2020, o faturamento do e-commerce avançou 42%, comparado ao mesmo período do ano anterior O empresário tem que estar atento a essas novas demandas, e o comércio presencial deve estar atento a esses outros atributos de competitividade”, afirma Sepulcri.

Inovação e adaptação

Empreendedores criam novas formas de trabalhar

Para quem trabalha com economia criativa, a tecnologia também tem sido uma aliada. Thais Schoereder Pirola é baby planner. Ela trabalha assessorando os futuros pais e mães sobre organização necessária à chegada do bebê.

Thais, que tem uma empresa especializada nessa área, vai até a casa das famílias para realizar uma consultoria personalizada sobre enxoval, segurança e planejamento para o pós-parto. Mas com a pandemia, ela precisou migrar a consultoria presencial para as plataformas digitais.

“Com essa mudança, a consultoria perdeu um pouco da sua característica individualizada, mas eu precisei me reinventar justamente no momento em que eu estava em processo de divulgação dos serviços. Para o pós-pandemia, voltarei aos atendimentos presenciais, mantendo alguns serviços online”, disse Thais.

Mas para funcionar, a tecnologia precisa ser empregada de forma inteligente, alerta o gerente de competitividade e produtividade do Sebrae- -ES, Luiz Felipe Sardinha. “É necessária uma boa estratégia de marketing digital alinhada aos valores praticados pela empresa, além de um bom planejamento de como se comunicar e se relacionar com o cliente por meio de diferentes plataformas. Uma boa gestão financeira é essencial para que os negócios caminhem no sentido da recuperação”, destaca.

Membro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo, Sebastião Demuner avalia que a economia criativa é o modelo do futuro. “É necessário avaliar pontos fortes, identificar as necessidades locais e regionais e buscar inovação para ofertar um serviço completamente diferenciado. Inovação é palavra”, diz o economista.

Exemplo de inovação, Natasha Siviero é celebrante de casamento e leva para os noivos e convidados palavras de afeto que representam a história do casal. Com a impossibilidade de aglomerar pessoas devido à pandemia, esse serviço, que ainda é novo no Espírito Santo, antes mesmo de se consolidar, já precisou se reinventar.

“A realidade atual tem consolidado uma tendência de levar os casamentos para espaços mais abertos, ao ar livre, em lugares que têm uma relação afetiva com a história ou com o estilo de vida do casal. Outra opção que tem se tornado comum são os casamentos intimistas, para a família e poucos amigos, e os elopement wedding, que são celebrações somente com o casal, o fotógrafo e o celebrante. As festas grandiosas estão dando lugar a celebrações mais afetivas e intimistas, e a pandemia tem consolidado isso, inclusive para outros tipos de eventos”, avalia a celebrante.

Natasha Siviero é celebrante de casamento
Natasha Siviero, celebrante de casamento, teve que se reinventar na pandemia. Crédito: Rafa Ramos fotografia

Para recuperar as perdas, o economista Ricardo Paixão avalia que os segmentos de economia criativa, turismo, serviços e comércios precisam se adaptar às mudanças comportamentais dos clientes. Para isso, ele considera fundamental treinar e capacitar os colaboradores para atenderem às novas demandas de consumo e de comportamento.

“Os clientes vão estar muitos mais exigentes. Limpeza, segurança, protocolos de higiene, praticidade de pagamento e de acesso. Tudo isso demanda capacitação”, disse. Paixão ressaltou o exemplo do turismo.

Ricardo Paixão

Economista

"Quem trabalha com turismo vai precisar oferecer uma nova estrutura de segurança e higiene. É o álcool que vai precisar estar sempre disponível, a garantia do uso de máscaras nas dependências de hotéis, a reconfiguração de passeios e ambientes de alimentação e lazer. Os empreendedores vão precisar ficar atentos às novas necessidades impostas pela pandemia"

O gerente de competitividade e produtividade do Sebrae-ES concorda. “O conceito de turismo de experiência, bem como a criação de pacotes família para receber os hóspedes com o mínimo de contato com outros públicos e oferecer possibilidades de lazer ao ar livre, são alternativas para alavancar os negócios”, avalia Sardinha.

Mas, além da criatividade de cada empreendedor, para a readaptação no pós-pandemia, o poder público tem um papel fundamental nesse processo. “As entidades representativas desses segmentos precisam sentar em uma mesa de negociação com o poder público para discutir políticas de incentivo à recuperação, como, por exemplo, linhas de crédito específicas e direcionadas. Esse é o desafio que se apresenta para os atuais e futuros gestores públicos”, destaca Paixão.

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