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Expansão planejada cria complexos logísticos 'amigos da vizinhança' no ES

Expansão planejada cria complexos logísticos 'amigos da vizinhança' no ES

Planejamento urbano nos municípios capixabas é forma de ligar portos, indústrias e cidades sem comprometer qualidade de vida da população

Publicado em 23 de dezembro de 2025 às 18:38

Contêineres
Contêineres no pátio do Terminal de Vila Velha Crédito: Carlos Alberto Silva

O desenvolvimento urbano e econômico passa por uma equação cada vez mais desafiadora: integrar cidade, porto e indústria em um mesmo planejamento estratégico. A Região Metropolitana da Grande Vitória concentra importantes complexos industriais e portuários e enfrenta o desafio de equilibrar a expansão das áreas logísticas e produtivas com o cotidiano urbano, assegurando que esse crescimento não comprometa a mobilidade, a qualidade ambiental e de vida nos municípios.

Para promover uma integração sustentável, na avaliação do presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), Jorge Silva, é preciso englobar três dimensões: econômica, social e ambiental. O equilíbrio entre elas exige planejamento, tecnologia, participação social e execução alinhada.

Ele observa que há uma complexidade de convivência entre as áreas urbanas e as zonas de grande movimentação de carga, o que traz impactos de mobilidade, ruído, emissões de poluentes, segurança viária, acessos para moradores, e pressão sobre o uso do solo urbano.

Para Jorge Silva, algumas das principais estratégias para a construção de uma logística eficiente passam pela definição de corredores logísticos; melhoria da acessibilidade e mobilidade urbana com garantia de transporte público, ciclovias e calçadas; monitoramento e mitigação de poluição atmosférica e ruído; uso da tecnologia para empregar soluções de logística urbana inteligente; e governança participativa envolvendo moradores, sindicatos industriais, operadores portuários e autoridade municipal e estadual para estabelecer indicadores de qualidade de vida.

Jorge Silva, presidente do Crea-ES
Jorge Silva, presidente do Crea-ES Crédito: Crea/Divulgação

Os Planos Diretores Municipais (PDMs) desempenham papel central na construção de uma logística eficiente. Eles precisam refletir as dinâmicas da economia, das cadeias de escoamento e dos grandes nós de infraestrutura. É importante que essas regras contemplem uso do solo, vias de acesso, condicionantes ambientais e de mobilidade com base nas projeções de expansão.

Jorge Silva

Presidente do Crea-ES

A definição de vias específicas para transporte de cargas, segregando o fluxo pesado do cotidiano residencial ou do comercial, é uma importante alternativa. Em Vila Velha, de acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Everaldo Colodetti, para assegurar a eficiência das operações logísticas, a prefeitura desenvolveu projetos estruturantes, com modernização dos acessos viários estaduais e federais e a criação de um corredor logístico contínuo, que conecta a Estrada de Capuaba à BR 101, facilitando o fluxo direto para o Terminal Portuário de Vila Velha (TVV) e retirando o tráfego pesado das áreas urbanas.

Há três anos à frente da concessão do Porto de Vitória, com terminais na Capital e em Vila Velha, a Vports ressalta que, sabendo que a multimodalidade é fundamental para o desenvolvimento socioeconômico, já foi capaz de entregar uma nova alternativa logística conectando o complexo portuário à ferrovia, que agrega eficiência e, consequentemente, contribui para a mobilidade urbana, destaca o diretor-presidente da concessionária, Gustavo Serrão.

Vports
Gustavo Serrão, presidente da Vports Crédito: Carlos Alberto Silva

[A Vports] já foi capaz de entregar uma nova alternativa logística conectando o complexo portuário à ferrovia, que agrega eficiência e, consequentemente, contribui para a mobilidade urbana.

Gustavo Serrão

Presidente da Vports

Somam-se à essa iniciativa da autoridade portuária, para garantir fluidez nas rotas de acesso, a utilização de equipamentos que permitem descarga de mercadorias com até metade do tempo, a ampliação em três vezes da capacidade estática do porto para melhoria do fluxo logístico, reforma e ampliação dos gates de acesso, ampliação da quantidade de balanças de pesagem, implantação do sistema de monitoramento de caminhões para organização do fluxo rodoviário e melhoria da sinalização.

O desafio da sustentabilidade social e territorial é equalizar o crescimento das áreas portuárias e industriais para que não gere novos gargalos de mobilidade, com intervenções de melhoria da acessibilidade. Na Capital, Vitória, a administração municipal adotou tecnologia para garantir o fluxo dos moradores.

“Em Vitória, nós temos o polo norte da cidade com áreas industrial e residencial muito fortes, e o polo sul, onde está localizado o porto. E nós temos basicamente duas vias arteriais principais que dão acesso a essas regiões, que são a avenida Fernando Ferrari/Reta da Penha e a avenida Dante Michelini/Avenida Vitória. Para evitar os gargalos de mobilidade, nós estamos investindo em modernização semafórica, sistema de comunicação com os cruzamentos com resposta rápida, sistema de inteligência artificial para fazer leitura do fluxo de veículos, além dos investimentos em ciclovia e ciclorrotas”, enumera o secretário de Transportes, Trânsito e Infraestrutura Urbana de Vitória, Alex Mariano.

A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do ES (CAU/ES), Priscila Ceolin, compara Vitória ao município de Santos (SP), umas das principais cidades portuárias do Brasil, que, na avaliação dela, tem desafios semelhantes à Capital capixaba na integração das áreas produtivas com as grandes áreas residenciais e comerciais.

“Santos é uma referência para acompanhar como a cidade está solucionando seus impasses entre indústria, porto e vida urbana. Outra boa referência é Rotterdam, cidade portuária na Holanda, que tem uma qualidade ambiental e de vida muito boa, porque a logística do porto é muito bem pensada, com horários e locais definidos para o trânsito de cargas. Lá, o planejamento urbano é feito com diálogo entre poder público, população, indústria e porto”, avalia Priscila.

Priscila Ceolin também defende o PDM como instrumento necessário para direcionar o crescimento da cidade e mediar os interesses com o limite geográfico. 

Priscila Ceolin é arquiteta e urbanista, pós graduada em Direito Urbanístico e Ambiental Conselheira do CAU/ES
Priscila Ceolin, presidente do CAU-ES Crédito: CAU/ES/Divulgação

As áreas portuárias e industriais têm necessidade de crescimento. Mas é preciso garantir que a expansão leve em conta a cidade e a preservação do patrimônio.

Priscila Ceolin

Presidente do CAU-ES

A presidente do CAU/ES vai além e propõe um planejamento territorial integrado, considerando a Região Metropolitana como um todo. “Vitória não tem mais espaço para crescer, por que não ampliar para outras áreas? Serra, município vizinho, tem forte vocação logística com grandes galpões. Penso que é importante que as cidades dialoguem e a Grande Vitória atue em conjunto para que o desenvolvimento econômico e o planejamento urbano funcionem”, aponta Priscila. 

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