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Campo mais tecnológico aumenta renda de famílias da agroindústria

Campo mais tecnológico aumenta renda de famílias da agroindústria

Agroindústrias do Espírito Santo agregam valor à produção rural e incrementam renda familiar

Publicado em 26 de dezembro de 2024 às 12:17

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Produtos do agro valem mais após serem beneficiados
Produtos do agro valem mais após serem beneficiados. (Pixabay)

A agropecuária ainda figura no imaginário brasileiro como uma atividade manual, familiar e geradora de insumos para o setor de alimentos. No entanto, as atividades de transformação têm alterado essa realidade e deixado o campo do Espírito Santo mais industrial.

Além de investir em novas tecnologias para acelerar a produtividade e garantir bons resultados para as culturas, o agro capixaba quer apostar ainda mais no trabalho das agroindústrias. Isso porque esses negócios têm o poder de aumentar o valor agregado das mercadorias, incrementando, assim, a renda de empreendimentos de diversos portes.

“Os pequenos produtores rurais entenderam que ser apenas fornecedor de matéria-prima e vender para uma indústria é abrir mão de uma boa parte do lucro. Então, eles começaram a buscar meios de agregar mais valor à produção, processando o insumo para ganhar mais”, explica o médico-veterinário Arivald Santos Ribeiro, responsável pelas agroindústrias no Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar de Pequeno Porte (Susaf/ES), em Guarapari.

Essa busca por diversificar e inovar aquece a economia como um todo. Outra vantagem é que a renda familiar disponível para o consumo se alarga e novos empregos são criados. Como explica a economista Adriana Rigoni Gasparini, professora na Universidade Vila Velha (UVV), a industrialização do agronegócio está ligada ao desenvolvimento econômico do Estado e tem um impacto social.

“É uma cadeia completa que vai desde a oferta de empregos no campo, diretamente envolvidos com o plantio (ou criação), até as embalagens, a seleção dos produtos para categorização por qualidade e, depois, o transporte”, diz a economista.

Modernização

Para dar mais eficiência à fabricação, principalmente de alimentos, o investimento em tecnologia tem sido crucial para as agroindústrias. Contrariando um receio que surge quando inovações são implementadas nas empresas, Gasparini defende que a modernização não vai substituir a mão de obra, mas sim qualificá-la. Segundo a economista, a necessidade de alimentos e insumos sendo produzidos continua e pode até aumentar, à medida que mais pessoas se envolvem no setor.

Dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2017, mostram que as pequenas agroindústrias capixabas movimentam R$ 75 milhões por ano e empregam diretamente 16 mil pessoas. Além disso, para 48,3% das famílias produtoras, a atividade é a principal fonte de renda, segundo o Diagnóstico da Agroindústria Familiar no Espírito Santo, realizado pelo Incaper em 2018.

R$ 75 milhões
POR ANO SÃO MOVIMENTADOS PELAS AGROINDÚSTRIAS DE PEQUENO PORTE NO ESPÍRITO SANTO

Mais mercados

Além dos resultados financeiros, outro fator que estimula a expansão do setor agroindustrial, de acordo com Ribeiro, é a criação do Susaf. Tocado com apoio do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), o sistema tem como objetivo harmonizar serviços de registro, inspeção e fiscalização das agroindústrias animais.

“Os produtores que obtêm essa equivalência podem comercializar o produto no Estado inteiro, então isso alavanca bastante o surgimento de agroindústrias no Espírito Santo”, explica o médico-veterinário, que ainda pontua a presença dos jovens nesses espaços de produção agrícola e pecuária. “Essas agroindústrias de pequeno porte estão nas mãos de jovens que antes saíam para a cidade, mas agora retornam para a propriedade rural da família e implementam a mecanização.”

É o caso da família Marques, proprietária do Laticínios Marques, em Guarapari. Hoje comandado pelos três irmãos engenheiros – de produção, química e de alimentos –, o negócio começou de forma artesanal: a mãe produzia queijos para o consumo da própria família.

Irmãos se uniram para empreender na fabricação de laticínios
Irmãos se uniram para empreender na fabricação de laticínios. (Divulgação)

Luiza Marques conta que, após concluírem os estudos, os irmãos voltaram para a zona rural e investiram no negócio, que começou com a venda da matéria-prima – o leite – na feira da cidade. “Na época, começou com apenas 30 litros de leite e a produção só do queijo fresco. Com o tempo, aprendemos a fazer o meia-cura. A demanda começou a aumentar, porque o produto era bom.”

Com a procura por mais opções de lácteos processados, os três decidiram registrar o laticínio e fazer as adaptações necessárias para viabilizar a produção maior e mais diversificada. “Hoje, estamos com 30 produtos. Temos uma linha de queijos especiais, ricotas e também uma linha de iogurtes.”

A produtora também pontua que todos os insumos necessários para viabilizar o negócio são comprados de outros produtores da região. “O leite que nós produzimos não é suficiente, então compramos de mais dois produtores das redondezas. Para conseguir o leite e valorizar a produção, nós pagamos um valor acima da média, o que também aumenta o preço final do que vendemos. Você não tem que conquistar o cliente pelo preço, e sim pela qualidade. Porque quem compra pelo preço deixa de comprar quando encontra outro mais barato”, opina Luiza.

Aumentar a qualidade do produto para agregar mais valor a ele também foi o objetivo principal que motivou os fundadores da startup Olho do Dono a desenvolver um software de inteligência artificial voltado para a pecuária.

Tecnologia desenvolvida no Espírito Santo inovou na pecuária
(Divulgação)

A partir de mais de 1,5 milhão de imagens 3D de bois, uma rede foi treinada para identificar o peso dos animais, sem a necessidade de locomoção do rebanho. O processo tradicional, além de demorado, também pode resultar na perda de peso do gado, gerando prejuízos. Por isso, o CEO da empresa, Pedro Mannato, conta que a aplicação da tecnologia no campo para pesar os animais promove o aumento da produtividade e lucratividade.

“O equipamento proporciona agilidade e frequência maior da pesagem. Com isso, é possível tomar decisões mais rapidamente, para que o gado ganhe peso mais rapidamente. Isso é importante porque a pecuária está com margens cada vez mais apertadas”, argumenta Mannato.

Para o CEO da startup, tornar as produções mais tecnológicas melhora a gestão e, consequentemente, o aproveitamento. Conseguir acompanhar a criação bovina com base em dados e indicadores proporciona o aumento da produção sem a necessidade de mais equipamentos ou terras, o que contribui para uma agropecuária mais sustentável e com menor impacto ambiental.

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