Smart cities: desenvolvimento inteligente, sustentável e humano
Smart cities: desenvolvimento inteligente, sustentável e humano. Crédito: Shutterstock

As cidades capixabas que estão entre as mais inteligentes do Brasil

Seis municípios do ES estão listados no Ranking Connected Smart Cities, que avalia o estágio de desenvolvimento inteligente, sustentável e humano

Tempo de leitura: 10min
Vitória
Publicado em 24/11/2021 às 02h10

Nono lugar em inovação entre os Estados brasileiros, o Espírito Santo conta hoje com seis municípios listados no Ranking Connected Smart Cities: VitóriaVila VelhaSerraLinharesCachoeiro de Itapemirim e Colatina. O estudo, desenvolvido pela Urban Systems, mapeia, por meio de uma série de indicadores, o estágio das cidades brasileiras para o seu desenvolvimento inteligente, sustentável e humano.

O termo “smart cities” diz respeito àqueles entes subnacionais que criam soluções capazes de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, preservar o meio ambiente e ainda levar ao desenvolvimento social e econômico de maneira sustentável.

O presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis, André Gomyde, reforça que a construção de um território inteligente passa por todo um processo, e embora seja comumente ligado à tecnologia, não se resume a ela. É preciso que alinhe planejamento, infraestrutura e inteligência das pessoas.

Quando se pensa em uma cidade, por exemplo, são pelo menos cinco camadas a se considerar. A primeira e mais básica entre elas são as pessoas. Isto é, o governo precisa ter conhecimento sobre a população daquele local, entender sua cultura, o que move sua economia, qual o nível de conhecimento tecnológico, entre outros detalhes.

Essas características variam de local para local e, por esse motivo, não é possível realmente replicar um modelo de cidade inteligente. O que se aplica a uma cidade do Nordeste brasileiro, ou até de outro país, não pode ser copiado em um município capixaba justamente por haver particularidades distintas.

“A segunda camada é o subsolo. Ninguém sabe hoje o que tem no subsolo das cidades. Quando tem um vazamento, por exemplo, e você precisa resolver, é uma complicação muito grande, que poderia ser solucionada mais facilmente se houvesse, por exemplo, sensores que indicassem a origem do problema. E esse é apenas um exemplo.”

A terceira camada é chamada de solo, e abrange tudo aquilo que está acima da terra: calçadas, postes, construções, que são todos elementos que podem se beneficiar da tecnologia para se tornarem mais eficientes e garantir maior qualidade de vida aos moradores.

“A quarta camada é a infraestrutura tecnológica, como parques de iluminação pública inteligente. É possível trocar as luminárias tradicionais por uma tecnologia que conecte um poste ao outro, que permita levar internet às áreas onde estão instalados. Alguns municípios capixabas já caminham neste sentido.”

E, por fim, existem as plataformas de gestão das cidades, que passam por investimentos em internet das coisas, inteligência artificial e tecnologias de blockchain. Toda essa combinação permite ter uma visão mais abrangente da cidade e faz com que funcione de maneira mais eficiente.

Atualmente, diversos municípios capixabas buscam formas de aderir a este novo modelo, como é o caso de Vitória, que ocupa o quinto lugar no ranking nacional. Na Capital, o cerco inteligente de segurança, por exemplo, já mostra seus efeitos, com redução em 60% das ocorrências de furtos e roubos de veículos. A iniciativa agora será ampliada em âmbito estadual.

Mas há uma série de outras ações sendo desenvolvidas no município, conforme destaca o prefeito Lorenzo Pazolini, ao reforçar que a Capital tem apostado na inovação e na economia criativa a exemplo da criação do Centro de Inovação do Parque Tecnológico. “Estamos trabalhando com o conceito de cidade inteligente, utilizando a tecnologia da informação como ferramenta para qualificar o acesso dos moradores.”

O município também está investindo na modernização e expansão das redes de internet livre em locais públicos. A velocidade de conexão nos pontos foi dobrada, e o plano prevê, ainda, a renovação de toda a rede de fibra ótica do município e a aquisição de novos equipamentos, além de mais 100 novos pontos de wi-fi.

“Vitória também está se preparando para receber a tecnologia 5G, para isso vamos nos adequar à legislação federal para a licença de empresas que operam o serviço.”

Vista aérea das obras do Cais das Artes em Vitória
Vista aérea das obras do Cais das Artes em Vitória. Crédito: Cleferson Comarela/VIXFLY DRONES

Uma cidade inteligente usa a tecnologia como uma força transformadora de sua sociedade, a fim de criar soluções para os seus desafios do dia a dia e melhorar a qualidade de vida das pessoas de todas as classes sociais.

Nesse sentido, Pazolini destaca ainda outros projetos do município, como os novo marcos regulatórios para aprovação de projetos e licenciamento de obras e licenciamento ambiental, a Licença Ambiental de Regularização (LAR), que estimula a adequação e regularização de empreendimentos ou atividades que não estão licenciados (informais ou clandestinas) ou que estão com licenças vencida.

 Lorenzo Pazolini

Lorenzo Pazolini

Prefeito de Vitória

"A rede semafórica de Vitória está sendo modernizada. Passaram a ser usados novos recursos, uso da nuvem, migração da forma de comunicação entre os equipamentos e uso de cabeamento de alumínio, o que previne furtos de fios de cobre, além do uso de sistema 4G. Sério problema para a mobilidade, a sincronia foi ajustada e os semáforos agora se comunicam melhor, com diminuição das reclamações"

Outros municípios da Grande Vitória também caminham nessa direção, buscando tornarem-se mais inteligentes. Vila Velha, por exemplo, mudará todo o sistema de iluminação pública, o que levará, além de iluminação, conectividade, mais vigilância e melhora no trânsito.

O contrato prevê a substituição dos 35 mil pontos de iluminação na cidade por lâmpadas de LED. Com a nova estrutura de iluminação, será possível agregar serviços como alertas de disparo de arma de fogo, controle de semáforos, vagas de estacionamento e monitoramento de aglomerações, entre outros, depois que os pontos forem equipados com acesso wi-fi e câmeras 4K.

Cariacica ficou fora do ranking geral das 100 principais cidades inteligentes no país. Contudo, já se mobiliza para alterar essa realidade. Além de adotar uma série de estratégias de digitalização de seus órgãos públicos, quer municipalizar o trecho da BR 262 que vai do trevo de Jardim América até o viaduto da Ceasa, o que corresponde do km 1,3 ao km 7,1 da rodovia.

Um dos objetivos da prefeitura ao assumir a gestão do local, que atualmente é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), é realizar a troca da iluminação, substituindo lâmpadas antigas pelas de LED.

Serra também tem rotineiramente implementado uma série de ações para que a cidade se torne mais eficiente e sustentável, conforme destacou o prefeito Sérgio Vidigal.

Ele salienta que os projetos em curso buscam conectar a prefeitura com a população e conectar a população com o município, a fim de que se tenha mais agilidade e redução da burocracia, simplificando o acesso aos serviços oferecidos pelo poder público municipal.

Sérgio Vidigal

Sérgio Vidigal

Prefeito da Serra

"Ainda em nosso plano de governo, definimos que queríamos transformar a Serra numa cidade inteligente, humana, criativa e sustentável. E começamos a fazer vários investimentos em informatização, em ferramentas tecnológicas"

"Ainda não implementamos todas as mudanças necessárias. Hoje, temos em torno de 70 a 80 serviços disponibilizados via ferramentas on-line e temos convicção de que esse é o caminho para que a cidade se torne mais atrativa para novos investimentos.”

O objetivo geral, ele explica, é fazer com que a Serra se torne um lugar melhor não apenas para investir, mas também de se viver, por isso, há um cuidado com os ativos ambientais do município.

“Além disso, temos vários projetos urbanísticos, principalmente voltados à mobilidade urbana. Estamos fazendo um projeto importante de intervenção na ligação da BR 101, a ligação Serra-Jacaraípe, na Avenida Norte Sul, outras obras que o governo do Estado está tocando, como o contorno de Jacaraípe. Mas eu diria que a nossa redenção sob o ponto de vista urbanístico é a obra do Contorno do Mestre Álvaro, que ao mesmo tempo que cria um novo polo de desenvolvimento da cidade - e a Serra hoje já é muito atrativa para investimentos em logística -, ainda resolve muitos de nossos problemas de mobilidade urbana.”

Linhares fez espécie de parque em volta de lagoa da cidade
Linhares fez espécie de parque em volta de lagoa da cidade. Crédito: Divulgação/Prefeitura de Linhares

Em Linhares, a prefeitura destaca que o desenvolvimento de uma smart city está alinhado ao processo de construção contínuo da cidade, e é o que vem sendo executado pelas equipes de gestão integrada do município, que envolve servidores de diversas secretarias.

“Muitas conquistas já estão disponíveis aos cidadãos como 60% do parque de iluminação pública do município já com tecnologia de LED e gestão remota; a geração de boletos de tributos via web e pagamento dos mesmos via Pix; matrículas dos alunos da rede municipal de ensino exclusivamente na internet; além da disponibilidade de informações cadastrais e de planejamento urbano no site da Prefeitura de Linhares.”

Entre outras ações, o município também oferta internet gratuita em praças públicas e está alinhado à Lei de Liberdade Econômica, adotando o prazo de até 24 horas para a abertura de novas empresas, desburocratizando a formalização de novos negócios.

Também atua no estudo de um aplicativo para que, além de decidir as prioridades de cada região, o cidadão possa indicar projetos, iniciativas e obras que entende com potencial para melhorar a vida coletiva.

Guerino Zanon

Guerino Zanon

Prefeito de Linhares

"O grande conceito que norteia as cidades inteligentes e que buscamos aplicar no governo municipal, para que tenhamos também um município inteligente, é o uso da tecnologia para qualificar a infraestrutura urbana"

“Trabalhamos para que a população consiga utilizar os recursos que o município oferece de uma maneira mais simples e eficiente. São esses, inclusive, os pilares das cidades inteligentes. É a partir desse trabalho de conexão entre os cidadãos, o capital social e a tecnologia, que o uso dos recursos é otimizado e há melhoria na qualidade de vida”, afirmou o prefeito de Linhares, Guerino Zanon.

Em Colatina, a prefeitura trabalha em um projeto de Parceria Público-Privada (PPP) para o processo de modernização do parque de iluminação pública municipal. A meta será modernizar todo o sistema de iluminação da cidade para lâmpadas de LED, com tecnologia de ponta, aumentando a eficiência energética, com menos impacto ambiental, redução de consumo de energia e, consequentemente, de custos, elevando a vida útil das lâmpadas.

Em Cachoeiro de Itapemirim, a gestão do prefeito Victor Coelho também tem se pautado pelo emprego da tecnologia a fim de servir melhor ao cidadão. A iniciativa, segundo ele, visa a inserir o município no conceito de “cidade inteligente” e para isso, tem melhorado e ampliado continuamente a oferta de serviços on-line para facilitar a vida da população e tornar os processos mais ágeis e simples.

Uma dessas medidas está no desenvolvimento de aplicativos de celular para facilitar a interação com o cidadão. Ele destaca a ferramenta “Todos Juntos”, que serve como canal da Ouvidoria Geral do município para registro de solicitações de serviços da prefeitura, denúncias e reclamações.

“Em breve, será lançado o ‘Ponto Cachoeiro’, aplicativo para usuários do transporte coletivo acompanharem, em tempo real, a movimentação dos ônibus das linhas municipais. Para democratizar o uso de vagas públicas de estacionamento e melhorar a mobilidade urbana, implantamos o Estacionamento Rotativo. Por aplicativo, além de fazerem o pagamento pelo uso do estacionamento com facilidade, os condutores conseguem saber onde há vagas disponíveis”, ressalta Coelho.

Este ano, a atual administração ampliou e modernizou o sistema de videomonitoramento do município. Ao todo, são mais de 70 câmeras, incluindo equipamentos com tecnologia de leitura de placas veiculares, o que permitirá, em breve, a implementação do cerco eletrônico e inteligente de segurança, para combate a furtos de veículos e outros crimes.

Entre outros planos, Coelho destaca que, por meio de Parceria Público-Privada (PPP), a prefeitura quer ampliar e modernizar a iluminação pública da cidade. Informa também que haverá um sistema de telegestão, ou seja, gerenciamento remoto das luminárias. Além disso, será possível fazer a integração da iluminação pública com os demais sistemas municipais, como os de videomonitoramento e gestão semafórica, garantindo um gerenciamento muito mais eficiente.

“Nosso trabalho em favor de uma cidade mais inteligente e humana tem ganhado reconhecimento. Estamos na 59ª posição entre as 100 cidades mais inteligentes do Brasil”, ressalta Coelho.

Na avaliação do chefe do Poder Executivo municipal, uma cidade inteligente também busca o desenvolvimento econômico sustentável. Para isso, foi implantada recentemente uma política de incentivos fiscais para atrair empresas, investimentos e criar empregos.

Sistema de iluminação será modernizado em Cachoeiro
Sistema de iluminação será modernizado em Cachoeiro. Crédito: Divulgação/Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim

OS DESAFIOS PARA QUE OS MUNICÍPIOS DO ES SE TORNEM AINDA MAIS INTELIGENTES

Embora seis municípios capixabas integrem a lista das 100 principais cidades inteligentes no país, há muitos eixos em que os resultados ainda carecem de avanços.

Vitória, por exemplo, destaca-se em diversas frentes. É a primeira cidade no país quando o assunto é educação e, na área da saúde, ocupa a segunda posição da lista. Na análise de governança, fica na nona colocação. Por outro lado, não chega a integrar o ranking no eixo da segurança.

Em Vila Velha, mobilidade (21º), tecnologia e inovação (27º) e urbanismo (35º) rendem ao município boas posições. Ainda assim, segundo o estudo, poderia ter resultados melhores se investisse mais em áreas como economia, empreendedorismo e meio ambiente.

A Serra, por sua vez, destaca-se nos quesitos urbanismo (15º) e governança (52º), mas ainda tem muito a aprimorar em outros eixos. Alguns deles, na avaliação do próprio prefeito, Sérgio Vidigal, são saúde, educação e segurança pública.

“Precisamos melhorar na educação, na avaliação das notas do Ideb, que é fundamental para a cidade. É preciso ampliar a escolaridade da população, investir na qualificação profissional, mas também precisamos melhorar a saúde pública. Temos ainda um índice razoável de mortalidade infantil na cidade, e precisamos avançar, melhorando ainda o atendimento de atenção primária. Além disso, o saneamento básico, que, com a ampliação que está sendo feita agora de PPP, vai ajudar muito a cidade. Mas nosso grande desafio é a redução dos índices de violência.”

Linhares destaca-se em governança (18º), educação (37º) e urbanismo (69º). Também tem bons resultados em áreas como segurança (76º) e tecnologia e inovação (95º). Por outro lado, fica fora do ranking quando os tópicos são economia, empreendedorismo, meio ambiente e mobilidade.

Em Cachoeiro de Itapemirim, são os bons resultados em meio ambiente (37º), educação (59º), bem como inovação e tecnologia (76º), que chamam atenção. Já em Colatina, os destaques ficam por conta dos eixos de educação (13º) e mobilidade (96º).

Os demais aspectos, contudo, ainda precisam ser mais trabalhados nas cidades. E não simplesmente por causa do ranking, que é mera ferramenta para mapear resultados, mas porque quanto maior o progresso, maior a melhoria na qualidade de vida da população.

Info cidades inteligentes do Anuário. Crédito: Marcelo
Info cidades inteligentes do Anuário. Crédito: Marcelo

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