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Publicado em 2 de dezembro de 2025 às 08:00
O câncer de pele é o tipo de tumor mais frequente no Brasil e responde por cerca de 30% de todos os diagnósticos no país. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), mais de 220 mil novos casos surgem a cada ano, e a maior parte está ligada à exposição solar sem proteção adequada. A boa notícia é que ele geralmente tem um alto índice de cura (acima de 90%) se for diagnosticado e tratado precocemente, e a sua letalidade é baixa em comparação com outros tipos.>
O último mês do ano é de conscientização do câncer de pele. O Dezembro Laranja é uma campanha nacional, criada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em 2014, que tem como objetivo a educação da população quanto à prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento do câncer de pele. O tema deste ano é “Proteger a pele é proteger a saúde”.>
No Espírito Santo, a campanha ganha força diante do cenário epidemiológico do Estado. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2023, houve cerca de 5.410 novos casos de câncer de pele não melanoma entre os capixabas, representando uma incidência de aproximadamente 128,9 casos por 100 mil habitantes. O melanoma, tipo mais agressivo, soma cerca de 90 novos casos ao ano. Informações da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) revelam que comunidades rurais apresentam índices ainda mais preocupantes: entre 10% e 15% das pessoas avaliadas em rastreamentos tinham câncer de pele ou lesões pré-cancerígenas, sendo que 90% desses pacientes são trabalhadores expostos ao sol diariamente.>
O dermatologista Ricardo Tiussi, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Espírito Santo (SBDES), diz que o Espírito Santo vive uma epidemia do câncer de pele. "No nosso estado o câncer de pele representa 40% de todos os casos de câncer, enquanto a média nacional é de 30%. Isto se deve ao fato de sermos uma região litorânea, com hábitos de vida ao ar livre, sol o ano todo e pela nossa população que, em grande parte, possui pele clara de descendência europeia". >
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Outro dado alarmante é que mais da metade dos brasileiros (54%), cerca de 90 milhões, nunca foi ao dermatologista. "É importante conscientizar as pessoas sobre a importância de uma consulta anual com o dermatologista e que ações públicas sejam implementadas para melhorarmos o acesso e o tratamento destes pacientes", reforça o médico.>
Na entrevista, ele fala sobre os sintomas mais comuns do câncer de pele, os métodos de prevenção mais eficazes e os perigos das câmaras de bronzeamento, proibidas no Brasil desde 2019. "O tratamento da doença é incialmente cirúrgico, mas vai depender do tipo específico de câncer de pele e do estágio no qual a doença foi diagnosticada". Confira!>
Quais os tipos de câncer de pele que mais acometem as pessoas? >
Temos dois grandes grupos de cânceres de pele: o melanoma e o não melanoma. Os não melanomas são representados, principalmente, pelo carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular. Estes dois juntos respondem por 95% de todos os cânceres de pele e o melanoma por 3 a 5%. Entretanto, o melanoma, por ser mais agressivo, é responsável por 40% de todas as mortes por câncer de pele no Brasil. O grupo não melanoma se apresenta como uma 'feridinha' que não cicatriza, forma crosta que se desprende e sangra com facilidade, às vezes se assemelha a uma 'cabeça de alfinete' no seu início. O melanoma é semelhante a uma 'pinta' ou 'sinal' de coloração enegrecida, muitas vezes com mais de uma cor, bordas irregulares, assimétrica e de crescimento rápido. >
Quais são as principais causas desse tipo de câncer? >
A exposição solar acumulada ao longo da vida é um dos principais fatores causais, principalmente quando levamos aquela 'queimada' de sol durante atividades recreativas ao ar livre. Este dano ao DNA das células vai se acumulando e pode causar câncer de pele, geralmente na idade adulta. A história familiar da doença é outro fator, além da pessoa possuir pele clara, olhos azuis e cabelos loiros ou ruivos. A pele clara é mais propensa ao dano cutâneo causado pela radiação UVA e UVB do Sol.>
Quais são os primeiros sintomas que devemos ficar mais atentos? >
Feridas que não cicatrizam por mais de quatro semanas, principalmente nas áreas expostas ao sol, como face, couro cabeludo, colo, antebraços e pernas chamam atenção para o tipo de câncer do grupo não melanoma. Em relação ao melanoma, ficar atento às 'pintas' que mudam de cor ou formato, cresceram relativamente rápido ou que surgiram de forma repentina.>
Quais sintomas indicam um estágio mais avançado da doença? >
No início pode ser uma mancha indolor e que não cicatriza. Com o tempo as lesões podem evoluir para feridas que sangram com facilidade, doem ou coçam, crescem rápido de tamanho ou formam feridas profundas. Ínguas próximas à lesão pode ser um sinal de metástase.>
Existe um grupo de pessoas mais suscetível a ter câncer de pele? >
Sim. As pessoas que possuem pele clara, olhos claros, cabelos ruivos ou loiros e que possuem familiares próximos com câncer de pele estão mais predispostos e devem redobrar os cuidados com o sol desde a infância, procurando fazer as atividades ao ar livre debaixo de sombras naturais, usando protetor solar e roupas de proteção.>
Esse tipo câncer também pode aparecer em crianças? >
É mais raro, mas é possível. Por isso, desde cedo, é necessário orientar as medidas de proteção solar e a evitar a exposição direta ao sol entre as 10 horas e 16 horas.>
Quais são os métodos de prevenção mais eficazes? >
A prevenção iniciada logo nos primeiros anos de vida é a forma mais eficaz de se combater o câncer de pele. Medidas eficazes incluem: usar protetor solar todos os dias, mesmo em dias nublados ou dentro do carro e reaplicá-lo a cada duas ou três horas; preferir os com FPS (fator de proteção solar) maiores que 30; proteger-se com barreiras físicas como chapéus de aba larga, bonés, óculos escuros e roupas com proteção UV; evitar o sol entre 10 horas e 16 horas, quando a radiação ultravioleta é mais intensa. Lembrar que o dano solar é cumulativo ao longo da vida e que a prevenção deve ser constante.>
Como deve ser a proteção sob o sol de crianças bem novinhas e idosos? >
O uso de protetor solar é permitido a partir dos seis meses de idade. Existem protetores específicos para a faixa etária pediátrica que são hipoalergênicos e livres de fragrância. Antes disto, preferir as sombras naturais e o uso de proteção mecânicas como roupas e chapéus. Nos idosos a proteção deve ser mas intensa e se faz necessário o autoexame mensal porque é nesta idade que o câncer de pele é mais comum.>
O Espírito Santo vive uma epidemia do câncer de pele? >
No nosso estado o câncer de pele representa 40% de todos os casos de câncer, enquanto a média nacional é de 30%. Isto se deve ao fato de sermos uma região litorânea, com hábitos de vida ao ar livre, sol o ano todo e pela nossa população que, em grande parte, possui pele clara de descendência europeia. Outro fator é a ideia de que o sol não faz mal, além da baixa adesão ao uso do protetor solar.>
Quais cuidados são precisos ao se expor ao sol? >
O que não é saudável é ficarmos 'vermelhos' ou buscarmos estar sempre bronzeados. Para evitar o dano à pele as pessoas devem se proteger embaixo de sombras naturais, evitar os raios solares mais intensos entre as 10 horas e 16 horas, usar roupas com proteção UV, chapéus de aba larga, óculos escuros com proteção UV, além do protetor solar.>
Ricardo Tiussi
DermatologistaA população negra está mais protegida do câncer de pele? >
O câncer de pele é menos comum nas pessoas de pele negra devido à maior quantidade de melanina que funciona como uma barreira natural aos raios solares. Entretanto, ele ainda pode ocorrer, principalmente nas mucosas, regiões genitais, palmas das mãos e plantas dos pés e, por isso, o uso do protetor solar também está indicado.>
Segundo pesquisa da SBD em parceria com Datafolha e a L'Oréal Paris, mais da metade dos brasileiros (54%), cerca de 90 milhões, nunca foram ao dermatologista. Qual a gravidade desse dado? >
É um dado preocupante porque muitas pessoas podem estar com câncer de pele ou outras doenças crônicas que precisam de acompanhamento e não estão sendo tratadas de forma adequada. É importante conscientizá-las sobre a importância de uma consulta anual com o dermatologista e que ações públicas sejam implementadas para melhorarmos o acesso e o tratamento destes pacientes. No caso do câncer de pele, quanto mais cedo o diagnóstico, mais simples é o tratamento e maiores as chances de cura.>
Já uma pesquisa realizada pelo Instituto de Cosmetologia de Campinas(SP) apontou que, em 2024, 65,5% dos brasileiros declararam não passar filtro solar diariamente. O alto custo do protetor solar - para a maioria dos brasileiros- ainda é um dificultador? >
Sim, o custo é uma das barreiras para a implementação do protetor solar na rotina das pessoas. Este item deveria ser classificado como um produto de utilidade pública, com políticas de incentivo, isenção de impostos e programas de distribuição para populações vulneráveis.>
Quais são os perigos das câmaras de bronzeamento? >
As câmaras de bronzeamento estão proibidas no Brasil desde 2009 pela Anvisa. Elas emitem grande quantidade de radiação UVA e UVB que causam envelhecimento da pele, surgimento de manchas e o próprio câncer de pele. O bronzeado nunca é saudável e significa que a pele sofreu uma agressão.>
Recentemente viralizou vídeos de jovens incentivando o bronzeamento sem proteção. Quais os perigos da obsessão da Geração Z pela pele dourada? >
Cada exposição solar sem proteção leva a um dano ao DNA da célula que é cumulativo e acelera o envelhecimento da pele e, com o tempo, podem resultar em câncer de pele. Para o jovem que deseja uma 'pele bronzeada' temos a opção dos autobronzeadores que não lesam a pele e deixam com o aspecto 'bronzeado' desejado.>
Após a cura de um câncer de pele, quais os cuidados especiais deve-se ter? >
A pessoa que teve câncer de pele uma vez tem mais chances de desenvolver um segundo tumor se comparada a quem nunca teve este tipo de lesão. Após um diagnóstico e tratamento corretos é necessário manter o acompanhamento regular com o dermatologista a cada seis meses, nos primeiros dois anos e, depois deste período, anualmente. Fazer o autoexame da pele uma vez ao mês e manter proteção contra o sol de forma rigorosa com roupas, chapéus, óculos escuros e protetor solar é fundamental. Também é necessário evitar o sol no período entre as 10 horas e 16 horas.>
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