Uma nova pesquisa, feita pelo cientista Roy Levin, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, e publicada na revista científica Clinical Anatomy evidenciou que o clitóris proporciona mais do que prazer, sendo também de extrema importância para a reprodução humana.
Durante o trabalho, Levin analisou 15 estudos realizados entre 1966 e 2017 para entender quais seriam essas funções do órgão, e, segundo a revista Galileu, a revisão concluiu que a estimulação do clitóris provoca mudanças físicas que incentivam a fertilização do óvulo.
As alterações seriam: a melhora do fluxo sanguíneo na região vaginal e aumento na lubrificação, nos níveis de oxigênio e na temperatura do órgão. Além disso, o estímulo no clitóris muda a posição do colo do útero (entrada do útero), impedindo que os espermatozoides entrem muito rapidamente no local que vai abrigar o bebê. Com isso, os gametas masculinos só chegam ao útero quando estiverem realmente ativos e preparados para correr até o óvulo.
"O mantra de que a única função do clitóris é induzir o prazer sexual agora está obsoleto. O clitóris tem funções procriativas (reprodutivas) e recreativas (prazer) de igual importância", disse o cientista. "Todas essas alterações genitais são de grande importância para facilitar a possibilidade de sucesso reprodutivo, não importa como ou quando o clitóris é estimulado", finalizou ele.
Porém, Levin considera que apesar de o clitóris ter tido sua função reprodutiva negligenciada por muito tempo, seu estudo não quer determinar que o prazer feminino está em segundo lugar. "O objetivo reprodutivo não supera o papel do órgão na produção de prazer sexual", afirmou.
A sexóloga Virginia Pelles explica que a fertilização não é algo simples, uma vez que o ambiente da vagina possui todo uma estrutura para dificultar a chegada dos espermatozoides fracos ao óvulo,como, por exemplo, um ph ácido, enquanto o ph do líquido seminal é básico.
"Com as mudanças físicas que ocorrem durante a estimulação do clitóris, apontadas pela pesquisa, acontece um aumento do fluxo de sangue no canal vaginal e isso é o que criaria condições mais favoráveis à fecundação. O que a pesquisa relata é que muda o formato, e a estimulação do clitóris aumenta o fluxo vaginal fazendo uma vasodilatação. Isso tudo favorece uma posição do útero que cria um abismo maior entre o espermatozoide e o óvulo, fazendo com que este fique ainda mais forte, detalha Virginia.
De acordo com a sexóloga, este é o primeiro trabalho científico que aponta uma outra função do clitóris para além do prazer. Com isso, segundo ela, significaria dizer que uma mulher que está tendo orgasmos e uma estimulação clitoriana pode estar mais fértil. Até pouco tempo atrás não se sabia nem o tamanho clitóris. Acho que toda essa transição vem como um processo de libertação, avalia a profissional. E complementa: Além disso, a descoberta pode funcionar até como um incentivo (para aquelas mulheres que têm dificuldade de engravidar) a buscar o prazer. Uma vez que muitas mulheres que não sentem prazer acabam se submetendo a uma relação sexual unicamente por conta da reprodução.
Voltando para a pesquisa, o cientista Roy Levin aproveitou os resultados obtidos para criticar a prática da mutilação genital feminina (MGF) prática de mutilar ou remover o clitóris, geralmente feita em meninas jovens, frequentemente em regiões da África, Oriente Médio e Ásia, para evitar que elas tenham prazer ou relações sexuais antes do matrimônio.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a prática causa diversos danos, como dor, sangramentos, problemas urinários e, em alguns casos, pode levar até ao óbito. Além do trauma físico e psicológico, Levin observa que a MGF também pode criar deficiências reprodutivas.
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