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Aos 92 anos, ela toca Ave Maria desde o início da pandemia. Sempre às 18 horas

Aos 92 anos, ela toca Ave Maria desde o início da pandemia. Sempre às 18 horas

Há 8 meses, dona Zazá Paiva proporciona um alento aos seus vizinhos e às pessoas que passam pelo seu prédio, que fica na Avenida Rio Branco,  na Praia do Canto

Publicado em 31 de dezembro de 2020 às 06:02

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Zazá Paiva com a filha, a designer Ivana Paiva, e a bisneta Antonella
BiZazá, como é chamada pela bisneta Antonella, Ivana e Antonella. (Arquivo Pessoal)

Todo dia ela faz tudo sempre igual. Leva um alento aos que passam pela sua calçada, às 18 horas. E quem passa apressado pela avenida Rio Branco, na Praia do Canto, se surpreende com a música. Sempre a mesma: Ave Maria de Schubert. O som vem de uma das janelas do Edifício Professor Fernando Rabelo. E a responsável pelas notas impecáveis é a aposentada Zazá Paiva, de 92 anos.

Há 8 meses, ela oferece esse presente aos seus vizinhos e às pessoas que passam por ali.  Nesses tempos bicudos, proporciona um momento de alegria, oração ou, simplesmente, encantamento na saída do trabalho ou da escola, na ida à padaria ou à academia. "Minha vida mudou, como a de todo mundo. A música fez eu me sentir mais próxima das pessoas. Sou surpreendida por reações de carinho de todas as idades", conta a artista.

Antes de dar início ao show, a janela do quarto de dona Zazá é aberta e o orgão é ligado a uma caixa de som para que a música chegue ao maior número de pessoas possível. De todas as idades. Tem as senhoras que param para rezar, as crianças que param animadas, e pedem bis, e ainda muitos que surpreendem com palmas ao final da audição.

"Nosso prédio fica em frente a uma padaria. E todo mundo que vai comprar pão acaba parando um pouco. Para alguns, é uma forma de finalizar o dia com música. Para outros, um momento de oração", explica a designer Ivana Paiva, filha de dona Zazá.

No começo, os vizinhos desciam para assistir a apresentação da calçada, hoje eles apreciam de suas casas. E as demonstrações de carinho vindas da rua também não param.

"Outro dia passou um carro de polícia e parou em frente à janela. Achei que alguém tinham reclamado do som e que teríamos problemas. Foi quando um policial saiu do carro, tirou o quepe, colocou a mão no peito e ficou ali até o final da música. Devia ter fotografado, mas aquilo nos pegou de surpresa e foi tão emocionante que não tivemos reação", lembra a filha, orgulhosa.

Ivana veio do Rio de Janeiro, onde mora, para ficar com a mãe no início da pandemia. E foi ela que incentivou a aposentada a tocar para humanizar o período de isolamento.

"Minha mãe sempre teve uma cabeça jovem. Sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Só parou de trabalhar aos 70 anos, porque não teve outro jeito. E, nesse período, perdeu o chão. Foi quando sugeri a ela que voltasse a tocar piano, instrumento que tocava quando era jovem", conta.

Dona Zazá, no entanto, acabou se encantando pelo órgão. E, desde então, faz aulas e se apresenta todo o fim de ano com a turma da escola de música. Nesse ano atípico, sem aulas e sem apresentação, a Ave Maria de Schubert, de todas as tardes tem sido o ânimo que a aposentada precisa para acabar bem o dia e proporcionar o mesmo para as pessoas que passam.

FESTA DE ANIVERSÁRIO

Zazá Paiva, 92 anos, toca todos os dias, às 6 horas, Ave Maria para quem passa em sua rua, desde o inicio da pandemia
Zazá Paiva, toda elegante, no dia de seu aniversário de 92 anos. (Arquivo pessoal)

"É o oxigênio dela", diz Ivana, que realizou uma festa surpresa para a mãe no último dia 11 de novembro quando ela completou 92 anos.

"Minha sempre foi festeira. E estava agoniada porque este ano não ia ter festa de aniversário. Aí tive a ideia de fazer uma festa na calçada, com balões, bolo gelado e até megafone", conta, rindo. Com  cabelos pintados, unhas feitas e pérolas, ela fez questão de ficar bonita para o dia, mas nem imaginou que teria uma surpresa. "Ela sempre foi muito vaidosa. Tive que aprender a pintar seus cabelos e fazer sua unha, para que não corra riscos, saindo de casa ou recebendo profissionais aqui".

No dia, logo depois que ela tocou a Ave Maria, Ivana pediu que ela chegasse até a janela para ver a surpresa que já estava armada. "Foi lindo! Cantaram parabéns e teve até um músico tocando violino. Todo mundo de máscara, claro. As pessoas começaram a pedir música, foi uma descontração total. A festa foi encerrada ao som de 'É preciso saber viver', de Roberto Carlos, que é a cara dela e muito oportuno para esse momento".

Dona Zazá, claro, adorou. "Tenho vivido um momento muito especial nessa pandemia. Fico feliz com todas as demonstrações de afeto e por saber que, de alguma forma, estou ajudando as pessoas a finalizar o dia com novo ânimo", disse.

Quem passa pelas redondezas agradece e pede que dona Zazá continue a fazer tudo sempre igual.

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