Publicado em 11 de novembro de 2020 às 08:53
A empreitada de Donald Trump em não aceitar a derrota para Joe Biden ganhou novos e simbólicos contornos nesta semana, o que elevou a tensão e o impasse nos EUA. >
Trump avançou sua cruzada no campo jurídico e político, sob o falso argumento de que a eleição foi fraudada, enquanto Biden foi a público dizer que considera a postura negacionista do presidente "uma vergonha" que deve prejudicar ainda mais o legado do republicano.>
"Eu acho que é uma vergonha, para ser franco. Como posso dizer isso com mais tato? Acho que não vai ajudar o legado do presidente", disse Biden em entrevista a jornalistas em Wilmington.>
Na avaliação do democrata, a recusa da gestão Trump em dar acesso a recursos e informações do governo para o seu time de transição "não terá muitas consequências" e descartou, por ora, um processo legal para obrigar que a burocracia americana admita sua vitória e inicie o processo formalmente, como é de praxe.>
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Assim que um novo presidente é declarado eleito, como foi feito com Biden no sábado (7), a Administração de Serviços Gerais (GSA, na sigla em inglês) autoriza o início da transição, o que ainda não aconteceu.>
Biden tenta ocupar o espaço político e lançou na segunda-feira (9) uma força-tarefa para o combate à pandemia de coronavírus, sua prioridade de campanha. Ele disse que seguirá na transição até janeiro com recursos arrecadados na reta final da campanha - a posse está marcada para 20 de janeiro.>
Trump, por sua vez, ganhou reforço em sua missão de atacar a democracia e deslegitimar a eleição.>
No campo jurídico, o Departamento de Justiça autorizou, na noite de segunda-feira (9), a abertura de inquéritos federais para apurar supostas fraudes no pleito, mais uma vez sem apresentar provas, o que gerou o pedido de demissão do chefe de investigação de crimes eleitorais.>
No âmbito político, integrantes da alta cúpula republicana, como o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, endossaram a narrativa de que Biden ainda não pode ser declarado vencedor, mesmo após a projeção da imprensa americana de que o democrata conquistou mais do que os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral.>
Nesta terça-feira (10), Pompeo falou em "transição suave para um segundo mandato Trump" e se negou a reconhecer a vitória de Biden, utilizando a tese de que é preciso contar "todo voto legal".>
"Nós estamos prontos. O mundo está assistindo ao que está acontecendo. Nós vamos contar todos os votos. Quando o processo estiver completo haverá um eleito selecionado, há um processo, a constituição estabelece de maneira muito clara.">
O secretário havia sido questionado sobre o processo de transferência de poder, que tem sido dificultado pela gestão republicana, e repetiu três vezes que era "ridícula" a pergunta de um jornalista sobre não ser incoerente que o governo americano cobre eleições justas pelo mundo mas não reconheça a derrota agora.>
"Este departamento se preocupa profundamente que as eleições sejam livres e justas ao redor do mundo. Meus funcionários arriscam a vida deles para garantir que isso aconteça. Também encontramos situações em que não está claro, trabalhamos para descobrir fatos, entender se o resultado reflete a vontade do povo.">
Por não haver uma Justiça Eleitoral centralizada os EUA, como no Brasil, a vitória é projetada por veículos de comunicação de acordo com a apuração nos estados, e o derrotado costuma reconhecer que perdeu, entrando em contato com o vencedor semanas antes da oficialização dos números pelo Colégio Eleitoral.>
Quando venceu em 2016, Trump se declarou vitorioso após a agência AP projetar que ele havia derrotado Hillary Clinton e, na ocasião, o presidente não contestou os números da imprensa.>
Além de Pompeo, outros figurões do Partido Republicano seguem espalhando desinformação no esforço de dar apoio à recusa de Trump de reconhecer a vitória do adversário.>
McConnell, por exemplo, afirmou nesta terça que o comportamento do presidente não era motivo de alarde e que o vencedor da eleição será conhecido após a reunião do Colégio Eleitoral, em 14 de dezembro.>
Integrantes do governo Trump ainda têm dúvida sobre quando e se o presidente vai aceitar sua derrota.>
Ele entrou com ações judiciais para contestar o resultado da eleição em diversos estados, mas não tem obtido sucesso na maioria deles.>
A decisão do secretário de Justiça, William Barr, portanto, de autorizar inquéritos federais para apurar supostas fraudes eleitorais, foi considerado um novo degrau na cruzada jurídica de Trump.>
Horas depois, porém, as reações começaram dentro do próprio departamento, quando Richard Pulge, responsável por crimes eleitorais, pediu demissão.>
"Tendo me familiarizado com a nova política e suas ramificações, eu, lamentavelmente, devo renunciar ao meu cargo de diretor da seção de crimes eleitorais", escreveu Pilger aos colegas, segundo o New York Times. Ele seguirá no Departamento de Justiça, mas em um cargo inferior.>
A dúvida é se o republicano vai esperar o resultado de todos os processos ou vai admitir que perdeu quando o Colégio Eleitoral se reunir e divulgar o resultado oficial.>
Mas há exceções no Partido Republicano, como o senador Mitt Romney, que afirma que é necessário convencer Trump a recuar de sua cruzada e reconhecer Biden como presidente.>
A imprensa americana relata que Trump tem sido pressionado por alguns aliados próximos e familiares, como a primeira-dama Melania, a mudar de postura, mas até agora não parece que é isso que vai acontecer.>
O principal argumento de Trump é que o voto por correio - prática comum nos EUA e com baixíssimos índices de irregularidade - pode gerar fraude.>
Neste ano, em razão da pandemia, houve recorde de cédulas enviadas por correspondência, a maioria de eleitores democratas que viraram a apuração na reta final em estados decisivos, como Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Geórgia.>
Haverá recontagem de votos ao menos em Wisconsin e na Geórgia, onde a diferença entre Trump e Biden foi pequena, mas especialistas não acreditam que haja mudança significativa nos números.>
Em 2016, por exemplo, Trump ganhou de Hillary em Wisconsin com praticamente a mesma margem que Biden o venceu desta vez: cerca de 20 mil votos.>
Na ocasião, não houve solicitação de recontagem por parte da campanha democrata.>
23 de novembro>
Limite de prazo para que o último estado, Washington, receba votos por correio postados até o dia da eleição, 3 de novembro>
8 de dezembro>
Prazo final para que para que os vencedores em cada estado sejam determinados. Todas as contestações judiciais e recontagens devem estar finalizadas até esta data>
14 de dezembro>
Os 538 delegados do Colégio Eleitoral se reúnem nas capitais estaduais e depositam votos nos candidatos vencedores em cada estado. Ocorre sempre na primeira segunda-feira após a segunda quarta-feira de dezembro>
23 de dezembro>
Os certificados das votações nos estados devem chegar à capital, Washington>
6 de janeiro>
O Senado e a Câmara dos Representantes contam os votos e anunciam os resultados oficiais em uma cerimônia no Capitólio, em Washington. O atual vice-presidente lidera a sessão>
20 de janeiro>
A nova chapa toma posse em Washington. Desde 1937, a cerimônia ocorre em 20 de janeiro>
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