Publicado em 30 de julho de 2025 às 14:41
- Atualizado há 4 meses
Os presidentes de quatro montadoras com fábricas no Brasil enviaram uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir o veto a incentivos à importação de veículos desmontados ou incompletos. O documento não cita nominalmente nenhuma empresa. Contudo, a chinesa BYD é autora de um pedido à Câmara de Comércio Exterior (Camex) de redução das tarifas de importação desses veículos, identificados no mercado como SKD (semidesmontados) e CKD (desmontados).>
Na segunda, 28, o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), disse que há possibilidade de a Camex definir um plano que atenda parcialmente empresas estrangeiras que ainda não fabricam no Brasil, como é o caso da BYD, e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que vem cobrando um aperto aos benefícios concedidos a carros elétricos.>
"Uma hipótese que está sendo estudada é não reduzir a tarifa, mas dar uma cota. Não para uma empresa, para quem quiser importar até 1º de julho do ano que vem", diz. O vice-presidente ressaltou, porém, que a Camex é formada por representantes de dez ministérios, a quem caberá a decisão final. O exemplo citado por ele foi de uma cota inicial de 50 mil veículos, que cairia gradualmente durante quatro anos.>
Há expectativa de que as solicitações sejam analisadas em reunião extraordinária prevista para esta quarta, 30, mas o MDIC disse que a pauta ainda não estava disponível.>
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Ciro Possobom, da Volkswagen, Evandro Maggio, da Toyota, Emanuelle Cappellano, da Stellantis (dona de Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot), e Santiago Chamorro, da General Motors, assinam a carta enviada a Lula no dia 15 de julho e falam que uma decisão favorável à redução nas tarifas a essas importações deixaria um "legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica".>
O pedido da BYD foi levado à Camex em fevereiro e solicita tarifa de 10% aos semidesmontados e de 5% para os desmontados até 30 de junho de 2028. Esses veículos estão incluídos em um calendário acordado pelo governo Lula de elevação progressiva do imposto de importação, que chegaria a 35% em julho de 2026. Neste ano, as tarifas estão em 26%.>
O setor de autopeças também divulgou na segunda mensagem ao presidente Lula citando preocupação com a possibilidade de o pedido da BYD ser atendido diante da iminente sobretaxa de 50% para produtos brasileiros nos Estados Unidos.>
"A combinação nefasta desses fatores irá, inquestionavelmente, provocar queda de produção e perda de empregos, além da inevitável revisão dos investimentos anunciados por montadoras e pelo setor de autopeças", afirma Cláudio Sahad, presidente da Abipeças e do Sindipeças.>
Os presidentes de montadoras dizem na carta enviada a Lula que a importação de conjuntos de peças não será uma etapa de transição no modelo de industrialização, mas "representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo, do valor agregado e o nível de geração de empregos".>
No pedido feito à Camex, a empresa diz que a oposição ao seu pedido desconsidera etapas da industrialização moderna. "A montagem local a partir de kits é o passo inicial do processo fabril, que requer a instalação de linhas de produção e contratação de mão de obra e treinamento técnico, demanda estrutura logística e rede de fornecedores e, consequentemente, representa compromisso com investimentos industriais futuros como no caso da pleiteante.">
A companhia chinesa também defende que a redução na tarifa para esses tipos de veículo reduz o custo de implantação das linhas de montagem no Brasil, o que permitiria que novas empresas automotivas se instalem mais rapidamente.>
Em comunicado à imprensa intitulado "Por que a BYD incomoda tanto?", divulgado nesta quarta-feira, 30, a montadora chinesa foi bastante contundente em seu posicionamento, defendendo a redução temporária de impostos para a montagem de veículos CKD e SKD, avaliando que outras montadoras, em estágio de nacionalização de produção, já utilizaram a mesma estratégia. >
"A redução temporária de imposto que a BYD pleiteia segue uma lógica simples e razoável: não faz sentido aplicar o mesmo nível de tributação sobre veículos 100% prontos trazidos do exterior e sobre veículos que são montados no Brasil, com geração de empregos locais, movimentação da cadeia logística e pagamento de encargos. Isso não é nenhuma novidade, outras montadoras já adotaram a mesma prática antes de ter a produção completa local. E a BYD está fazendo isso.">
A BYD ainda falou sobre a finalização da primeira etapa das obras da fábrica em Camaçari (BA), onde justifica que o contrato feito com o governo da Bahia previa essa fase inicial de montagem até a finalização da estrutura completa da sua fábrica para começar a produzir no brasil de fato. >
"O que a BYD propõe ao Brasil não é um atalho nem uma esperteza fiscal. É uma visão de futuro com veículos mais limpos, mais seguros, mais conectados e com custo-benefício justo. Ajudar o Brasil a acelerar essa transição é um movimento estratégico não só para a marca, mas para o país", diz o comunicado.>
*Com informações da Folhapress.>
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