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Carros flex são maioria no Brasil, mas só 30% da frota usa etanol, diz estudo

Carros flex são maioria no Brasil, mas só 30% da frota usa etanol, diz estudo

Apesar da maioria dos veículos que circulam no Brasil poderem ser abastecidos com etanol ou gasolina, esta ainda é predominante na hora do motorista escolher na bomba

Publicado em 18 de março de 2024 às 17:46

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Como os carros flex possuem apenas um tanque de combustível, gasolina e etanol se misturam normalmente
Como os carros flex possuem apenas um tanque de combustível, gasolina e etanol se misturam normalmente. (Shutterstock)

A maioria dos veículos vendidos no Brasil é flex —ou seja, pode ser abastecida com etanol ou gasolina, em qualquer proporção—, mas somente 30% da frota utiliza o combustível derivado da cana-de-açúcar. É o que aponta um estudo da consultoria Datagro referente ao mês de janeiro. Se comparado ao mesmo mês do ano passado, houve avanço —o índice era de 19,4%—, mas o patamar está muito abaixo dos 41,5% já obtidos pelo setor, em outubro de 2018.

Os dados foram apresentados pela consultoria num evento de abertura da safra 2024/25 de cana realizado em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), mais tradicional polo sucroenergético do país.

"Tem um trabalho muito grande para ser feito, para ampliar o uso de hidratado na frota flex", afirmou Plínio Nastari, presidente da Datagro. No mínimo, o consumo no período atual, de entressafra, deveria estar em 35%, mas executivos do setor relatam que o patamar recorde já obtido ainda é aquém do ideal.

Segundo a consultoria e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os modelos bicombustíveis representam atualmente 85% da frota de veículos leves circulante no Brasil.

"A gente precisa aumentar essa proporção. Quando começou a venda de veículos flex no Brasil, [o setor questionava] ‘será que um dia boa parte da frota será flex?’ Nós já chegamos a essa situação [...]. Então já estamos no limite, o que precisa fazer é aumentar o uso de hidratado pela frota flex", disse Nastari.

Mais sustentável

A preocupação com o combustível, considerado limpo e, portanto, benéfico ao ambiente em relação à gasolina, é discutida num momento em que o centro-sul do país está prestes a encerrar uma safra que superou as expectativas.

De 590 milhões de toneladas de cana previstas para a região, que concentra os principais estados produtores, a safra deverá terminar o mês com produção de 656,1 milhões de toneladas moídas. Para a próxima safra, a expectativa é de 592 milhões.

Entre os motivos apontados historicamente para o consumidor não utilizar o etanol estão a desvantagem em alguns momentos do ano na hora de abastecer nos postos e, segundo Nastari, mitos existentes em relação ao combustível derivado da cana.

Para ser mais vantajoso, o mercado estima que o preço do etanol tem de ser até 70% do valor cobrado pelo litro da gasolina.

"Tem muitos proprietários de veículos flex que não sabem que o carro é flex, tem muitos mitos que precisam ser derrubados em relação ao efeito do uso do hidratado nos motores, nos automóveis. Tem um trabalho muito grande para desmistificar essas falhas de compreensão que existem em relação ao consumo de etanol", disse o presidente da consultoria.

A ideia de que a adesão ao etanol está abaixo do desejado também é compartilhada por José Guilherme Nogueira, CEO da  Organização das Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

"É muito pouco, já que dois terços preferem a gasolina ao etanol. Isso faz com que os preços não avancem, impactando os produtores de cana e o Consecana", disse. O Consecana é o Conselho de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Etanol, que contempla os preços nos diversos segmentos do setor.

No centro de Ribeirão Preto, o comerciante Eustáquio Freitas abastecia seu veículo Volkswagen Virtus com gasolina, apesar de o álcool custar o equivalente a 61% do valor e ser, portanto, mais vantajoso. "É costume, e acho que o carro rende melhor com gasolina", afirmou.

O empresário Fernando Dantas também completava o tanque de sua Fiat Toro com gasolina no mesmo posto. Questionado sobre a diferença no valor, disse que "não tinha visto" que o etanol era vantajoso.

Crescimento vertiginoso

Dados da Anfavea mostram que a aceitação dos automóveis flex, cujos primeiros modelos foram vendidos em março de 2003 no país, foi rápida. Saltou de 3% dos negócios naquele ano –com veículos como Gol, Palio e Corsa–, para 52% já em 2005.

Dois anos depois, o patamar atingiu 88%, ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou os usineiros de "heróis". De 2008 em diante, os carros flex passaram a superar 90% das vendas, nível que é mantido até atualmente, conforme a Anfavea.

"Nossos veículos flex, que completam neste ano [2023] 20 anos de existência, podem e devem ser estimulados a um maior uso de etanol, com o objetivo de acelerar a descarbonização, já que representam cerca de 90% de nossa frota circulante", afirmou o presidente da associação, Márcio de Lima Leite, no anuário da indústria automobilística de 2023 da Anfavea.

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