Publicado em 8 de abril de 2025 às 12:00
Texto feito por Tiago Taam, para ge.globo
O Rio Branco se sagrou bicampeão do Campeonato Capixaba, no último sábado, após vencer o Porto Vitória, por 2 a 0, e quebrar um jejum de 42 anos. Desde 1983, o Capa-Preta não conquistava dois títulos do Estadual em sequência. No início da temporada, pouco antes da estreia no Campeonato Capixaba, o Rio Branco já parecia tentar pagar uma dívida com o torcedor. O lançamento do uniforme de 2025 foi inspirado no grande time da década de 80, que havia conquistado, até então, o último bicampeonato da história alvinegra.
Se os títulos de 2024 e 2025 estão 'frescos' na memória da torcida capa-preta, o ge.globo volta no tempo para relembrar o histórico bicampeonato do Rio Branco, que aconteceu durante as temporadas 1982/1983.
A saga do bicampeonato alvinegro, há 42 anos, começou em 1982, sob o comando do técnico Gaúcho. O Campeonato Capixaba, naquela edição, era disputado por 8 clubes, que se dividiam em dois grupos de quatro e decidiam 3 turnos. Os vencedores de cada grupo faziam as finais de turno, que classificava o vencedor a um quadrangular final, além de ceder um ponto extra aos campeões.
Foi assim que a disputa final se deu entre Colatina (1º turno), Rio Branco (2º turno), Desportiva (3º turno) e Guarapari (melhor campanha). Após seis partidas jogadas, o Capa-Preta venceu cinco e empatou uma. A taça do 32º título capixaba foi levantada após vencer a Tiva, por 1 a 0, no Araripe.
Visando o bicampeonato, que não vinha há 12 anos, o Rio Branco chegou na temporada de 1983 em busca de quebrar esse novo tabu. A equipe era comandada por Vanderlei Luxemburgo e tinha como destaques o goleiro Gato Félix, o meia Vicente e os atacantes Dé Aranha e Arildo Ratão. Com a fórmula de disputa um pouco diferente em relação ao ano anterior, o Estadual seria decidido em duas fases, de pontos corridos, em turno e returno. Os campeões de cada uma das fases se enfrentariam em uma decisão de dois jogos, com partida extra, caso fosse necessária.
Sendo assim, no torneio que marcou a inauguração do Kleber Andrade, o Rio Branco, comandado por Vanderlei Luxemburgo, começou o Estadual com tudo. Após 14 rodadas, o Capa-Preta venceu a primeiro fase com uma rodada de antecedência. Foram nove vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, para a Desportiva, por 1 a 0, na última rodada. Com o título, o Brancão estava garantido na final.
A segunda fase, porém, não foi boa. O time de Luxemburgo e do capitão Vicente não fez frente à Desportiva, que foi campeã e forçou a decisão pelo título do Campeonato Capixaba. "Em 83, o Vanderlei Luxemburgo era o treinador e eu era o capitão. Jogávamos bem, mas o Vanderlei reclamava muito que nosso time era bom, tinha condição, mas que tínhamos perdido o segundo turno. Ele chamou bastante a nossa atenção. Foi aí que nos unimos, fomos para a final, contra a Desportiva, e saímos campeões", disse Vicente ao ge.globo.
A final, realizada em jogos de ida e volta, foi equilibrada. Na primeira partida, empate por 1 a 1. Na segunda, novamente tudo igual, mas agora sem gols. Dessa forma, Rio Branco e Desportiva Ferroviária chegavam ao terceiro e último jogo, no estádio Engenheiro Araripe, que iria receber um público de 21.505 pagantes, com renda de Cr$ 18.388.000. Com clima de rivalidade na final, a tensão era grande.
Na casa da Desportiva, a torcida alvinegra se fez presente em grande número. Em campo, no entanto, o equilíbrio era marcante. Ainda no primeiro tempo, o atacante Dé, ex-Vasco, sofreu uma entrada no joelho, do volante Japonês, e saiu de campo lesionado. No lugar dele, Valdeci, que havia feito dois gols no torneio, entrava pela ponta-esquerda. A alteração deixou a equipe insegura, já que perdia uma referência.
Porém, na segunda etapa, a partida começou a se desenrolar para o Rio Branco, quando o zagueiro grená Luiz Carlos foi expulso, aos sete minutos. Agora, com o controle do jogo, o Brancão começava a pressionar. Ainda assim, as tentativas não passavam da zaga rival. O empate sem gols voltava a aparecer, até que Luxemburgo e a torcida capa-preta foram agraciados com um enredo de cinema.
Aos 44 minutos do segundo tempo, Vicente cobrou escanteio e Daniel desviou. A bola passou por todo mundo e sobrou para Valdeci, que havia substituído um dos craques do time. O herói improvável completou de pé esquerdo e deu o título ao Rio Branco-ES, de forma parecida ao gol de Jacó, que foi tão criticado ao longo desta temporada de 2025. Após o apito final, a torcida capa-preta invadiu o gramado para festejar o bicampeonato.
"Quando o Dé saiu, a gente ficou muito preocupado, porque ele era um grande jogador, tinha vindo do Vasco e era importante para o time. Na hora, a gente pensou que tudo ficaria mais complicado. Aí teve um escanteio pro Rio Branco. Fui no 'corner' cobrar e quando bati, por ironia, o Valdeci apareceu e fez o gol do título. Foi incrível... o estádio estava lotado. Por ser torcedor do Rio Branco e por ser um clássico contra a Desportiva, aquilo foi muito especial", contou Vicente ao ge.globo.
Na campanha que finalmente quebrou o jejum de 42 anos, Vicente foi ao estádio para torcer pelo Rio Branco. Durante a semifinal, o ex-capitão levou um amigo especial ao Kleber Andrade, para apoiar o Capa-Preta frente à rival Desportiva Ferroviária. Se trata do ídolo riobranquense Baiano, que atuou pelo clube até 1980.
Transferido do Rio Branco ao Santa Cruz, Baiano não conseguiu participar do bicampeonato de 1982/83. Após dois anos pelo Cobra-Coral, o meia 'virou a casaca' e passou a vestir a camisa do Náutico, clube que mais se identificou em Pernambuco. Porém, mesmo com mudanças para rivais, o ex-riobranquense jamais mudaria o seu amor no Espírito Santo. A paixão pelo Capa-Preta foi levada, literalmente, até às nuvens.
"Eu era do Náutico, mas sempre que vinha jogar no Rio de Janeiro, aproveitava e passava em Vitória para ver minha família, amigos e o Rio Branco. Na final de 1983, contra a Desportiva, eu resolvi ir ao Araripe, mesmo tendo que me apresentar no mesmo dia, pela noite, lá em Recife. Decidi correr pra ver um pouco do jogo e só vi parte do primeiro tempo. Um amigo meu, que dirigia, me ajudou a me levar ao aeroporto. Fiquei nervoso porque, quando saí do estádio, o jogo estava 0 a 0. Só soube que o Rio Branco tinha sido campeão ao chegar em Pernambuco (risos)", relatou Baiano ao ge.globo.
Com a presença de ídolos dos anos 80, o Rio Branco levantou o 39º título do Campeonato Capixaba. Foi assim durante as duas semifinais, quando Baiano esteve no Kleber Andrade ao lado de Vicente, e também no Engenheiro Araripe, quando Baiano assistiu ao lado de Geovani Silva, ídolo da Desportiva. Pela decisão, o coração não deixou acompanhar apenas pela televisão. Mesmo sozinho, o alvinegro decidiu sofrer ao lado da equipe de Rodrigo Fonseca, que saiu campeã com dois gols no fim.
"Meu filho, que sempre me acompanha, teve de viajar ao Rio Grande do Sul. Eu tinha dito que não iria no jogo, mas como a gente torce muito, acabei indo em cima da hora. Cheguei lá, fiquei no 'cantinho' e passei um sufoco danado (risos). Eu torço, mas me lembro de quando eu era jogador. O nervosismo aumenta por já ter passado por isso. O importante é que saí do estádio feliz da vida", concluiu Baiano.
Rio Branco vence o Porto Vitória e é campeão do Capixabão 2025
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