Publicado em 31 de maio de 2021 às 19:24
O anúncio de que o Brasil será a sede da Copa América entre junho e julho gerou reações variadas no mundo político. Figuras aliadas ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) procuraram mostrar, embora timidamente, que veem com bons olhos a definição. Os oposicionistas, com diferentes graus de indignação, questionaram a decisão repentina. >
A competição entre as seleções sul-americanas de futebol ficou sem sede no último domingo (30), quando a Argentina abriu mão de recebê-la pelo aumento de casos de Covid-19 em seu território -a Colômbia, que dividiria os jogos com a Argentina, sob tensão social, fora descartada dias antes. Horas depois, na manhã de segunda (31), o Brasil abraçou o torneio. >
A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) agradeceu nominalmente a Jair Bolsonaro pelo acerto, recebido com surpresa em um país que se aproxima das 500 mil mortes pelo novo coronavírus. Pela tabela original, os jogos ocorrerão entre 13 de junho e 10 de julho, o que exige muita agilidade para que o torneio seja realizado. >
Está instalada no Senado uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) justamente para investigar ações e omissões da gestão Bolsonaro na pandemia, e o futebol agora ganha peso na discussão. Figuras como o presidenciável Ciro Gomes (PDT) apontaram que o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboblo, deve ser chamado a depor. >
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"A CPI da Covid tem que agir preventivamente: convocar o presidente da CBF e as autoridades esportivas para saber quais os cuidados que serão tomados para realização da Copa América. A questão não é gostar ou não gostar de futebol. Eu adoro! A questão é não brincar com a vida dos brasileiros. E não fazer demagogia a troco da morte de inocentes", afirmou Ciro. >
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), foi questionado pela reportagem sobre a Copa América e se posicionou de maneira contrária à sua realização. No entanto, ele entendeu, em uma primeira avaliação, que o tema não deve entrar na pauta da comissão. >
"Qual é o atrativo de uma Copa América no Brasil? Qual é o custo e o benefício? Só vejo custo. Mas [apurar a realização no Brasil] não será o papel da CPI. Poderá ser, vai depender da decisão da maioria. Hoje, quem deverá se manifestar sobre isso são os infectologistas, sanitaristas, para falar sobre os riscos, não a CPI. Devemos investigar omissões do governo na CPI. Sou totalmente contra realizar a Copa América", afirmou Aziz. >
Já Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vê como necessária a atuação da CPI no assunto. O vice-presidente da comissão, claro em sua oposição ao governo, afirmou ter protocolado um requerimento para que Rogério Caboclo seja ouvido. De acordo com ele, o requerimento será votado na quarta-feira (2). >
"O governo demorou nove meses para responder a 41 emails da Pfizer oferecendo vacina. E demorou meia hora para responder à Conmebol. São curiosas as prioridades desse governo no enfrentamento da pandemia. É necessário que o Rogério Caboclo venha à CPI para nos informar quais medidas, se é que há medidas sanitárias, serão tomadas para evitar uma propagação ainda maior do vírus com a vinda de 12 países diferentes ao nosso", disse Randolfe à reportagem. >
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), também se mostrou bastante crítico. "Com mais de 462 mil mortes, sediar a Copa América é um campeonato da morte. Sindicato de negacionistas: governo, Conmebol e CBF. As ofertas de vacinas mofaram em gavetas, mas o ok para o torneio foi ágil. Escárnio", publicou. >
Também houve reação na outra Casa do Congresso Nacional. O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) declarou que apelará ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a realização do torneio no Brasil. >
"Os números nossos [da pandemia] e a proibição de eventos não permitem que o presidente Jair Bolsonaro deliberadamente decida que uma Copa desta importância, com dez seleções de dez países onde a gente não sabe como está o controle da pandemia, seja realizada aqui, só pela questão financeira", disse. >
Entre as figuras ligadas ao governo, enquanto o próprio presidente não se manifesta sobre a questão, há uma tentativa de relativizar os riscos. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) admitiu que eles existem, mas afirmou que eles são menores do Brasil do que seriam na Argentina. >
"Segundo as razões da Conmebol, nós temos estádio, organizamos a última [Copa América, em 2019], estamos com o campeonato [Brasileiro] correndo aí, sem problema nenhum", disse Mourão. "É só dividir bem as sedes, acabou. A vantagem nossa é a amplitude do país e a quantidade de estádios. A gente pode dispersar esse povo todo." >
Ainda não há uma definição a respeito das cidades que receberão as partidas. Estados cujos governadores são alinhados a Bolsonaro se mostraram receptivos a servir de palco para os jogos, que, não havendo mudança no cronograma, terão início em duas semanas. >
O governo do Distrito Federal, conduzido por Ibaneis Rocha (MDB), não vê problema em sediar rodadas do torneio e tentou recentemente receber público no estádio Mané Garrincha. Isso é observado com simpatia pela Conmebol, que gostaria de ver torcedores nas arquibancadas ao menos na decisão. >
No Amazonas, dirigido pelo governador Wilson Lima (PSC), também há uma disposição em realizar os jogos "com toda a expertise obtida em grandes eventos esportivos", como explicou a nota divulgada pela Secretaria de Saúde. >
Em um primeiro momento, no entanto, os políticos ligados a Bolsonaro evitaram fazer uma defesa efusiva da competição. Essa situação poderá mudar quando o próprio presidente se manifestar, o que não ocorreu até a publicação deste texto. >
Já alguns opositores de Bolsonaro no nível estadual logo se posicionaram de maneira contrária ao evento. Pernambuco, por exemplo, estado governado por Paulo Câmara (PSB), antecipou-se à possibilidade de receber partidas e avisou que isso não será possível diante do "atual cenário epidemiológico". Já o governador da Bahia, Rui Costa (PT), declarou: "Não há possibilidade de flexibilizar regras para que a Bahia seja sede". >
Em São Paulo, João Doria (PSDB), que tem procurado se posicionar como ferrenho crítico ao governo federal, adotou um discurso moderado. Defendeu a "Copa da Vida", em referência à vacinação, mas teve uma conversa com Walter Feldmann, secretário-geral da CBF, e não se opôs à Copa América. Em nota, o governo estadual afirmou que "não fará objeção caso a CBF defina São Paulo como um dos locais de jogos".>
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