Publicado em 27 de fevereiro de 2024 às 19:00
Desde a sua fundação, há 55 anos, a Igreja Cristã Maranata (ICM) é movida por pastores que servem de forma voluntária. No início, surgiu como opção diante da escassez de recursos financeiros para pagar os pastores, mas o chamado Ministério Leigo, com a preparação de pastores dentro do convívio da igreja para disseminar a fé, tornou-se a base para que não se cobrar ofertas e não receber dinheiro durante os cultos. >
A ICM conta com mais de 4 mil pastores e milhares de membros voluntários que fizeram uma escolha pela fé e atuam voluntariamente. Eles atuam em limpeza das igrejas, conservação de jardins e templos, trabalho de socorro de membros da igreja que estejam precisando de suporte, além do trabalho com crianças feito por professoras e aulas de instrumentos musicais como teclado, bateria, violão e outros.>
Esses voluntários exercem o Ministério Leigo, pois não é exigida a formação em Teologia, a qual costuma durar quatro anos. Isso não significa, no entanto, que para se tornar um pastor na Maranata o processo seja rápido. A preparação é feita dentro da própria igreja, ao longo de sua caminhada de fé, passando por diversas etapas e mantendo os estudos em seminários que ocorrem rotineiramente.>
O presidente da ICM, pastor Gedelti Gueiros, ressalta que o entendimento da igreja é de que “o ministério não é profissão, mas sim um projeto de fé”, algo que ele considera uma evolução conceitual da remuneração pastoral. Com base nisso e no pensamento de que o dízimo é bíblico, não há recolhimento de ofertas durante os cultos, nem pedido de dinheiro aos membros da igreja.>
>
“Eu sou dizimista porque eu entendi que é bíblico e que aquilo que eu tenho, uma coisa é o espiritual, outra coisa é o material, e não posso misturar uma coisa com a outra. Do lado material, eu fui muito abençoado. Então, o espiritual é tudo o que eu quero”, acrescenta o presidente da ICM e também um dos fundadores da igreja.>
Inclusive, o pastor Gedelti, que nunca utilizou recursos da Igreja para si mesmo ou para viagens, doou a sede da igreja em Vila Velha no ano de 1975. O local era a residência de sua família. No ano seguinte, em 1976, ele fez uma nova doação: o Maanaim de Domingos Martins. O espaço era um sítio de sua propriedade, que posteriormente foi ampliado pela própria ICM.>
As contribuições feitas à ICM por seus membros que escolhem ser dizimistas de maneira individual são recolhidas a um caixa único e acompanhadas pelo tesoureiro de cada unidade e pelo conselho fiscal. A igreja não aceita contribuições de terceiros que não sejam membros praticantes e também costuma fazer uma avaliação criteriosa das ofertas em bens, como terrenos ou veículos, por exemplo. >
Aliás, o pastor Gedelti utilizava recursos próprios para suas viagens de assistência pelo Brasil e exterior como Estados Unidos, Europa e Rússia. >
Membro da ICM desde 1971 e pastor há 50 anos, o médico Amadeu Loureiro Lopes era ainda um estudante de Medicina quando passou a participar dos cultos. Ele acompanhou o processo de ascensão da igreja e atribuiu à criação do caixa único um dos motivos para a prosperidade da ICM. Para ele, a partir disso foi possível dar condições para que todas as unidades se mantivessem de forma equivalente, com templos muito similares, sem distinção do bairro ou comunidade onde estão localizados.>
Mesmo dando ênfase ao sucesso do caixa único para a manutenção das despesas da igreja, o pastor Amadeu, que também é conselheiro da ICM, acredita que “o grande segredo” para a expansão da ICM foi o ministério voluntário, bem como as ações voluntárias nas atividades do templo de maneira geral.>
“No início, isso (Ministério voluntário) foi importante porque nós não tínhamos recursos, nós tivemos no nosso meio pastores que gostaram da igreja, adaptaram-se e se identificaram. Quando nós começamos, não tínhamos recurso e entramos com nosso voluntariado. Quer dizer, esse pessoal nosso todo foi gerado dentro da própria igreja, o nosso aprendizado do ministério foi no dia a dia do trabalho com a igreja”, explica o pastor Amadeu.>
Membro do Conselho e pastor, o engenheiro civil Antonio Carlos Oliveira está na ICM há 44 anos e sempre fez trabalhos voluntários. Ele detalha seu entendimento para a atuação como pastor há quatro décadas e como funciona o dízimo.>
“Por orientação que veio do Senhor para nós, o ministério não é profissional. Cada um tem a sua profissão, não vivemos da igreja. O nome pastor, para nós, não é título, é função, porque o pastor também vai à igreja para servir a Deus na mesma condição que os demais, só com a função diferente das ovelhas. Dentro da doutrina bíblica, o dízimo é uma oferta que se dá a Deus por fé. Por isso, não tem pedido de dinheiro, não se passa sacolinha nos cultos”, pontua.>
O pastor Antonio Carlos acrescenta que aqueles que entendem que o dízimo é bíblico, assim como ele, tornam-se dizimistas procurando o tesoureiro da igreja. Ele comenta que os maiores dizimistas são os pastores e diáconos e, em seu caso, entende que “tudo que eu tenho vem de Deus para mim”.>
“Se um visitante quiser fazer uma oferta, não vamos receber. A doação é feita por fé. A oferta está no contexto doutrinário”, enfatiza Antonio Carlos.>
Para o pastor Adaiso Fernandes Almeida, que está na ICM há 35 anos e há quase três décadas concilia a atividade de auditor da Receita Estadual com a de pastor, o cerne da questão está em “servir por gratidão”, tanto em relação ao voluntariado como a respeito da contribuição do dízimo.>
“Imagine o seguinte: você tem uma experiência e uma transformação da sua vida. No seu coração, então, servir nessa obra é servir com gratidão. Cada um de nós tem uma história, e quando chegamos diante de um impasse e houve uma transformação, a história foi mudada. Nós atribuímos essa mudança de história a uma operação do Senhor nas nossas vidas e a nossa retribuição é servir ao Senhor, e servir de forma voluntária”, complementa o pastor Adaiso.>
Assim como nos templos localizados em todo o Brasil, a ausência de recolhimento de ofertas durante os cultos também é mantida nos templos estrangeiros. Pastor da ICM na Flórida, nos Estados Unidos, Ronildo Scherrer frisa que o padrão seguido naquele país é o mesmo adotado pela Igreja Maranata no Brasil, sendo lá frequentada por nativos, imigrantes brasileiros e filhos dos imigrantes. >
“O dízimo é uma questão de fé, à medida que você conhece o Senhor. Não fazemos menção nos cultos, mas temos essa prática daquele irmão que entende o momento dele de começar a dizimar, se ele tem a condição de fazer isso, damos a oportunidade de ofertar a Deus, e é assim que a igreja se mantém”, destaca Scherrer.>
De acordo com ele, todas as doações recebidas nos Estados Unidos são feitas via banco e a contabilidade do Presbitério da Igreja no país norte-americano.>
Todos os pastores da ICM não recebem remuneração e fazem questão de destacar que cada denominação segue a sua própria doutrina e, com isso, não têm intenção de tecer críticas a outras igrejas que fazem arrecadação durante os cultos. O presidente da ICM ainda acrescenta que todas as doações recebidas são feitas via banco e a contabilidade do presbitério fica à disposição dos membros da ICM.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta