Jornalista / julia.camim@redegazeta.com.br
Publicado em 25 de novembro de 2024 às 18:22
Pôr fim à jornada de seis dias de trabalho para apenas um de descanso no Brasil é o objetivo principal da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) que deve ser protocolada na Câmara dos Deputados, onde será apreciada e votada, em breve. O texto, que também prevê a implementação da escala 4x3 — ou seja, quatro dias de trabalho para três dias de folga — foi assinado, até o momento, por apenas dois deputados do Espírito Santo.
Para que tramite na Casa Legislativa, é necessário que pelo menos 171 deputados assinem o projeto — até o momento a proposta já conta com 233 assinaturas. Os próximos passos envolvem a avaliação pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e por uma comissão especial, além da submissão da proposta a dois turnos de votação em plenário — onde precisa de, no mínimo, 308 votos para ser aprovada.
Caso o texto receba o aval positivo dos deputados, ainda há caminho a percorrer: ele seguirá para o Senado, onde também será submetido à análise e votação.
Para entender o posicionamento da bancada capixaba no Congresso Nacional, A Gazeta procurou os parlamentares do Espírito Santo para saber quais deputados assinaram o texto e quais senadores se mostram favoráveis à proposta, caso ela chegue à Casa.
Amaro Neto (Republicanos): não assinou a PEC.
O deputado federal disse à reportagem que a regulação trabalhista brasileira já é excessiva, o que prejudica a produtividade e o crescimento econômico. “Acredito que modelos com menor regulação estatal e mais liberdade nos contratos, permitindo que empregados e empregadores se entendam, seriam uma boa opção a se debater”, afirma o republicano.
Amaro Neto
Deputado Federal do RepublicanosO parlamentar também defende a necessidade de considerar as consequências de reduzir a jornada sem ajustar salários. De acordo com Amaro Neto, isso “geraria desemprego ou quebradeira de pequenos negócios. O Estado precisa interferir menos na economia e permitir que o mercado se adapte às necessidades modernas".
Da Vitória (PP): não assinou a PEC.
Para o parlamentar e presidente do Progressistas no Estado, “o Brasil precisa de medidas que estimulem a geração de emprego e de renda dos brasileiros”.
Ele afirma que a proposta será discutida internamente com os demais correligionários do partido.
Evair Vieira de Melo (PP): não assinou a PEC.
O deputado respondeu à reportagem que não trata de pautas que ainda não estejam em tramitação na Câmara.
Gilvan da Federal (PL): não assinou a PEC.
O deputado federal do PL disse que só assinaria a proposta caso o texto estabelecesse também “salário mínimo de 10 mil reais”. Para ele, o texto é apenas para “jogar para a plateia”.
“Já que eles querem jogar na conta do empresário, e colocar sempre o empregado contra o empregador, vamos também jogar na conta do governo. Vamos aumentar o salário mínimo, vamos estabelecer um salário mínimo decente de 10 mil reais, de nove mil reais, que aí vai na conta do governo”, argumentou o parlamentar.
Helder Salomão (PT): assinou a PEC.
Nas redes sociais, Helder Salomão afirmou que a redução na jornada de trabalho é uma necessidade e, por isso, assinou a proposta para possibilitar a tramitação na Câmara. “Acabar com a escala de trabalho 6x1 garante mais dignidade e qualidade de vida para o trabalhador dando a ele o direito a um período justo de descanso, lazer, mais tempo para a família e outras atividades extra-profissionais”, escreveu o deputado em seu perfil.
Para o petista, “melhorar a vida do trabalhador passa diretamente por jornadas menos exaustivas”.
Salomão também pontua que o partido “sempre teve uma posição muito clara sobre a necessidade de redução da jornada, tendo proposições tramitando no Senado e na Câmara sobre o tema desde 2013”.
Jack Rocha (PT): assinou a PEC.
À reportagem, a deputada federal e presidente do PT no Espírito Santo disse que a proposta é fundamental para garantir a dignidade e a saúde dos trabalhadores. “A redução das jornadas de trabalho tem uma coerência, sobretudo a partir dos estudos que são feitos. Exemplos internacionais têm demonstrado que há uma diminuição da rotatividade desse trabalhador pela redução do adoecimento no trabalho”.
Jack Rocha
Deputada Federal do PTJack Rocha também afirma que é importante proteger a juventude, oferecendo oportunidades e descanso. “Não podemos virar uma sociedade da servidão”.
Messias Donato (Republicanos): não assinou a PEC.
O deputado disse que está estudando o texto com a bancada do partido “para definir o posicionamento e tomar a melhor decisão”.
Paulo Folletto (PSB): não assinou a PEC.
Do partido do governador Renato Casagrande, Paulo Folletto afirmou à reportagem que é preciso ter cautela e responsabilidade para mudar significativamente a legislação trabalhista porque, de acordo com ele, elas promovem “profundas implicações”. “É necessário avaliar os impactos da PEC nas áreas da sociedade, como indústria, agricultura e comércio, antes de tomar qualquer decisão”, declarou.
O parlamentar também disse que a decisão não deve ser tomada às pressas e que requer “discussão, consulta a especialistas, sindicatos e outras entidades envolvidas. Precisamos estudar mais profundamente e dialogar com as partes interessadas. É uma forma de garantir que a decisão seja bem fundamentada”.
Os deputados federais do Podemos, Gilson Daniel e Dr. Victor Linhalis, foram procurados pela reportagem, mas não quiseram se manifestar.
Os senadores capixabas foram questionados sobre como se posicionariam caso a PEC chegasse à Casa para ser debatida e votada.
O petista Fabiano Contarato disse que é a favor da proposta e que não medirá esforços para que ela seja aprovada no Senado. “Precisamos garantir uma jornada de trabalho mais justa e humana para todos os brasileiros. Confio na sensibilidade dos deputados para que a proposta tramite e seja aprovada”.
Fabiano Contarato
Senador do PTJá Magno Malta, senador e presidente do PL no Estado, prefere aguardar a tramitação do texto na Câmara e eventual chegada ao Senado para avaliar o conteúdo. De acordo com a assessoria do congressista, ele entende a importância do tema e ressalta que “questões que envolvem a legislação trabalhista exigem ampla discussão e análise criteriosa, considerando os impactos para trabalhadores e empregadores”.
O senador do Podemos Marcos do Val preferiu não se pronunciar sobre o assunto.
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