Publicado em 18 de novembro de 2024 às 14:43
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O fim da escala 6x1 seria um desastre para o setor de construção, mais do que para qualquer outro, segundo Eduardo Aroeira, vice-presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Ele afirma que seria preciso arrumar mais trabalhadores para não haver queda de produtividade e atraso em obras — no entanto, não há mão de obra para isso, diz. "Não temos esses trabalhadores".>
"Estamos, hoje, praticamente em pleno emprego e nossa grande luta não é empregar pessoas e, sim, o aumento de produtividade. A alteração da escala neste momento, em que temos uma produtividade baixa e uma necessidade de entrega, principalmente de unidades de interesse social, com certeza, no máximo, geraria o desemprego ou a informalidade", diz Aroeira, em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (18).>
"Na verdade, a discussão prioritária, no nosso interesse, é como a gente pode melhorar as condições dos trabalhadores, com aumento de produtividade, formas diferentes de construir", afirma.>
Mesmo sendo responsável por gerar 13 mil novos postos de trabalho no mês de agosto, segundo dados do último Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), o setor da construção enfrenta uma das maiores crises de escassez de mão de obra, especialmente pela falta de qualificação e pelo desinteresse dos jovens em suportar as condições de trabalho nos canteiros.>
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O resultado é uma força de trabalho envelhecida, como mostra levantamento da entidade. Segundo o estudo da Cbic, a média de idade dos trabalhadores subiu de 38 anos, em 2016, para 41 anos, neste ano. No estado de São Paulo, a idade subiu para 43 anos e, em sua maioria, o trabalhador atua por conta própria, de modo informal, cerca de 38,8 horas semanais e teve renda média mensal de R$ 2.552,99 em 2023.>
Apesar da falta de mão de obra, o setor segue batendo recordes de crescimento em meio a uma demanda aquecida. De acordo com a Cbic, no último trimestre, houve alta no número de lançamentos e de vendas em relação ao ano anterior.>
O vice-presidente de indústria imobiliária da Cbic, Ely Wertheim, diz lamentar que a proposta esteja em discussão "num país pobre como o Brasil, onde as pessoas precisam de renda, precisam de trabalho".>
"Os países asiáticos que saíram de uma trajetória de pobreza muito grande se fazem pelo trabalho. Trabalho é uma atividade importante para o ser humano, enriquece a vida", afirma.>
"A gente devia estar era produzindo, aumentando a produtividade, investindo em capacitação, empregando, entregando as coisas no prazo — não só apartamento, vale para qualquer indústria, para qualquer serviço. Acho que vai ser um desserviço ao Brasil se a gente fizer isso [aprovar o fim da escala 6x1]", completa Wertheim.>
A escala de trabalho 6x1, na qual o descanso remunerado ocorre apenas uma vez na semana, virou alvo de uma proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que quer mudar a Constituição para alterar a jornada dos trabalhadores.>
O texto da PEC propõe alterar o artigo 7º da Constituição, no inciso 13, que trata sobre a jornada de trabalho. A sugestão é de jornada de quatro dias semanais, medida adotada em alguns países do mundo e que chegou a ser testada no Brasil por algumas empresas.>
Na última sexta-feira (15), feriado da Proclamação da República, atos de apoio ao fim da escala 6x1 ocorreram em capitais de todas as regiões do país. Os manifestantes compararam a jornada de 44 horas à escravidão.>
Mesmo com a resistência de diversos setores, a PEC já ultrapassou o mínimo de assinaturas necessário para ser protocolada e começar a tramitar na Câmara dos Deputados, segundo a deputada Erika Hilton. Uma vez protocolado e com a conferência das assinaturas, o texto seguirá para a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania), que analisará a admissibilidade da proposta.>
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