Publicado em 15 de maio de 2020 às 16:44
O oncologista Nelson Teich, que assumiu a titularidade do Ministério da Saúde após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter demitido o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, por ele ter uma visão diferente à dele sobre o enfrentamento ao coronavírus, decidiu deixar o governo, nesta sexta-feira (15), pelo mesmo motivo. >
Embora tenha tomado posse, no dia 17 de abril, com discurso parcialmente alinhado ao presidente, nos 28 dias que ficou à frente da pasta Teich também não foi poupado das situações de desgaste com o presidente por causa das estratégias adotadas contra a pandemia. >
Em sua posse, o médico afirmou que os indicadores sociais, como desemprego, seriam levados em conta para as ações na saúde, mesmo enfoque dado por Bolsonaro em suas falas.>
"Hoje, tenho colocado isso, foco que a gente tem aqui, e tudo que a gente vai fazer, é nas pessoas. Por mais que você fale em saúde, por mais que você fale em economia, não importa o que você fala, o final é sempre gente", afirmou, ao assumir o cargo.>
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Ele também prometeu fazer um trabalho de parceria com estados e municípios e integração e troca de informações entre os ministérios. >
Outra situação em que o ex-ministro agiu em conformidade com o presidente foi em seus primeiros dias de atuação, ao anunciar um estudo para poder afrouxar o isolamento social, atrelado ao aumento do número de testes realizados. Para isso, o ministério iria adquirir quase o dobro de testes da gestão Mandetta, cerca de 46 milhões.>
Poucos dias depois, contudo, surgiram as primeiras divergências. Veja:>
O presidente quis alterar o protocolo do SUS e liberar a aplicação da cloroquina desde o início do tratamento do coronavírus. Bolsonaro fez essa afirmação em videoconferência com empresários de São Paulo, nesta quinta (14), e também ressaltou que estava tudo bem com relação ao ministro. >
"Votaram em mim para eu decidir, e essa decisão da cloroquina passa por mim. É mais do que pedir. Está tudo bem com o ministro da Saúde, tudo sem problema nenhum com ele, acredito no trabalho dele, mas essa questão vamos resolver". >
Já a live de Bolsonaro nesta quinta-feira (14), segundo o ministro afirmou à Veja, foi marcada por ataques gratuitos ao trabalho dele na Saúde, e a imposição de ideias de forma grosseira foi o fator que pesou na saída. Bolsonaro diz na transmissão que conversou com Teich sobre a mudança do protocolo do ministério sobre cloroquina.>
"Amanhã, o Nelson Teich dá uma resposta pra gente", disse Bolsonaro, que recebeu a carta de demissão como "resposta". >
No último dia 11 de maio, o presidente também ampliou as atividades essenciais no decreto para salões de beleza, barbearia e academias de ginástica. >
Teich ficou sabendo dessa alteração por jornalistas, enquanto concedia coletiva de imprensa no Palácio do Planalto e, ao ser informado, demonstrou estar confuso e justificou que esse tipo de decisão não é atribuição do Ministério da Saúde.>
Nesta quarta (13), Teich cancelou a apresentação que faria de seu plano com diretrizes de isolamento social para Estados e municípios devido ao novo coronavírus. A medida ocorreu depois que o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) reprovaram o estudo, por considerar que tal medida poderia provocar uma flexibilização do isolamento, no momento em que os casos de coronavírus estão aumentando.>
O plano de Teich fixava diretrizes para Estados e municípios, em suas decisões sobre medidas de isolamento social contra o novo coronavírus. O estudo previa um sistema de pontos baseado em quatro critérios: capacidade hospitalar instalada, contexto epidemiológico, velocidade de crescimento e índices de mobilidade urbana. O resultado seria colocado em cinco níveis diferentes de risco.>
Bolsonaro não gostou do plano desenhado por Teich, por considerar que as medidas já defendidas por governadores e prefeitos estariam delineadas ali.>
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