> >
As divergências com Bolsonaro que levaram Nelson Teich a pedir demissão

As divergências com Bolsonaro que levaram Nelson Teich a pedir demissão

Assim como ocorreu com Luiz Henrique Mandetta, médico oncologista tinha posicionamentos diversos do presidente, o que teria inviabilizado a relação

Publicado em 15 de maio de 2020 às 16:44

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Nelson Teich durante apresentação pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da saúde em 16/04/2020
Nelson Teich durante apresentação pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da saúde, em 16/04/2020. (Marcello Casal/Agencia Brasil)

O oncologista Nelson Teich, que assumiu a titularidade do Ministério da Saúde após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter demitido o antecessor, Luiz Henrique Mandetta, por ele ter uma visão diferente à dele sobre o enfrentamento ao coronavírus, decidiu deixar o governo, nesta sexta-feira (15), pelo mesmo motivo.

Embora tenha tomado posse, no dia 17 de abril, com discurso parcialmente alinhado ao presidente, nos 28 dias que ficou à frente da pasta Teich também não foi poupado das situações de desgaste com o presidente por causa das estratégias adotadas contra a pandemia.

Em sua posse, o médico afirmou que os indicadores sociais, como desemprego, seriam levados em conta para as ações na saúde, mesmo enfoque dado por Bolsonaro em suas falas.

"Hoje, tenho colocado isso, foco que a gente tem aqui, e tudo que a gente vai fazer, é nas pessoas. Por mais que você fale em saúde, por mais que você fale em economia, não importa o que você fala, o final é sempre gente", afirmou, ao assumir o cargo.

Ele também prometeu fazer um trabalho de parceria com estados e municípios e integração e troca de informações entre os ministérios.

Outra situação em que o ex-ministro agiu em conformidade com o presidente foi em seus primeiros dias de atuação, ao anunciar um estudo para poder afrouxar o isolamento social, atrelado ao aumento do número de testes realizados. Para isso, o ministério iria adquirir quase o dobro de testes da gestão Mandetta, cerca de 46 milhões.

Poucos dias depois, contudo, surgiram as primeiras divergências. Veja:

CLOROQUINA

O presidente quis alterar o protocolo do SUS e liberar a aplicação da cloroquina desde o início do tratamento do coronavírus. Bolsonaro fez essa afirmação em videoconferência com empresários de São Paulo, nesta quinta (14), e também ressaltou que estava tudo bem com relação ao ministro.

"Votaram em mim para eu decidir, e essa decisão da cloroquina passa por mim. É mais do que pedir. Está tudo bem com o ministro da Saúde, tudo sem problema nenhum com ele, acredito no trabalho dele, mas essa questão vamos resolver".

Já a live de Bolsonaro nesta quinta-feira (14), segundo o ministro afirmou à Veja, foi marcada por ataques gratuitos ao trabalho dele na Saúde, e a imposição de ideias de forma grosseira foi o fator que pesou na saída. Bolsonaro diz na transmissão que conversou com Teich sobre a mudança do protocolo do ministério sobre cloroquina.

"Amanhã, o Nelson Teich dá uma resposta pra gente", disse Bolsonaro, que recebeu a carta de demissão como "resposta".

DECRETO SEM COMUNICAÇÃO

No último dia 11 de maio, o presidente também ampliou as atividades essenciais no decreto para salões de beleza, barbearia e academias de ginástica.

Teich ficou sabendo dessa alteração por jornalistas, enquanto concedia coletiva de imprensa no Palácio do Planalto e, ao ser informado, demonstrou estar confuso e justificou que esse tipo de decisão não é atribuição do Ministério da Saúde.

PLANO REPROVADO

Nesta quarta (13), Teich cancelou a apresentação que faria de seu plano com diretrizes de isolamento social para Estados e municípios devido ao novo coronavírus. A medida ocorreu depois que o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) reprovaram o estudo, por considerar que tal medida poderia provocar uma flexibilização do isolamento, no momento em que os casos de coronavírus estão aumentando.

O plano de Teich fixava diretrizes para Estados e municípios, em suas decisões sobre medidas de isolamento social contra o novo coronavírus. O estudo previa um sistema de pontos baseado em quatro critérios: capacidade hospitalar instalada, contexto epidemiológico, velocidade de crescimento e índices de mobilidade urbana. O resultado seria colocado em cinco níveis diferentes de risco.

Bolsonaro não gostou do plano desenhado por Teich, por considerar que as medidas já defendidas por governadores e prefeitos estariam delineadas ali.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais