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Golpe de R$ 500 milhões: vítimas relatam desespero após prejuízo no ES

Golpe de R$ 500 milhões: vítimas relatam desespero após prejuízo no ES

Um taxista de 42 anos e um aposentado de 49 venderam mais de 10 carros para os suspeitos, mas não receberam o pagamento

Publicado em 15 de dezembro de 2023 às 21:29- Atualizado há 4 meses

Ícone - Tempo de Leitura 8min de leitura
Vítimas do golpe de R$ 500 milhões
Uma das vítimas do golpe contou que perdeu R$ 3 milhões. (Yago de Araujo )
Mikaella Mozer
Repórter / [email protected]

“Eu me senti totalmente lesado, meu dinheiro é limpo e suado. Não sei o que faço agora”. A revolta é de um taxista de 42 anos, que teve um prejuízo de R$ 200 mil após vender carros para a família suspeita de aplicar golpes de R$ 500 milhões em todo o Espírito Santo. O sentimento é compartilhado por um aposentado de 49 anos que diz ter perdido R$ 3 milhões da mesma forma. Os relatos foram feitos à repórter Daniela Carla, da TV Gazeta, na tarde desta sexta-feira (15).

As investigações mostraram que o grupo atuava em um esquema na compra de veículos de luxo no Estado. Eles adquiriam os automóveis de forma parcelada com cheques sem fundo e, logo após terem a posse dos carros, vendiam os mesmos. Quatro pessoas foram presas na quarta-feira (13), mas três delas foram soltas na quinta-feira (14). O quarto integrante foi liberado por habeas corpus nesta sexta (15).

O início 

O drama do taxista de 42 anos começou após conhecer um dos suspeitos em Vitória, onde mora atualmente. Os dois negociaram a venda do primeiro carro, que chegou a ser pago, mas tudo desandou a partir dali. Ao todo, ele vendeu seis veículos para o grupo investigado.

“No segundo carro não me pagaram e me chamaram para acordo. Não pagaram de novo e ficou naquela enrolação. Aí fui ao escritório deles de advocacia. Pagaram com cheques e deram 40 notas promissórias, das quais só pagaram duas. Estou no prejuízo”, explicou.

Uma terceira tentativa de negociação foi feita pelos integrantes da organização criminosa. "Eles davam explicação de que não iam pagar porque estavam passando por crise interna na empresa de cosméticos. Acho que pegavam nosso dinheiro e colocam na empresa. Eu não sei onde eles colocaram esse tanto de dinheiro, deve estar escondido", apontou o taxista.

Outro caso

Já o aposentado de 49 anos considera que a organização criminosa é maior do que aparenta, pois o contato com os suspeitos foi a partir de ‘terceiros’. Segundo relatou para a TV Gazeta, ele perdeu doze veículos. “Eu vendi para um terceiro que tinha uma loja de carros e que, provavelmente, era aliciador deles”, afirmou.

A Polícia Civil informou que a investigação começou em março, tendo, em nove meses, dezenas de inquéritos e mais de 200 vítimas ao longo de anos de golpes.

Entenda o caso

Quatro pessoas, sendo três da mesma família, foram presas na quarta-feira (13) suspeitas de terem causado prejuízos que, somados, passam de R$ 500 milhões em vítimas de todo o Espírito Santo, segundo a PC. Os golpes aplicados pelo grupo envolviam compra e venda de veículos de luxo de forma fraudulenta para investimento na empresa de cosméticos da família.

A ação ocorreu em Iguape, zona rural de Guarapari, durante a Operação Xampu II, na qual também foram bloqueados R$ 5 milhões das contas dos investigados e empresas ligadas ao grupo criminoso pela Justiça. Confira o posicionamento das defesas no fim do texto.

Polícia Civil faz operação contra suspeitos de golpe milionário
Polícia Civil faz operação contra suspeitos de golpe milionário. (Reprodução)

Além da prisão e bloqueio de valores, foram cumpridos mandados de busca e apreensão que resultaram na apreensão de computadores, celulares e outros aparelhos eletrônicos. De acordo com apuração da repórter Tarciane Vasconcelos, da TV Gazeta, os criminosos compravam carros de luxo de forma parcelada com cheques sem fundo e, logo após terem a posse dos veículos, vendiam os mesmos.

Os automóveis eram vendidos, segundo a polícia, abaixo da tabela de preços (Fipe), o que os dava vantagem financeira

Os presos são:

  1. Isaac Gabriel Borin Borges
  2. Leonardo Quilqui
  3. Luzildo Adeodato Borges
  4. Cláudia Cristina Borin Borges

Issac Gabriel Borin Borges, Leonardo Quilqui, Luzildo Adeodato Borges e Cláudia Cristina Borin Borges foram presos na Operação Xampu II
Issac Gabriel Borin Borges, Leonardo Quilqui, Luzildo Adeodato Borges e Cláudia Cristina Borin Borges foram presos na Operação Xampu II. (Pablo Campos)

Os presos foram levados para a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) e depois para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para exames de delito. Na manhã desta quinta-feira (14), foi informado que luzildo Adeodato Borges, Cláudia Cristina Borin Borges e Isaac Gabriel Borin Borges foram liberados pela Justiça. Já Leonardo Quilqui teve habeas corpus concedio nesta sexta-feira (15).

Para eles, foram determinadas medidas cautelares alternativas à prisão. São elas:

  • Monitoração eletrônica (tornozeleira)
  • Manutenção do endereço atualizado junto ao juízo de origem
  • Recolhimento domiciliar noturno durante os dias úteis e o recolhimento domiciliar em período integral aos sábados, domingos e feriados

No documento, o desembargador informa que a prisão deve ser considerada exceção, "já que tal medida constritiva só se justifica caso demonstrada a sua real indispensabilidade para assegurar a ordem pública". Acrescenta que, “embora se possa admitir a existência de prova da materialidade delitiva e indícios suficientes de autoria”, não há indicação para manutenção da prisão.

Valores dos carros comprados:

  • TOYOTA HILUX 2017                                    R$ 223.000
  • MERCEDES C300 2018                             R$ 220.000
  • DUSTER 1.6 2019                                           R$72.000
  • JETTA CL 2019                                                R$ 115.000
  • AUDI TT COUPE 2016                                 R$ 256.000
  • TOYOTA COROLLA XEI 2016                  R$ 86.000
  • BMW X1 2016                                                  R$ 150.000
  • AUDI AS 2015                                                  R$ 104.000
  • AMAROK V6 EXTR 2020                         R$ 253.000
  • AUDI RS6 AVANT 560CV 2016            R$ 503.000
  • MERCEDES BENZ GLE400 2016        R$ 300.000
  • CHEVROLET S10 2019 DIESEL            R$  148.000
  • CHEVROLET S10 2019 GASOLINA    R$ 59.000
  • FORD RANGER 2017                                   R$ 120.000  
  • HILUX 2017                                                       R$ 201.000
  • FORD KA 2020                                               R$ 64.000
  • HILUX 2020                                                     R$ 200.000
  • FIAT STRADA RANCH 2022                   R$ 130.000
  • TROLLER T4 2013                                       R$ 100.000

Ramo de cosméticos

Durante a investigação foi descoberto que parte do dinheiro era investido em empresa da família do ramo de cosméticos. O valor do maquinário industrial utilizado para produção dos produtos foi avaliado em R$ 50 milhões, que é de propriedade da mulher denunciada. Para além do investimento, o documento aponta que os suspeitos também usavam de outro empreendimento familiar para realizar lavagem de dinheiro.

A investigação do caso começou em setembro, quando foram apreendidos R$ 62 milhões em cheques, R$ 11 mil em dinheiro, além de armas, notas promissórias e aparelhos eletrônicos na casa de seis pessoas. Além disso, R$ 7 milhões em veículos tinham sido bloqueados pela Justiça para o ressarcimento das vítimas. Na época, nenhum suspeito de envolvimento foi preso.

O que diz a defesa dos investigados:

"Sobre as prisões de Isaac Gabriel Borin Borges, Luzildo Adeodato Borges e Cláudia Cristina Borin Borges e, posteriomente, sobre a revogação das prisões, via habeas corpus, concedida aos investigados, o advogado da família, Jardel Sabino de Deus, divulgou a seguinte nota:

1. O Tribunal de Justiça do Espírito Santo revogou as prisões menos de 18h após sua ocorrência, diante dos excessos e abusos da operação policial. Isso já fala por si sobre as ilegalidades cometidas, incompatíveis com o devido processo legal e o Estado de Direito. 

 2. O mesmo Delegado já havia pedido as prisões na 1ª fase da investigação e não conseguiu êxito com o juiz de Direito, que indeferiu esses pedidos. Esse magistrado é o juiz vinculado para julgar todos os atos referentes à essa investigação, como manda a legislação. 

 3. Causa perplexidade que agora, na 2ª fase da mesma investigação com o mesmo nome, o Delegado afronte a legislação e o juiz natural já vinculado, para que outro juiz recebesse os mesmos pedidos de prisão, em nova distribuição dos autos, e decretasse as prisões que antes lhe foram indeferidas. 

4. A má-fé do Delegado induziu a erro o novo magistrado, ocultando-lhe a decisão anterior do colega já vinculado, sendo caso de Corregedoria e crime de abuso de autoridade. 

5. Por fim, salta aos olhos que a retórica policial não tem base na realidade, inventando números e narrativas extraídas de redes sociais para produzir sensacionalismo e execração pública dos investigados, que sempre colaboraram com as apurações, têm residência fixa, trabalho reconhecido e nenhum antecedente criminal.

Na quinta-feira (14), o advogado Jefeson Ronconi, que apresentou procuração assinada no dia anterior indicando que representava Leonardo no processo, informou para a reportagem de A Gazeta, por meio de nota, que seu cliente era funcionário e ocupava o cargo de gestor de frota. Disse ainda que ele fazia toda logística após a compra e venda realizada por seus empregadores e que possui todos os documentos que comprovam suas alegações. Ressaltou que seu cliente não tinha conhecimento que a compra e a venda dos carros faziam parte de um esquema ilícito da família e que ele saiu da empresa quando descobriu que era um golpe que estava sendo aplicado. 

 No entanto, na sexta-feira (15), o pedido de habeas corpus de Leonardo foi feito pelo mesmo advogado dos três membros da família, Jardel Sabino de Deus. Em contato com A Gazeta, Jardel afirmou que ele é o único advogado de Leonardo no processo e encaminhou documento assinado no dia 14 pelo investigado. “O advogado anterior, Sr. Jeferson Ronconi, foi expressamente informado pelo meu cliente de que somente a minha pessoa, advogado da causa, falaria sobre o processo, sobretudo com a imprensa.

O processo corre em segredo de Justiça.

 Dr. Jardel Sabino de Deus"

Errata Atualização
16 de dezembro de 2023 às 15:55

A reportagem foi atualizada para acrescentar manifestação da defesa dos acusados.

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