Repórter / [email protected]
Publicado em 24 de setembro de 2021 às 13:18
A organização criminosa que atuava promovendo migração ilegal do Espírito Santo para os Estados Unidos alugava crianças para criar "falsas famílias". Isso era feito, segundo o delegado Ivo Roberto Costa, da Polícia Federal, por que o procedimento de deportação de famílias no país da América do Norte é mais complicado, o que garantiria, em tese, um tempo maior de permanência dos migrantes em solo americano.>
Em entrevista à reportagem da TV Gazeta, o delegado, que faz parte da equipe de combate ao Crime Organizado da Polícia Federal do Espírito Santo, explicou que os "coiotes", como são chamados os criminosos que organizam a entrada ilegal de pessoas nos EUA pela fronteira com o México, faziam uma espécie de aluguel de crianças. Para isso, os verdadeiros pais eram pagos e os documentos eram fraudados.>
"Os coiotes têm essa informação de que, para famílias, o procedimento legal nos Estados Unidos para deportação é um pouco mais complicado, o que, a princípio, daria a eles uma oportunidade de permanecer em solo americano. Em razão disso, eles tentam criar famílias fraudulentas. Eles emprestam crianças para pessoas que, na verdade, não são os verdadeiros genitores, falsificam a documentação e fazem com que essas pessoas viajem juntas e ingressem em território americano como uma verdadeira família", disse.>
Ivo Roberto Costa
Delegado de combate ao Crime Organizado da Polícia Federal do Espírito SantoNa operação desta sexta-feira (24), que teve como alvo uma casa no município de Fundão, que era utilizada como ponto de espera, onde as pessoas que entrariam ilegalmente nos EUA esperassem a emissão de documentos e passagens, foram encontrados indícios de que a prática do aluguel de crianças era feita no Espírito Santo. Segundo o delegado Ivo Roberto, no local estavam quatro menores de idade, de 3, 9, 14 e 17 anos.>
>
"De fato, na data de hoje (24), durante as entrevistas realizadas pela equipe da Polícia Federal, um dos adultos colocou em dúvida a paternidade de uma das crianças que constavam na reserva da sua viagem. É um indicativo de que a gente possa estar diante de um desses casos", acrescentou.>
PF investiga migração ilegal para os EUA no ES
Ivo Roberto explicou que a casa está alugada desde o começo do mês de julho deste ano e que, por isso, mais pessoas podem ter passado pela residência. Ainda conforme o delegado, a Polícia Federal chegou até o local por meio de uma denúncia e encontrou as dez pessoas em condições precárias.>
"A Polícia Federal recebeu uma denúncia sobre essa residência que vinha sendo utilizada para abrigar pessoas que viriam ao estado do Espírito Santo aguardar o momento adequado para iniciar sua viagem na tentativa de ingressar ilegalmente nos Estados Unidos. A casa já vinha sendo utilizada por essa organização criminosa há cerca de dois a três meses. Em julho eles iniciaram o contrato de locação e, por lá, passaram pessoas que desejavam realizar essa viagem na tentativa de ingressar ilegalmente nos Estados Unidos", detalhou.>
O delegado Ivo Roberto Costa explicou que o Espírito Santo possui altos índices de migração ilegal para os Estado Unidos, ocupando inclusive altas colocações no ranking de estados brasileiros com o maior número de pessoas que procuram os "coiotes". Ivo Roberto explicou que isso pode ter relação com a proximidade com o estado de Minas Gerais, que, segundo ele, também possui altos números de migração ilegal.>
"Hoje, a estatística demonstra que o Espírito Santo ocupa o terceiro lugar da origem dos brasileiros que tentam ingressar ilegalmente nos Estados Unidos. O que a gente acredita é que, em razão da proximidade com o estado de Minas Gerais, que é um estado que concentra o grande volume de brasileiros que busca ingressar ilegalmente nos EUA, isso tenha feito com que essa logística chegasse ao Espírito Santo e fosse oferecida aos cidadãos que vivem no Estado", argumentou.>
No início deste mês, o caso da enfermeira Lenilda dos Santos, de 49 anos, veio à tona. Ela morreu tentando cruzar a fronteira do México com os Estado Unidos de forma ilegal. De acordo com familiares de Lenilda, ela teria sido abandonada pelo grupo depois de passar mal durante a caminhada.>
O jornal Folha de São Paulo teve acesso a mensagens de voz enviadas por Lenilda a familiares durante a travessia. “Eu dormi aqui, eu não aguentei, eu tô sozinha. Mas eles estão vindo me buscar. Eu tô chegando, falta um pouquinho só para eu chegar. Eu não aguentei”, disse a enfermeira nos áudios.>
Lenilda decidiu tentar cruzar a fronteira de forma ilegal depois de adquirir uma dívida e não conseguir pagar as mensalidades das faculdades das filhas. Ela já havia morado nos EUA no início dos anos 2000 e decidiu voltar ao país à procura de melhores condições de vida.>
*Com informações da Folha de São Paulo >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta