O jornalista Leonardo Heitor Miranda Araujo, de 38 anos, indiciado pela Polícia Civil do Espírito Santo por assediar colegas de profissão via WhatsApp, foi preso por crimes sexuais no Estado de Mato Grosso. A prisão aconteceu quando ele desembarcava no Aeroporto Marechal Rondon. O jornalista é acusado de criar perfis falsos com a foto de outro homem, usando dois chips diferentes de celular para enviar fotos e vídeos pornográficos para mulheres. Ao todo, ele fez mais de 20 vítimas no ES e no MT, onde também responde por estupro.
No Mato Grosso, Estado de onde Leonardo é natural e vive atualmente, pelo menos dez mulheres denunciaram abusos praticados tanto pessoalmente quanto por WhatsApp, com constantes mensagens de cunho pornográfico. Uma delas, que também é jornalista, de 25 anos, o acusa de estupro.
"Nós ficamos algumas vezes. Em outubro de 2018 fui a uma festa, onde o encontrei. Eu bebi um único chope, comecei a passar mal e decidi ir embora. Ele se ofereceu para ir comigo, pois morávamos perto. Dentro do carro, eu já estava tonta e não conseguia reagir. Ele me levou pra casa dele, mas eu só lembro de flashes. Eu acordei ainda tonta. Em janeiro de 2019, ele disse que gravou vídeos íntimos comigo e que eu permiti, mas eu jamais permitia isso", lembrou.
Ela pediu para o acusado apagar as imagens e ele disse que apagaria. Mas cerca de três semanas depois, enquanto os dois estavam em um evento de trabalho, ele teria mostrado os vídeos e fotos a ela.
A jornalista conseguiu uma Medida Protetiva contra o acusado. Ela conta que precisou se afastar do trabalho, perdeu peso e iniciou tratamento psiquiátrico com remédios. Além dela, colegas narraram terem sofrido abusos via web ou pessoalmente. Em outubro de 2019, Leonardo descumpriu a medida e foi ao local de trabalho da vítima. Um mandado de prisão foi expedido contra ele, que acabou preso na manhã desta segunda-feira (25).
Procurada, a Polícia Civil do Mato Grosso informou que, por meio da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá, cumpriu na manhã desta segunda-feira (25) um mandado de prisão preventiva expedido contra Leonardo. O mandado de prisão foi deferido pela 1ª Vara da Violência Doméstica e Familiar da Capital relativo a um inquérito de crime contra a dignidade sexual, que tramita na unidade policial.
"O suspeito foi preso no Aeroporto Marechal Rondon por equipe da delegada Nubya Beatriz Gomes dos Reis, após desembarcar de um voo. Ele foi encaminhado à Delegacia da Mulher da Capital e depois seguirá para audiência de custódia no Fórum Criminal de Cuiabá. Por se tratar de informações de crimes de natureza íntima, não informaremos detalhes neste momento", informou a PC por nota.
Engenheiro vindo de São Paulo, moreno e com o corpo musculoso sempre à mostra. Esse foi o perfil criado pelo jornalista para praticar assédios na internet, segundo denúncias. Com dois chips de São Paulo e Brasília, o acusado criou listas de contatos com as vítimas, fingindo chamar-se Fernando. Pelo menos dez jornalistas do Espírito Santo afirmam ter recebido as mensagens sem qualquer solicitação.
De acordo com uma das vítimas, de 29 anos, ela passou a receber as mensagens por WhatsApp em meados de 2017.
Indignada, a mulher bloqueou o número. Ela só não imaginava que, em 2018, voltaria a ser importunada pelo mesmo perfil, desta vez com um chip de Brasília. Assim que recebeu as primeiras mensagens, a vítima bloqueou o contato novamente e contou o caso para colegas de profissão. Foi nesse momento que ela descobriu que pelo menos mais dez mulheres estavam passando pela mesma importunação.
"Vimos que era alguém que nos conhecia. Não respondi à mensagem inicial, mas não bloqueei de imediato. Queríamos ver do que ele era capaz e colher mais provas. Foi quando, sem qualquer resposta minha, ele enviou foto do órgão genital e vídeos se masturbando, dizendo que eu merecia aquilo. Com as provas em mãos, eu o bloqueei", lembrou outra vítima, de 26 anos.
Parte das vítimas fez denúncias na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Segundo o delegado Brenno Andrade, a intenção é atrair as vítimas para que elas enviem imagens íntimas. Depois, elas são chantageadas para enviar mais fotos e vídeos. Caso contrário, podem ter as imagens divulgadas.
A polícia possui provas técnicas que mostram que o acusado é mesmo o autor da contravenção penal. Ele foi indiciado pelo artigo 65, que significa molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável. A pena é prisão simples, de quinze dias a dois meses, prestações de serviço ou multa. Agora, o caso foi encaminhado à Justiça, explicou o delegado na época.
Na época em que foi indiciado no ES, Leonardo disse que foi surpreendido ao ser informado por amigos sobre o seu indiciamento por assédio. Eu acabei de descobrir isso agora. Estou sendo pego de surpresa tanto quanto você e algumas pessoas que já vieram me contatar. Segundo o que eu li, na matéria que vocês inclusive já colocaram o meu nome, é sobre um número de Brasília que eu não uso desde 2016, quando eu me mudei de lá, disse.
Leonardo negou que tivesse um chip com DDD de São Paulo, que segundo a Polícia Civil, também era usado por ele. O jornalista afirma que já procurou orientação jurídica para então decidir qual medida será adotada por ele.
Eu sequer na minha vida tive um número de São Paulo. Nunca tive aparelho, chip ou qualquer coisa. Eu nunca morei em São Paulo. Já procurei orientação jurídica sobre isso. Acredito que alguém deve ter pego o chip de Brasília ou alguma coisa assim. Eu simplesmente não faço ideia do que pode ter acontecido. Para você ter ideia, é um número que nem lembro mais, afirma.
Com a prisão, a reportagem de A Gazeta tenta contato com a defesa de Leonardo. Assim que um posicionamento for dado, essa matéria será atualizada.
Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC)
Endereço: Av. Marechal Campos, Nº1246, Bairro Bonfim, Vitória-ES.
Telefone: (27) 3137-2607
Atendimento ao público das 9 horas às 16 horas.
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