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Golpes na Ilha do Boi: Polícia recebe mais denúncias contra mulher suspeita

Golpes na Ilha do Boi: Polícia recebe mais denúncias contra mulher suspeita

Após reportagem de A Gazeta, mais supostas vítimas procuraram as autoridades para registrar boletim de ocorrência contra Jhose Campos

Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 07:50

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura

A revelação do nome da mulher que vai responder na Justiça estadual por crimes de estelionato em bairros da Grande Vitória acabou levando supostas vítimas a relatarem outros golpes nas redes sociais. Algumas delas procuraram delegacias para fazer a denúncia. Além do caso ocorrido na Ilha do Boi, em Vitória, com prejuízo de cerca de R$ 1 milhão, contra Jhose Campos Alves, de 45 anos, existem pelo menos 35 processos.

Após ser indiciada pela Polícia Civil por crimes de estelionato praticado na Ilha do Boi, em Vitória, Jhose foi denunciada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A ação foi aceita pela Justiça estadual, que a tornou ré em um processo penal. O delito apontado é de estelionato, artigo 171 do Código Penal, e ela responderá sete vezes pelo crime e por crimes contra o patrimônio. A decisão também a mantém presa. Na possibilidade de uma condenação, ela pode pegar até 35 anos de cadeia.

O advogado Marcos Giovani Correa Felix, representante da ré, alega que as ações praticadas pela suspeita não podem ser consideradas estelionatos, mas desacordo comercial. Ele acrescenta ainda que sua cliente sofre com uma doença chamada oniomania (veja a explicação completa da defesa ao final do texto).

Luta para receber o dinheiro

Uma das vítimas disse que luta desde 2020 para se recuperar do prejuízo que levou. A pedido, seu nome não será revelado, mas relata que vendeu para Jhose utensílios domésticos – jogo de panelas, taças de cristal, aparelho de jantar, entre outros objetos de marcas como Tramontina e Oxford –, que nunca foram pagos.

“Estive na casa dela em 2020. Uma casa luxuosa em Vila Velha, com muitos quadros. Foi quando ela fez uma compra de R$ 1,8 mil. Na ocasião, falou que o marido estava na rua com o cartão e que estava sem dinheiro para fazer um pix. Optou pelo pagamento por boleto, mas só quitou, após muita cobrança, a entrada de R$ 200. O restante não foi pago”, relata a vítima.

Desde então, ela tem cobrado o pagamento do restante, sem sucesso. Conta que recorreu à Justiça em um processo que ainda tramita, e que a dívida, com os custos processuais, já ultrapassa os R$ 6 mil.

“Ela sempre apresenta um argumento de que tem um parente doente, internado, que também esteve doente. Já até me fez ameaças. Mas tenho tudo documentado. Estou indo para a delegacia fazer uma denúncia e apresentar os meus documentos. Não vou desistir de receber o que é meu, por direito”, explica a vítima.

Jhose Campos Alves, de 45 anos, denunciada por estelionato contra várias vítimas na Ilha  do Boi e outras cidades do ES
Jhose Campos Alves, de 45 anos, denunciada por estelionato contra várias vítimas na Ilha do Boi. (Arquivo pessoal/redes sociais)

Outras vítimas

Nas redes sociais de A Gazeta há vários comentários relatando outros possíveis golpes praticados por Jhose envolvendo compra de sapatos, semijoias, roupas e até o não pagamento de salários aos funcionários.

“Trabalhei para ela alguns meses e ainda ficou me devendo meu salário. Até hoje não me pagou”, informou um leitor.

“Pegou 30 calçados de uma loja que eu tenho parceria e não pagava nunca. Até que um dia combinei de ir na casa dela e peguei todos os pares de volta”, relatou outra pessoa.

“Me roubou R$ 20 mil em sapatos com cheques”, acrescentou outra.

A orientação para as vítimas que tenham reconhecido Jhose por fotos ou pelo nome é de que procurem a Delegacia do 3º Distrito - Praia do Canto, em Vitória. “Para registrarem um boletim de ocorrência de forma on-line para que possamos investigar”, afirmou o delegado Diego Bermond.

Além disso, existe uma investigação em andamento por meio do 7º Distrito Policial de Vila Velha que apura possíveis crimes cometidos pela acusada na época em que morava no bairro Ponta da Fruta, em Vila Velha.

Roupas caras

Um levantamento no site da Justiça estadual revela que tramitam contra Jhose pelo menos 35 processos nas áreas cível e criminal, em cidades variadas. Alguns já contam com decisão dos juízes, inclusive determinando o pagamento de valores que totalizam cerca de R$ 400 mil.

Um deles relata o período em que ela morava na Ponta da Fruta e que a vítima aponta ter tido um prejuízo de R$ 344 mil, identificado em maio de 2023. Jhose é acusada de usar o cartão de crédito da vítima para a compra de roupas de marca – como Animale –, além de fazer retiradas em pix para sua conta.

Em outro processo, de 2019, ela teria proposto assessoria para registro de marca a uma cervejaria de Domingos Martins e recebeu R$ 2,8 mil pelos serviços que não foram prestados. A dívida atualizada está em torno de R$ 3,7 mil. Nesse caso, já há condenação para o pagamento do valor.

Outro caso de 2019 também envolve o suposto registro de marcas – neste caso, de produtos de café – que nunca ocorreu. O processo em fase de execução aponta dívida de R$ 15.247,27, que, atualizada segundo o que propõe decisão judicial, já se aproxima dos R$ 21 mil.

Jhose Campos Alves, de 45 anos, denunciada por estelionato contra várias vítimas na Ilha do Boi e outras cidades do ES(Arquivo pessoal/redes sociais)

O que diz a defesa

Nas redes sociais, Jhose se apresentava com outro nome: Josi Grand ou Josi Grand Buaiz. Segundo o advogado de defesa, Marcos Giovani Correa Felix, o perfil em suas redes foi criado por um funcionário dela. “Na brincadeira ele utilizou um nome e, posteriormente, ela tentou mudar, mas as redes sociais exigem um prazo para a troca, o que acabou não acontecendo”, diz o advogado.

Felix informou que, em um primeiro momento, sua estratégia foi tentar reverter a prisão, informando à Justiça que sua cliente tem problemas de saúde e precisa de acompanhamento médico.

“Ela é diabética, fez bariátrica, tem problemas de coração e de pressão alta. No presídio, ela já teve três episódios de crises de hipertensão. Também sofre com problemas na coluna e toma remédios controlados. Precisa de atenção para a sua saúde. E como foi mantida presa, solicitei ao juiz que o presídio comprove que ela está recebendo o atendimento médico adequado”, relata.

Em paralelo, ele destaca que o processo está no início e que vai apresentar as argumentações em defesa de Jhose. “Em conversa com a família, identificamos que ela sofre de uma patologia, a oniomania, que é uma compulsão obsessiva por compras. Chegam a se igualar a uma dependência química por drogas e álcool”, aponta.

Segundo o advogado, ela já iniciou tratamento com psiquiatra, que foi paralisado, e que no momento da prisão estava com consultas agendadas. Na avaliação dele, as ações praticadas por Jhose não podem ser consideradas estelionatos.

“A conduta dela se amolda melhor ao desacordo comercial. Estelionato é quando a pessoa engana a vítima, mas a Jhose compra, paga uma entrada, algumas parcelas e não consegue terminar de pagar. É um desacordo comercial”, observa Felix.

Ele destaca ainda que as supostas vítimas de Jhose não fizeram consulta de crédito, levantamento de CPF, um contrato de compra e venda. “As pessoas vendem por confiança. Ela consegue satisfazer a compulsão dela e, depois, não consegue pagar. É um desacordo comercial”, assinala.

Lembra ainda que o processo está no início e que pode ser rejeitado, arquivado ou até vir a ter uma desclassificação de conduta.

Em relação ao processo de R$ 344 mil, o advogado relata que ainda está no início e que Jhose possui comprovantes de que mantinha um relacionamento com a vítima, que a presenteou com as roupas. “E se arrependeu posteriormente”, afirma.

Em relação aos demais processos, envolvendo marcas e patentes, o advogado destaca que, por motivos variados, algumas marcas não puderam ser registradas. “E as pessoas querem a devolução do recurso”, diz, assinalando que, em meio aos processos, há aqueles em que Jhose foi vítima. “Em um deles, ela foi vítima e a Justiça condenou uma rede social a pagar uma indenização para ela".

Polícia prende suspeita de estelionato em mansão na Ilha do Boi(Divulgação | Polícia Civil )

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