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Falso consórcio: grupo se passava por credenciado da Caixa em golpes no ES

Falso consórcio: grupo se passava por credenciado da Caixa em golpes no ES

A encenação convencia as vítimas de que se tratava de um atendimento oficial do banco, mas tudo fazia parte de um esquema e os prejuízos já ultrapassam R$ 450 mil

Publicado em 12 de maio de 2025 às 18:52

 - Atualizado há 10 dias

Os vídeos mostram o material utilizado pela quadrilha, como armas, munição, e material falsificado de bancos.

Com crachás, panfletos e até uma maquininha com a marca da Caixa Econômica Federal, uma quadrilha montou um falso escritório em bairro nobre de Vitória para aplicar golpes com promessas de contemplação imediata em consórcios imobiliários. A encenação convencia as vítimas de que se tratava de um atendimento oficial do banco, mas tudo fazia parte de um esquema e os prejuízos já ultrapassam R$ 450 mil. 

grupo se passava por credenciado da Caixa
Grupo se passava por credenciado da Caixa Crédito: Divulgação | Sesp

Segundo a Polícia Civil, o grupo atuava a partir de um box corporativo, alugado por R$ 4 mil, na Enseada do Suá, onde mantinha a estrutura para enganar as vítimas. A investigação começou após uma vítima denunciar um golpe de R$ 60 mil. Com base nesse caso, a polícia identificou ao menos outras duas vítimas. Outras ocorrências, inclusive fora do Estado, são investigadas.

PCES prende líder de golpe em consórcios com prejuízo de R$ 400 mil
Antony de Oliveira Braz Amorim, de 28 anos, foi preso preventivamente pela polícia e era o líder da quadrilha Crédito: Divulgação | Polícia Civil

O líder do esquema, Antony de Oliveira Braz Amorim, de 28 anos, foi preso preventivamente no dia 24 de abril. Durante os mandados de busca e apreensão, a polícia encontrou material de escritório, documentos, panfletos, além de uma pistola Glock 9mm, oito carregadores e 314 munições — itens que ampliaram a suspeita de envolvimento do grupo com outros crimes, como venda ilegal de arma de fogo.

Entenda o golpe

A quadrilha clonava anúncios reais de imóveis em plataformas de vendas de imóveis. Quando uma vítima demonstrava interesse, era direcionada ao suposto escritório. Lá, o golpista se apresentava como correspondente da Caixa Econômica Federal e oferecia uma falsa proposta de consórcio com contemplação rápida.

O pagamento inicial era feito em nome de empresas de fachada, registradas em nome de comparsas. Após o recebimento dos valores — geralmente altos, como R$ 20 mil ou R$ 40 mil — o grupo cortava contato com a vítima. “Eles diziam que entregariam uma carta de contemplação logo após o sinal, mas, quando a cobrança aumentava, bloqueavam o número da pessoa”, explicou o delegado Diego Bermond.

PCES prende líder de golpe em consórcios com prejuízo de R$ 400 mil por Divulgação | Polícia Civil

A investigação revelou que a esposa do preso atuava ativamente no esquema: além de ser sócia em uma das empresas usadas, também se passava por secretária no atendimento às vítimas. 

Indiciamentos

Wender, Hudson e Gessica faziam parte da associação criminosa e foram indiciados
Wender, Hudson e Gessica faziam parte da associação criminosa e foram indiciados Crédito: Divulgação | Sesp

Antony Braz foi indiciado por: 

  • Estelionato (três vezes);
  • Associação criminosa;
  • Posse ilegal de acessórios de arma de fogo de uso restrito.

Gessica Bermudes Sopoletto (esposa de Antony), também foi indiciada por: 

  • Estelionato (duas vezes);
  • Posse ilegal de acessórios de arma de fogo de uso restrito.

Wendel e Hudson foram indiciados por: 

  • Estelionato; 
  • Associação criminosa.

Os dois comparsas (Wendel e Hudson) e a esposa de Antony seguem respondendo o processo em liberdade, segundo a Polícia Civil. A reportagem tenta contato com a defesa de Antony e o espaço segue aberto para manifestação.

A Caixa Econômica Federal informou nesta terça-feira (13) que "atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que combatem fraudes e golpes. Tais informações são consideradas sigilosas e repassadas exclusivamente à Polícia Federal e demais autoridades competentes, para análise e investigação".

Vida de luxo com dinheiro de vítimas

O casal vivia em uma casa de três andares no bairro Vale Encantado, em Vila Velha, e sustentava que o negócio era “legalizado”. No entanto, segundo a Polícia Civil, tudo fazia parte de uma encenação para convencer as vítimas. Há indícios de que Antony e Gessica mantinham uma rotina de ostentação nas redes sociais e teriam promovido uma festa de aniversário para o filho com um gasto estimado de R$ 200 mil.

“Obviamente a gente não tem como comprovar isso, mas a Polícia Civil tem a convicção que foi com dinheiro das vítimas que eles aplicaram os golpes", afirmou o delegado. 

Além disso, Polícia Civil acredita que o número de vítimas pode ser bem maior. “Temos certeza de que há outras pessoas que caíram nesse golpe. A divulgação é essencial para que essas vítimas nos procurem”, afirmou o delegado. Antony também é investigado em outros dois procedimentos em São Paulo e em um caso da Delegacia de Defraudações (Defa), por golpe semelhante de R$ 232 mil.

"Ambiente profissional"

Uma das vítimas do golpe, que preferiu não ser identificada, contou ao repórter Daniel Marçal, da TV Gazeta, que perdeu R$ 25 mil após procurar por um imóvel mais espaçoso para a família em 2022.“O ambiente era todo montado para parecer legítimo. Ele usava crachá, a sala tinha televisão rodando imagens do banco, panfletos, tudo dava a impressão de que era algo oficial”, relatou.

Segundo ela, o homem se apresentou como correspondente da Caixa Econômica e ofereceu a possibilidade de aquisição de um imóvel, com preço abaixo do valor de mercado. Como alternativa para facilitar o pagamento, foi oferecido um consórcio com promessa de contemplação antecipada. “Quem não quer ser contemplado logo? Acreditei. Fiz o consórcio e no dia seguinte já realizei os pagamentos via Pix. Saí dali acreditando que estava tudo certo”, contou.

A vítima só começou a desconfiar no dia seguinte, quando tentou entrar em contato novamente com os golpistas. “Fui atrás para tentar cancelar, falar de desistência e não fui mais atendida. Tive medo até de insistir muito e sofrer algum tipo de retaliação”, afirmou.  

Mesmo com o prejuízo, ela afirmou que o desfecho da investigação e a prisão do principal suspeito trouxeram certo alívio. “O sentimento é de que, pelo menos, a justiça começou a ser feita. Dá esperança. Eu só quero alertar outras pessoas para pesquisarem, não fechem negócio no impulso e sempre desconfiem", finalizou.

Confira a nota completa da Caixa Econômica Federal

"A Caixa informa que atua conjuntamente com os órgãos de segurança pública nas investigações e operações que combatem fraudes e golpes. Tais informações são consideradas sigilosas e repassadas exclusivamente à Polícia Federal e demais autoridades competentes, para análise e investigação. 

O banco aperfeiçoa, continuamente, os critérios de segurança em movimentações financeiras, acompanhando as melhores práticas de mercado e as evoluções necessárias ao observar a maneira de operar de fraudadores e golpistas. 

Adicionalmente, a Caixa ressalta que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar casos suspeitos. E a instituição também esclarece que possui estratégias, políticas e procedimentos de segurança para a proteção dos dados e operações de seus clientes e dispõe de tecnologias e equipes especializadas para garantir segurança aos seus processos e canais de atendimento".

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