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ES registra 35 medidas protetivas por dia em 2023, 22% a mais que em 2022

ES registra 35 medidas protetivas por dia em 2023, 22% a mais que em 2022

Em meio à escalada de casos de violência contra a mulher, de janeiro a abril deste ano foram 4218 registros, segundo o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES)

Publicado em 25 de maio de 2023 às 11:02

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Mulher mostra o símbolo que denuncia situação de violência contra ela
Mulher mostra o símbolo que denuncia situação de violência contra ela. (Rede Brasil Atual)

A escalada dos casos de violência contra a mulher no Espírito Santo tem refletido no aumento do número de medidas protetivas concedidas pela Justiça e também no registro de casos de feminicídio. Nos quatro primeiros meses de 2023, 4.218 medidas protetivas foram concedidas a vítimas de violência, uma média de 1.054 por mês e 35 por dia.

Os dados do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) mostram que o número é 22% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, quando foram registradas 3.455 medidas protetivas, o que corresponde a 863 casos por mês e 28 por dia.

Mais de 30 mulheres mortas, sendo 10 vítimas de feminicídio

Dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) mostram que 31 mulheres foram assassinadas no Espírito Santo até o final de abril e dez foram vítimas de feminicídio, ou seja, perderam a vida por serem mulheres. Em todo o ano passado, foram registrados 91 assassinatos, sendo 31 feminicídios.

Ainda de acordo com o levantamento da Sesp, o domingo foi o dia da semana este ano em que mais mulheres foram assassinadas no estado seguido da quarta-feira. Além disso, 46% dos casos foram registrados na Grande Vitória, enquanto que 26% na Região Noroeste, e 13% no Norte do Espírito Santo.

Só no mês de abril foram registrados seis feminicídios. Um dos casos envolve o ex-vice-prefeito de Ibitirama, no Caparaó Capixaba, Celio Martins Morales, de 59 anos. Ele foi preso pelo assassinato da esposa, Vanuza Spala de Almeida, de 41 anos, e chegou a dizer que a mulher tinha tirado a própria vida, hipótese descartada pela Polícia Civil durante as investigações.

Vanessa Spala de Almeida, de 39 anos, disse que a irmã era amedrontada pelo cunhado e também sonhava em ser mãe, mas o marido não compactuava do mesmo desejo.

Alguns casos recentes como o assassinato da jovem Ana Carolina Rocha Kurt, de 24 anos, morta a facadas no apartamento onde morava com o namorado no Centro de Vitória, e Dara Santos, de 27 anos, morta a tiros pelo ex-companheiro dez dias após a separação, ainda não foram contabilizados no levantamento da secretaria.

Relembre alguns casos recentes

Pastora morta a facadas pelo marido pastor

No dia 3 de maio, a pastora Maria Sônia Pereira, de 48 anos, foi morta a facadas pelo marido, Wallace Sepulcro de Almeida Santos, de 36 anos, em Sooretama, no Norte do Espírito Santo. O homem confessou o crime. De acordo com moradores, o casal liderava uma igreja evangélica na região e o pastor foi afastado das funções pela esposa devido ao uso de drogas.

Assassinada pelo ex 10 dias após separação

Dara Santos, de 27 anos, foi morta a tiros no meio da rua pelo ex-marido, no bairro Cidade Nova, em Marataízes, na Região Sul do Espírito Santo, no dia 10 de maio. Alcimar Souza, de 24 anos, foi preso na casa da mãe e disse aos policiais que cometeu o crime porque ele e Dara estavam separados há cerca de dez dias e ela já estaria em outro relacionamento.

Namorado preso por matar namorada a facadas

Ana Carolina Rocha Kurth, 24 anos, foi morta a facadas dentro de um apartamento no 10º andar de um prédio na Rua Gama Rosa, no Centro de Vitória, no dia 15 de maio. Matheus Stein Pinheiro, namorado de Ana Carolina, foi preso e é apontado como principal suspeito do crime. Raffaella Aguiar, chefe da Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM) que investiga o assassinato da jovem disse que o universitário tem um perfil machista e possessivo.

Câmeras de segurança flagraram o jovem fugindo após o crime e o pai dele arrombando a porta do apartamento onde o casal morava e encontrando a nora morta.

Análise dessa triste realidade

Para a professora Brunela Vicenzi, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), apesar de as diferenças entre autores e vítimas, os casos registrados no estado, principalmente os feminicídios recentes, têm em comum a ideia de que a mulher não pode pertencer a mais ninguém.

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A gente tem visto pessoas diferentes, de diferentes etnias e idades, mas uma coisa que liga essas pessoas é uma ideia, ao que me parece, muito de ódio ao ser mulher. Tanto em Marataízes como agora no Centro de Vitória, o local de violência foi o rosto da mulher. Então isso, nos estudos sobre violência de gênero, traz a ideia de que aquele corpo não pode mais pertencer a ninguém. Aquela beleza é só minha. É uma coisa que a gente observa nos casos

Brunela Vicenzi
Professora
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Do ponto de vista histórico, a estudiosa também disse que tamanha violência contra as mulheres pode estar ligada ao patriarcalismo.

"Acredito que o nosso estado é muito patriarcal. É uma cultura que se desenvolve desde a primeira ocupação, mas principalmente com a migração europeia que veio com essa ideia de que o homem é o chefe da família, e esse patriarcado vem se adaptando aos novos tempos e se manifesta por meio da violência, como quando a mulher foi para o mercado de trabalho nos anos 1970 e agora com a mulher podendo se expor nas redes sociais.

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Não dando às vezes conta de que a mulher tem o salário igual ou maior que o homem, a mulher tem a mesma voz que o homem nos lugares fechados, abertos, públicos e privados. O patriarcado precisa se expressar de outra forma e aí a forma que ele encontra é a violência, mesmo que depois leve à prisão, mas precisa externar essa ideologia que está muito presente na cultura capixaba

Brunela Vicenzi
Professora
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*Com informações do g1ES

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