Publicado em 29 de outubro de 2019 às 15:09
Deitado numa cama sem os movimentos dos braços, troncos e pernas ele gerenciava o tráfico de drogas na Região Serrana do Espírito Santo, por telefone. A prisão de Ciro Batista de Oliveira, o Siri, na última quarta-feira (23), em Cariacica, levantou uma curiosidade: Afinal, como funciona o dia a dia de um tetraplégico dentro da prisão? Para esclarecer isso, A Gazeta conversou com fontes de dentro das unidades prisionais, que explicaram como é a rotina de detentos com deficiências que impedem a locomoção.>
As fontes consultadas pela reportagem são funcionárias de unidades prisionais e, por questões de segurança, não serão identificadas na matéria. >
Se ao entrar em um presídio a maioria dos detentos procura unir-se com outros internos como uma forma de proteção, no caso dos deficientes essa necessidade é ainda maior. Quando há um preso com deficiência de locomoção, como paraplégicos ou tetraplégicos, são os próprios colegas de cela que organizam quem fica responsável por ele e como cada um pode ajudar. >
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Inspetor PenitenciárioPara locomoção do preso da cela para as salas da área da saúde ou para o banho de sol, os detentos paraplégicos, tetraplégicos ou com outra dificuldade de locomoção contam com suporte de cadeiras de rodas, que são doadas para as unidades ou compradas pela própria família do detento. >
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"Já existem algumas cadeiras antigas nas unidades que chegaram por doações. Muitas vezes é a própria família do preso que compra a cadeira. Os presos com deficiência podem ir para o banho de sol, normalmente, contando com a ajuda de outro interno para se locomover. Eles também contam com essa ajuda para serem levados até uma sala de saúde para tomar banho e trocar curativos e fraldas", conta um dos funcionários. >
No Centro de Detenção Provisória (CDP) de Viana 2 , por exemplo, Esperidião Carlos Frasson, de 73 anos, preso por ter participação na morte da médica Milena Gottardi, é responsável por um detento cadeirante, de acordo com um inspetor da unidade. O funcionário não soube dizer quem é e qual pena cumpre o preso que não pode se locomover, mas contou que Esperidião ficou com a responsabilidade de ajudá-lo dentro da cadeia. >
Procurada para explicar oficialmente como funciona a rotina dos presos com deficiência, a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) limitou-se a informar que as unidades prisionais oferecem cuidados especiais a esses detentos. >
O que a reportagem perguntou à Sejus: Como é a rotina de presos tetraplégicos nas unidades do ES? Eles possuem cela especial? Ficam acamados? Participam do banho de sol? Se sim, como são locomovidos? Existe um funcionário específico para cuidar desse tipo de detento? Eles são locomovidos em cadeiras de rodas, macas ou algum tipo de carrinho?>
Por nota, a Sejus respondeu que "presos que necessitam de cuidados especiais passam por uma avaliação da equipe de saúde prisional e, quando necessário, devem ficar sob assistência médica 24 horas, até que o Poder Judiciário decida sobre a sua permanência no presídio".>
De acordo com a Polícia Civil, Ciro Batista de Oliveira, o Siri, esteve envolvido no fornecimento de entorpecentes para pelo menos 35 pessoas que foram presas na cidade no último ano. Ele era o responsável por encomendar drogas, aliciar pessoas para o tráfico e enviá-las até a região serrana para comercializar crack, maconha e cocaína.>
A polícia contou que Siri conseguia a mercadoria em Cariacica, aliciava pessoas para levar a droga até Santa Maria, pagava o transporte e, quando tinha festa na cidade, alugava o imóvel para que elas se hospedassem lá. Ele também pagava pessoas em Santa Maria para receber e comercializar a droga na região e até advogado para quem era preso.>
O traficante dava todas as instruções no conforto de casa, em Cariacica, onde ele morava com o filho, 21 anos e outros homens, que ajudavam a cuidar dele. O local, segundo a polícia, tinha um forte esquema de segurança, era cercado por câmeras, grades e um muro bem alto.>
Ciro foi preso por tráfico de drogas por meio de um pedido de prisão preventiva. Por ser tetraplégico, foi utilizada uma ambulância para encaminhá-lo ao presídio. As outras pessoas que estavam na casa do traficante foram ouvidas pela polícia e liberadas.>
Indagada sobre como está o traficante na prisão, a Sejus respondeu apenas que "ele permanece preso no Centro de Detenção Provisória de Viana 2 em uma cela comum e recebe cuidados especiais referentes ao seu quadro". >
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